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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Relance- Gente da minha vida- O Sr.Zé Rato

Relance – Gente da minha vida – O Sr. Zé Rato 



Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais.Bob Marley




Morava na Terra de Ordem. Um lugar escondido entre pinhais, coisa que infelizmente já não existe. O progresso desventrou todos os lugares de silêncio e natureza...

Era uma personagem destemida. Dava uns passos muito largos e desajeitados. Usava umas tamancas que eram uma espécie de botas, mas tinham o rasto de pau, bem grosso. Andava sempre feliz e bem-disposta. Eufórico, pois sentia que era alguém super importante! Tinha a ideia que era o Presidente de todas as associações importantes locais. Ia repetindo:

 - Eu sou o Presidente da Câmara! Comandante da Guarda Republicana! Presidente do Rancho! Presidente do Grémio! Presidente do Hospital! Eu sou o Presidente de tudo!

A alegria do cargo de ser presidente, dava-lhe força para viver. Era essa ilusão que o tornava diferente!

Era conhecido pelo Zé Rato.

Estava sempre preocupado com o bem-estar das populações. 

Quando o cruzavam, choviam pedidos de ajuda.

Não havia luz eléctrica nas casas, muito menos na rua!
Nas noite de luar, era uma maravilha vir à rua, enquanto ralos, grilos e outros animais da noite, traziam no ar a magia dos sons harmoniosos. Pacificadores.
Não havia os mortíferos pesticidas que hoje dizima passarinhos e todos os outros pobres bichos indefesos e tornam o Planeta Terra triste.

Quando a luz do sol se escondia, nos casebres, tremeluzia a luz da candeia, esgueirada pelas frinchas ou pelo estreito janelo da cozinha, enquanto a fogueira na lareira térrea, ardia no chão, alimentada com pinhas e gravetos, apanhados nos pinhais dos vizinhos, que não se importavam, nem tomavam como abuso.

Na panela quase vazia, fervia o caldo que se comia com boroa e meia sardinha, para cada um dos oito e mais filhos, sentados num tosco banco de pau, à volta das panelas pretas  e desgastadas.

Nas casas mais ricas, já havia o candeeiro a petróleo. Era preciso lavar a frágil chaminé todos os dias. Ter o cuidado de encher de petróleo o candeeiro. Se o sol se escondia, sem fazer essa tarefa, ficava difícil.
Mais tarde, o candeeiro a petróleo chegou aos mais pobres. Os outros, entretanto, já tinham os gasómetro de uma luz vivíssima, mas com cheiro a carboneto. A seguir veio o petromax, o que era um luxo!

Então quando o Zé Rato passava, as pessoas bombardeavam-no, com pedidos: Ele a todos ouvia e respondia com toda a seriedade e sua convicção de homem poderoso!

Era pródigo em promessas, a quem lhe solicitava ajuda…As pessoas riam, mas no fundo, ele ia alimentando a esperança daquelas pobres gentes.

Nisso, ele antecipava-se ao comportamento dos políticos visionários ou premeditados mafiosos, de todos os tempos. Tinha sempre uma solução para os casos mais difíceis.

“- Então Zé, quando é que trazes a luz, cá para terra?”

- “Já estou a tratar disso”. Respondia convicto, optimista.

- Então e água canalizada, Zé? Ainda ontem, a Ti Ana caiu no poço. Foi uma aflição. Ia lá morrendo afogada.

- Isso também já está a ser tratado!

E a esperança caminhava animada, de mão dada com a impotência de um pobre homem, vivendo na mais pura ilusão.

Um dia, na cabeça dos espertos, menos escrupulosos e mais loucos do que o pobre homem, maquinaram gozar o Zé Rato. Tentaram pregar-lhe uma partida.
Como ele dizia que não tinha temor de nada. Enfrentava toda a gente destemidamente, íamos ver desta vez, como reagiria…

Ora, acreditava-se que as bruxas faziam piscar pequenas luzinhas enquanto dançavam nas encruzilhadas. O Diabo aparecia para as proteger, à meia-noite. Toda a gente receava por isso, passar nesses lugares a essa hora.

O Zé Rato indiferente a essas crenças, passava a qualquer hora. As pessoas sabiam. Embora não o confessassem, admiravam a sua coragem.

Um desses astutos maldosos , mobilizou outros camaradas e tentou intimidar o Zé Rato. Fizeram lhe saber, que o Diabo um dia destes, ia aparecer-lhe na encruzilhada, quando ele fosse a passar. Tinha que ter cuidado.

Assim foi. Dois ou três ousados palermas, enrolados em lençóis brancos luzindo na noite de lua cheia, aparecerem de repente na encruzilhada, para atemorizar o Zé Rato e assim, nessa inesperada espera,  se divertirem com o susto do pobre homem.

Então ele passou à pressa sem reagir. Foi a casa buscar uma afiada gadanha e gritando em voz alta, dirigiu-se destemidamente, para junto dos fantasmas que se moviam com sons estranhos, ecoando na calada da noite…

- "Eu não tenho medo do Diabo! Eu mato o Diabo! Vou já espetá-lo com esta gadanha para ver quem é mais forte"!

Aflitos. Em grande perigo, os “diabos e bruxas”tiveram que fugir à pressa, a fim de que a brincadeira não acabasse mal e os seus corpos não ficassem espetados, permanecendo estatelados esvaindo em sangue, na encruzilhada fatídica.

Foi grande o gozo, ao outro dia, ao saberem o que se passou.

 Toda a gente da zona, comentando a esperteza saloia daqueles patetas mais tolos do que o Zé Rato, passaram com carinho, a admirar um pouco mais o herói!

O Zé Rato quase ia sendo levado em ombros.
De facto, ele demonstrara ser o Presidente da coragem e do sonho!

Independente e ocupado com uma realidade carente de soluções para todos, ainda que fosse só em imaginação, dentro de si, louco ou não, animava a miséria e a tristeza de seus vizinhos !


 img.net
Normalmente, são tão poucas as diferenças de homem para homem que não há motivo nenhum para sermos vaidosos.Barão de Montesquieu

…e desrespeitosos, gozando com a fraqueza dos outros…acrescentaria eu
Lucinda Ferreira
C.ª 23.8.16


domingo, 14 de agosto de 2016

Relance - Gente da minha vida (3)

Textos e pretextos
img net

Relance - Gente da minha vida




A pureza de coração é inseparável da simplicidade e da humildade; ela exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho.. Allan Kardec














Vivia na Moendinha - S Miguel – Vila nova de Poiares, uma personagem inesquecível. Era o Senhor Fernando da Mata!

Eu era criança e ao vê-lo, de barbas muito compridas. Descalço. Mal vestido, surpreendia-me sempre pela diferença. Não me recordo se pedia esmola, mas era alguém muito desprendido.

Falava pouco e em voz baixa. Pausadamente. Ainda tenho o timbre da sua voz nos meus ouvidos de criança. Lembro-me que ele tinha um olhar muito profundo. Conhecia a Bíblia e evocava passagens da mesma, muito contundentes, quando isso se adaptava a condições irregulares, tal como o fizera Jesus Cristo.

As pessoas de bem, respeitavam-no, embora alguns mais atrevidos, achassem que ele era doidinho. Uma daquelas figuras que existia nas aldeias, por quem se tinha algum carinho, como uma figura pública do lugar, mas de quem se ria, se fosse preciso, não se levando muito a sério, pois o que ele dizia …Incomodava!

Era uma espécie de profeta. Falava muito de Deus, a Quem temia. Descalço, como Jesus. Não sei se por sua convicção, se por dificuldades. De Verão ou Inverno, trazia sempre um chapéu preto de tecido, de abas largas, velho e gasto, do muito uso. Vestia sempre a mesma roupa, como um hábito, desbotado e puído.

Meu Pai, nessa altura, tinha um negócio, onde parava o Senhor Fernando da Mata…Era alguém que me recordo, ser muito respeitado, pelo meu Pai e empregados.

Falava muito de Deus. A sua postura era de alguém interiorizado. Pensativo. Temente a Deus. Criticava suavemente os desvarios e os exageros da época. Não poupava reparos dos erros dos políticos e a ele a PIDE não punia, porque era maluquinho (?…). 

Algumas pessoas gostavam de o ouvir, mas acabavam por ter medo do que ele dizia os poder atingir ou, não viesse algum bufo acusar, e até levar preso, quem assim o escutava com interesse e respeito.

Lembrei-me deste bondoso homem, nesta problemática triste. Miserável e horrível em que os pobres perdem tudo e até a vida, nos incêndios que devastam o meu País, depois de ter lido uma notícia pública (!!! ) que fala de arranjos. Negociatas de empresas, sob a capa de prestação de um serviço que vai esgotar o pouco que resta de  Portugal. Gasta-se  com estas desgraças urgentes o que temos e não temos, quando isso podia ser resolvido rápida e eficazmente pela FAP.

A Força Aérea Portuguesa foi posta de parte, num caso em que seria operante. Imediata. Barata e em que se evitava tanta perda. Sofrimento de todos nós!

Isto não o inventei. Até me dói falar neste assunto. Está aí on line. Nos jornais, com todas as letras bem explicado, com nomes e factos. Não podemos ignorar mais!

Acho que o mal avança, porque as pessoas não se mexem para fazer algo que mude todos estes arranjinhos , conforme se diz. Precisamos proteger o País dos filhos. Netos e vindouros.

Têm que ser postas no lugar, com as correcções necessárias, estas situações que vão trazer toda a espécie de desgraça, aos que não têm culpa de decisões manhosas. Interesseiras e outros nomes feios que não gosto de dizer, mas é urgente corrigir!

Miséria. Penúria. Doenças respiratórias e não só, nascem destas florestas queimadas, que não vão segurar futuras enxurradas. Tudo se desequilibra. Desmorona. Cria o caos, como bola de neve.

Querem saber, o que dizia o Senhor Fernando da Mata, em casos semelhantes, e que meu Pai recordava e eu ainda me lembro......
“ Sabe, Senhor Ferreira, os maus é que estão bem. Não temem a Deus, os desonrados, os bandidos, sem amor à Pátria, nem a ninguém, senão ao dinheiro e ao poder, não temem nada!
Fazem todas as maldades e coisas vergonhosas . Safam-se sempre! Matam e esfolam e estão sempre bem, porque o seu amigo que os comanda, é o Diabo! Deus nos defenda dessa raça maldita!”

E depois das profecias deste santo homem, que não fazia mal a ninguém, que mais se pode acrescentar?
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Dedico à memória do senhor Fernando da Mata, este pequeno texto:

Sou lúcidamente insano, malucamente calmo.
Sou lágrima, sou sorriso.
Pureza e pecado.
Sou silêncio contido, palavras abstractas.
Sou eterno no amor e efêmero na mágoa.
Sou tudo ou nada!
Daltri Barros

Lucinda Ferreira
14.8.16

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Os meus textos estão registados e protegidos.

 Nota:

Todos os meus textos são minha criação e encontram-se registados. Protegidos por lei.
Obrigada por respeitar o meu trabalho. 

Relance - Gente da minha vida...O beijo

Textos e Pretextos



Relance – Gente da minha vida…






                             img net



Relance – O beijo!




Ele era elegante. Simpático. Charmoso.
Era um dos participantes de um concurso de Golf, integrado num grupo Escocês, soube-se depois…

Anualmente, aqui se reuniam figuras marcantes, dos mais variados países.

Realizava-se num local distinto, o encontro final, rematado por um elegante baile.

Ela era uma mulher considerada interessante. Simples. Sensível. Culta e inteligente.
Quis o acaso, que naquele momento estivesse naquele ambiente. Fora a convite de alguém amigo, que habitualmente se enquadrava naquele mundo.

Entrou. Sentaram-se a uma mesa. Discretamente, estava contudo atenta ao que se passava.
Entraram muitas pessoas, ligadas ao concorrido evento com honras nacionais.

A certa altura, entrou alguém diferente. Especial. Trazendo em si, segredos de estrelas. Roteiros de caminhos não andados…

Mal se olharam, entre o homem elegante e a personagem sentada à mesa, houve qualquer coisa inexplicável que ficou no ar… Despoletou-se uma energia estranha. Nova. Agradável para ambos. Uma faísca que atraía aqueles dois seres, sem se perceber a razão.

A tal coisa: o coração tem razões que a razão desconhece.

Os olhares, cruzados naquele primeiro flash, iluminaram todo o salão. Encandearam-se. Ligados sem apelo, furavam todos os presentes, como um raio invisível, só ele conhecendo o seu destino último, mas nunca mais parou!

A orquestra lançou no ar os primeiros acordes. O cavalheiro, deixou os amigos. Atravessou a sala. Veio convidar a senhora para dançar.

Embora sendo um desconhecido, como podia ela declinar tal convite, se dentro do seu coração ardia a mesma chama que o fizera chegar até ela?

Ambos tremiam. Aperceberam-se disso os dois Não precisavam falar. Sentiam-se mutuamente. O corpo por vezes, trai o que não se quer deixar transparecer...

O festejo no seu grupo, a comemoração da vitória e do encontro, passava pela partilha de bebidas e aperitivos. O cavalheiro convidou a senhora a para sua mesa, a fim de participar da sua alegria e dos amigos. Comungar da sua vitória. Não falaram muito, pois não era necessário. Havia delicadeza. Uma magia estranha e particular naquele encontro inesperado. Sentiam um contentamento desconhecido em estar juntos.

Dançaram de novo. Um enlevo prazeroso, como se fora o remate de uma longa relação, feita de coisas simples e verdadeiras, estava presente.

Por fim, veio o anúncio do comandante do clube, lembrando que o avião de partida era muito cedo, naquela madrugada. Tinham que descansar um pouco da jornada, pois fora um dia pleno de surpresas. Urgia partir.

O cavalheiro gentil tinha de ir embora!
De repente, meio tímido, meio ousado, na emergência que se viera desenhando interiormente, naquele curto espaço de tempo, pregou um beijo de fogo (…), na boca da senhora!

Fugiu de imediato para o elevador, como quem se defende, para não ficar preso em terra…
O perigo iminente era enorme (…).

Mas…se no seu país, a sua família e os companheiros, o aguardavam no aeroporto, cheios de alegria pela sua chegada, para comemorarem o triunfo e ele não podia faltar, o que poderia fazer?

Ainda que partamos em pedaços… 
A vida é feita de chegadas e partidas…
Recordei neste momento, a despedida dos amantes, no final do filme. Um parte no comboio, outro fica em terra... Tem a sua família à espera...Obra de Boris Pasternac, O Doutor Jivago..Lembram-se?

Lucinda Ferreira 
5 de Agosto 16

Relance...Gente da minha vida!


Textos e pretextos


RELANCE…

 “ O sucesso não vem quando tentamos ser perfeitos. Ele acontece quando tentamos ser melhores”
 
     (Fotos da minha autoria

Relance é uma pincelada rápida, como o espaço exige.

Pessoas que cruzei na minha vida. Impressionaram-me. Umas, por que sim. Outras, por que não…

Recordo hoje, alguém cuja mãe, única responsável pelo seu menino para quem trabalhava honesta e incansável, (…), não entendia. Não conseguia sequer acompanhar as capacidades do filho.
Mas a professora do ensino primário, como aliás eram quase todas na época, estava atenta. Reparou, que estava perante alguém que poderia ir muito longe. Falou com a mãe, que coitada, nada adiantou. Que fazer sozinha, em tempos tão difíceis? Ganhar para que o essencial não lhe faltasse. A comidinha era o que conseguia, pois muitas crianças nem isso tinham.

Mas Aquele que dá a inteligência. Guia os nossos passos, tomou conta daquele ser que viria a ser um grande Professor!
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Começou por se evidenciar, no modo como apreendia de imediato, as noções ministradas.
 Então a professora de matemática, chamou o para o seu lado.

Ele era o seu ajudante de eleição. O seu assistente. Poupava-lhe muito trabalho. Os colegas mais lentos e com algumas dificuldades, beneficiavam com essa ajuda, naturalmente. A ele, o jovem mestre, dava-lhe segurança e gosto pelo trabalho, o que era uma grande riqueza, que alguns meninos bem nascidos, nunca conheceram o sabor do entusiasmo e da alegria de ser vencedor com o seu esforço.

E assim continuou sem nunca parar.

Era bom em tudo! Licenciou-se num curso de Letras, na Universidade de Coimbra.
Teve cargos e participações diversas, em funções variadas, cuja missão era partilhar o saber.

Hoje, já avô e cordato marido, teve um outro privilégio…

Iniciou-se na Pintura, como autodidacta. Descobriu, na sua simplicidade e discrição, que é capaz de fazer maravilhas. O retrato é a sua especialidade.

E como a arte fala da abundância do mundo interior do artista, deu vida a um trabalho ousado: o retrato de JESUS CRISTO!

Tenho a sorte de possuir uma cópia desse quadro. Toca-me de tal maneira, que todas as noites, antes de adormecer, o olho com o amor que me inspira o Retratado, intenso e profundo. E...Deixo sempre um pensamento de admiração e gratidão para o artista.

Obrigada ao casal que muito estimo…
Feliz aquele que atravessou a vida ajudando o seu semelhante, que não conheceu o medo e se manteve alheio à agressividade e ao ressentimento! É dessa madeira que são esculpidas as figuras ideais, que consolam a Humanidade nas situações de sofrimento que ela própria criou. Einstein , Albert
Lucinda Ferreira

5 de Agosto de 2016...(Fotos da minha autoria)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

"Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma"…

TEXTOS E PRETEXTOS






"Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma"…

Grande verdade esta afirmação, aplicável em todos os campos, a começar pela nossa vida nas suas diferentes facetas.
Contudo, estar muito adiantado no tempo, é perigoso!

Por estas e por outras (…), há 219 anos, alguém foi guilhotinado com 50 anos de idade, embora por toda a transformação que causou na ciência, tivesse sido chamado de o"pai da química moderna".

Exactamente Antoine Laurent Lavoisier, nascido em 26 de Agosto de 1743, em Paris, filho de um próspero advogado. Ao contrário do que se esperava, passou a vida, contrariando o pensamento vindo da Antiguidade e fundamentando as suas experiências, que infelizmente não convenceram o seu executor.
Cientistas de toda a Europa enviaram uma petição para que Lavoisier fosse poupado, mas o presidente do tribunal, Jean-Baptiste Coffinhal, recusou e proferiu uma frase que ficou marcada nos livros de história: "A França não precisa de cientistas."Em 8 de Maio de 1794, aos 50 anos, Lavoisier foi condenado por traição e perdeu a cabeça na guilhotina. Seu corpo foi jogado em uma vala comum.

Esta introdução serve para dizer que talvez a originalidade deste meu texto não seja tão evidente assim, mas pela pertinência do seu alcance, arrisco e aí vai.

Só pela reflexão, crescemos interiormente!

E como as férias normalmente são em no mês de Agosto (… para quem tem a sorte de trabalhar, pois há muito boa gente que não tem trabalho e está sempre de férias), fica para o irem lendo e relendo este texto, se assim entenderem por bem...

Foi algo que descobri e que partilho convosco.

Há muita boa gente que, embora adultos, ainda morre de medo por tudo e por nada. Quando eram crianças não foram poupadas aos maiores sustos e ameaças. “Olha que se não comes tudo, o velho do saco, leva-te!”, Os guardas e os polícias vão te levar, se não fazes isto ou aquilo”. “Quando passarem os ciganos, eles levam te com eles para muito longe”. “Se tornas a dizer isso, ponho-te pimenta na língua”. E punham mesmo ou então como lhes diziam “Levas um enxerto de porrada” que as crianças até se urinavam todas, como acontecia ao Tojó, na minha escola primária, quando o "sarrafo" vermelho trabalhava demais, por ali à volta. As crianças eram “amorosamente” rotulados de “burros”, “estúpidos” …”Nunca hás-de ser nada na vida”. E não eram mesmo. Ficavam marcados até ao caixão…

Daí, que ainda hoje, inconscientemente, haja reacções de medo perante certas circunstâncias da vida.

Veja com alguém deu a “volta ao texto” e saiu em beleza, transformando as areias em pérolas. Talvez valha a pena reflectir. Experimentar.

Será que algo do que vem a seguir, tem a ver consigo?

·       Eu tinha medo de ficar só…Até que aprendi que a única pessoa que estará comigo em todos os momentos da minha vida, sou eu mesma”.
Na realidade, nascemos sozinhos. Morremos sozinhos. Não há cunhas. Nem arranjos. Nem fantasias. Nem vigarice alguma a que os espertos possam recorrer. A igualdade é total na condição humana. Ninguém escapa. Ricos. Pobres. Lindos. Feios. Bons. Maus. Mulheres. Homens. Jovens. Idosos. Todos!
·       Temia mudançasAté que percebi que as mudanças pelas quais tem que passar uma bela borboleta, antes de poder voar”.
Foi aquela lagarta feia, como uma minhoca, que permitiu que surgisse o belo insecto de asas coloridas que voa no céu imenso, espalhando beleza e encanto. (“A borboleta é considerada o símbolo da transformação. Entre outros, simboliza felicidade, beleza, inconstância, efemeridade da natureza. (…) Os estágios desse insecto (lagarta, crisálida e borboleta) significam respectivamente vida, morte).
·       Temia a escuridãoAté que aprendi e entendi, a importância de uma pequena estrela.”
Por vezes sonhamos. Aspiramos, Esperamos toda a vida por algo grandioso que nunca chegou, nem vai chegar! Foi isso que impediu de ver pequenas grandes coisas, super valiosas que desprezámos. Portanto na escuridão da caminhada, o brilho de uma “pequena estrela” é precioso. Pode anular o medo do “escuro” da vida. É preciso descobrir. Estar atento à sua “estrela”…
·       Temia ser ferido nos meus sentimentosAté que aprendi que ninguém me feria sem minha permissão.”
Aí está. A baixa auto estima. A dependência emocional dos outros. O querer agradar para ser aceite, por insegurança. O estar fora do seu eixo, descentrado. O estar virado para fora, em vez de saber que é dentro de si, que estão todas as soluções. A falta de investimento no auto conhecimento e outras atitudes referidas em artigos meus anteriores, explicam receios infundados, a banir com urgência.
·       Temia ficar velhoAté que compreendi que posso ganhar sabedoria em cada dia.”
Apesar de estarmos numa época cruel para os “maiores” (em espanhol, designação para idosos), todos beneficiam, ainda que não o queiram reconhecer, dessa Sabedoria feita de experiência, Sofrimento, para além dos saberes. Sabedoria, diferente de conhecimentos, é privilégio de quem já viveu muitos sois. É só ler a frase em epígrafe, de Lavoisier...
·       Temia o ridículoAté que aprendi a rir de mim mesmo.
Com uma educação rígida. Conceitos mal formulados que inculcam medo. Culpa. Ansiedade. Preocupação. Excesso de perfeccionismo, tornam a vida um inferno para nós sobretudo, e para os outros. Cultivar o humor. A graça. A leveza. Fazer um pequeno esforço para não levar muito a sério todas as coisas, é preciso. Não falo em irresponsabilidade nem inconsciência, bem entendido.
·       Temia as perdas e a morteAté que percebi que as perdas não representam o fim, mas o início de um novo ciclo.”
Em crianças, os mais velhos, nas aldeias, recordam certamente como o episódio da morte era valorizado. Muito temido. Sabemos muito pouco de tudo o que é mais importante. O mistério assusta cada um de nós. Há muitas teorias sobre esta passagem, mas só quando a experienciarmos, poderemos saber como é. No entanto, como todos sem excepção, a qualquer momento, podemos ser chamados, a garantia maior é semear o bem e estar em paz com Deus. Consigo mesmo. Com os outros, se possível e aguardar tranquilos com serenidade. O contrário de que adianta?
·       "Temia ficar sóAté que aprendi a gostar de mim mesmo."
Pode-se estar só na multidão. Estar só, acompanhado é muito vulgar. E pode-se ser muito feliz, estando sozinho, se gostarmos da nossa companhia. Contava-se que havia alguém que olhava para o espelho e dizia:” E olha que tu também me saíste uma boa rês”.Assim não dá. Não é egoísmo nem narcisismo, mas procurar conhecer-se melhor. Ter consigo mesmo um caso de amor, em que o respeito e a criança interior são tidos em conta, é necessário. Quem não se ama, nunca pode amar outro.
·       Temia fracassarAté que perceber que o único fracasso é desistir”.
Quando não conseguimos alcançar os objectivos, percebemos mais tarde que isso não era o melhor. A lição, essa guarda-se. Quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. O que não mata, fortalece! Pode-se ter um belo navio, mas não saber para onde ir, não leva a viagem alguma…
·       Temia o que as pessoas poderiam pensar de mim… Até que percebi que o que conta realmente, é o que eu penso de mim mesmo com consciência. Lucidez e humildade”.
As pessoas julgam com aquilo que são. Desconhecem o essencial que só o próprio conhece. Gostos não se discutem e ainda há as afinidades inexplicáveis. Cada cabeça cada sentença e isenção no julgamento é rara. Há muitos factores que influenciam esse acto, tingido de invejas. Preconceitos. Competição. É verdade que há pessoas que se crêem santas e as maiores; e outros que são carrascos para si próprios. Tudo isto são desvios a ter em conta.
·       Temia ser rejeitado…Até que descobri que devia ter fé em mim, pois sou o meu melhor companheiro”.
Aquele que nunca me abandona, sou eu mesmo. Se eu não me acusar a mim mesmo, que mais temerei. Tenho que ser fiel ao meu ideal? Isso sim!
·       Temia a dor...Até que percebi que o sofrimento só me ajuda a crescer e afasta de mim a arrogância”.
Custa? Sim sem dúvida. Mas quem é que não tem contrariedades? Dor? Seja ela de que natureza for? É por isso que a eutanásia não tem qualquer cabimento.
·       Temia a verdade… Até que descobri que a verdade é um espelho quebrado em mil pedacinhos. Ninguém é dono da verdade, pois não tem mais do que um caco dela.”


Olhe, houve Alguém muito especial, Esse sim, que disse: “Eu sou a verdade e a vida”E está tudo dito!
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Lucinda Ferreira
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