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domingo, 17 de janeiro de 2010

Sementes de Violência


Vai uma pequena reflexão sobre a temática da violência no casal.
Pode deixar o seu comentário.

Sementes de violência
( Parte I e Parte II)

“O campo da não violência é o coração do homem.” Vinoba
“A não violência é a mais firme qualidade da alma que se desenvolve com a prática.” Gandhi.




Lembro-me de um conto de Gabriel García Marquez que li já há muito tempo, e que considerei de uma violência extrema.
( Se aqui, a violência nasce de um equívoco…isso nem sempre acontece noutros casos de maldade organizada.)
Era o caso de um casal de artistas que participariam num espectáculo, nessa noite. Ela era cantora.
O marido iniciou a viagem mais cedo. A esposa iria juntar-se a ele, indo no seu carro próprio.
Era inverno. Na estrada, o carro avariou ficando ela só, pedindo ajuda a quem passava.
Apenas um pequeno autocarro acabou por a socorrer. A senhora ficou muito contente, porque pensava assim poder aproximar-se mais rapidamente do local onde iria actuar, naquela noite. Estando mais próxima e com possibilidade para telefonar (ainda não haveria telemóvel…) a seu marido ou a alguém, a um táxi talvez, que a pudesse ajudar.
Sentada à frente, junto de uma senhora e do condutor, reparou que as pessoas quase todas dormitavam, na parte de trás.
O percurso do autocarro terminava. Grandes portões se abriram para deixar entrar os passageiros. O condutor e a sua ajudante mal chegaram, terminadas as suas funções, desapareceram na grande cerca que se estendia dentro de altos muros.
À medida que as pessoas saiam do autocarro, eram rotuladas com um número, tal como a cantora a quem deram boleia. Esta apressou-se a explicar a sua presença ali, mas ninguém a escutou. Antes, a calaram sorrindo, porque agora até tinham alguém com a mania que era “cantora”, naquela antiga instituição psiquiátrica.
A noite ia avançando. Coisas terríveis iam acontecendo…
Quanto mais a senhora pedia para telefonar e explicava a situação, mais o seu caso era considerado grave chegando ao ponto, de ser amarrada na cama, pela sua teimosia, compulsão e insistência no assunto.
Entretanto o seu marido maldizia a sua sorte:
- Que cabra eu escolhi! A esta hora está com outro e eu aqui segurando a situação sozinho, neste espectáculo…
O tempo foi passando.
Isolada, sujeita a tratamento psiquiátrico violento, imaginamos em que estado terá ficado.
Já não me recordo bem, mas parece que no final, já completamente depauperada, o casal encontra-se (…).
Para além desta história que nunca mais esqueci, lembro-me também, quando entrei na Faculdade, que se contava a situação de um professor que se encantara com uma aluna.
Para se livrar da sua esposa da qual não tinha qualquer razão para a repudiar, além do divórcio ser coisa rara entre nós, naquele altura, e portanto não ter maneira de se livrar da mulher, o professor descartou-se da senhora, internando-a num hospital psiquiátrico, dando-a como louca. E a pobre senhora lá se finou sozinha.
Também conheci muito de perto, um casal em que o marido queria condenar e destruir a esposa, que ele nunca amara.
Traçou um plano de guerra fria.
Queria desesperá-la tanto, que ela, desgastada, deixasse a casa, para a culpar por abandono do lar.
Violentava-a até ao desespero, na esperança mafiosa de ela poder cometer alguma auto-agressão, que o promovesse a bondoso salvador da vítima, que um dia tanto se sacrificara para fazer dele um homem!
(Os “machos” nunca perdoam às mulheres que os ajudam!)
Para isso, repetia-lhe, na cama, quando ela tentava dormir, até à loucura do mais são…:
-Tu és louca. Nenhum psiquiatra te cura e vais perder os filhos.
( Os filhos, que ele sugeriu que abortasse, era o bem mais precioso para aquela mãe e… ele bem o sabia.)
A violência da agressão era extrema.
Sofrida pela situação de grande desgaste, o “querido” marido tinha o cuidado de colocar venenos vários, na casa de banho. Junto, colocava também uma lista com indicações de anti-venenos…e números de telefones.
Que bonzinho que este marido era! Na rua e à frente de outrém, o santo. E ela “coitadinha”, a doentinha.
E muito mais.
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Na próxima semana, teremos a conclusão deste tema que é muito vasto.
Há muito sofrimento que nem sonhamos em todas as classes sociais, em todas as idades, em todos os tempos.
Normalmente a vítima é a mulher que tem medo, vergonha de se queixar.
Os testemunhos das mulheres assassinadas, agressão última, infelizmente falam sem mais palavras.
linmare@edicomail.net