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terça-feira, 21 de julho de 2009

Hoje fala-vos pela boca de Tuiavii, um ìndio da Samoa


A SEDUÇÃO DO PAPALAGUI
(2.ºartigo)
‘Deus é amor. (…) Fale a um europeu do Deus do amor. Ele torce o rosto. Sorri. Sorri da simplicidade com que pensas (…) O dinheiro é o objecto do seu amor . A sua divindade. Todos os brancos pensam nele até dormindo (…).’
Tuiavii
Para nos situarmos, direi que o pintor alemão, Erich Scheurmann, tentou divulgar as reflexões de um chefe índio da ilha de Upolu, na Samoa, aldeia de Tiavéa, Indonésia, onde terá vivido durante mais de um ano.
Por achar tão pertinentes as suas apreciações acerca dos Brancos Europeus, com quem Tuiavii conviveu aquando da sua visita à Europa, integrado num grupo de teatro popular, divulga essas apreciações com o fim de nos situarmos na nossa civilização, no que ela tem de bom e de menos bom.
Por me parecer motivo de crescimento e de acertos para mim própria, li este livro.
Partilho com os queridos leitores , algumas das passagens desse livro.
Tuiavii observou com uma minúcia e com uma perspicácia incrível, os movimentos da alma do europeu, a quem chama Papalagui.
Opina sobre as tangas e as esteiras . Refere com surpresa o facto da moral sagrada do homem branco, achar que é pecado tudo o que é “carne”. Então só a cabeça e a mão é que podem ficar descobertas.
E acrescenta: (...)
“ O Papalagui envolve-se da cabeça aos pés com tangas, esteiras e peles tão justas , tão apertadas, que olhar humano algum, raio algum de sol as atravessa; tão justas que o corpo se torna lívido, branco, fatigado, assim como as flores que crescem no mais profundo dos bosques”.
Mais à frente refere os “homens que se vestem de modo especial para dar o que falar e de sempre a andarem atrás das mulheres”.
- Se ele visse uns tais travestis e alguns exemplares extravagantes que todos nós conhecemos, ainda seria maior a sua surpresa e espanto.
Quanto ao calçado - uma espécie de “canoas de bordas altas – os pés ficam dentro de um estojo rígido, tal qual o corpo de um caracol”.
“Os pés ficam como se estivessem mortos. Começam a cheirar mal, como de facto quase todos os pés europeus”.
As mulheres também são contempladas com a opinião do nosso amigo Tuiavii.
As mulheres que usam muitas esteiras e tangas enroladas no tronco e nas coxas.(…)
Estão cobertas de “cicatrizes e de esfoladuras”devido aos cordões.
Também acha que os seus peitos são flácidos e sem leite por causa da “esteira rija com arames e fios” que os aperta (...).Dão o leite aos filhos num rolo de vidro (…) com uma “maminha” artificial. Nem é o leite delas mesmas que dão, mas o de “animais vermelhos, feios, chifrados dos quais o arrancam com violência pelas quatro tetas que têm em baixo.”
Convém que as mulheres sejam pudicas e de boa moral.
- SE Tuiavii viesse por aqui agora , talvez ficasse encantado por ver como as meninas evoluíram e se apresentam já quase todas despidas.
Fala da excessiva preocupação, que ocupa o mundo dos pensamentos femininos.
As mulheres enchem baús e baús, e depois cogitam acerca das tangas que têm que escolher todos os dias.
A surpresa de Tuiavii é maior quando esperava que á noite ao ir para a “esteira”, o Papalagui se despisse para descansar.
Mas não. Veste-se outra vez.
“ Ora enrolando-se numa tanga só com os pés de fora , é natural que muito transpire!”- refere ainda.
“O Papalagui pensa que está deitado ao sol, mesmo que este não brilhe, porque ao próprio sol o Papalagui não dá muita atenção.”
(…) Compreende-se então que o Papalagui seja branco e pálido, sem a cor da alegria.(...) Em todas as coisas gosta de fazer uma sabedoria e uma lei à sua maneira”.
E Tuiavii termina este seu primeiro discurso para os “amados irmãos”, lembrando a todos:
“ A nossa carne dura como a rocha do vulcão, com a quentura que vem de dentro (…) alegremo-nos , porque a nossa carne encontra o sol… As nossas pernas mexem-se como as de um cavalo selvagem(…) sem tanga que as amarre…Tolo , cego é o Branco que não sente o prazer verdadeiro. Ele que precisa de se cobrir tanto, para não se envergonhar (...).
Seguindo Tuiavii na sua primeira recomendação, preferimos fazer algumas transcrições pela riqueza do seu pensamento tão expressivo e explícito.
Cada um de nós , ajuíza agora sobre o que leu, como muito bem entender, certos talvez de que a civilização, tal como as Leis que a regem, são para servir o Homem e o fazer feliz e não para o reprimir, por excesso de preconceito ou opressão.
Educar para a liberdade, evitando a libertinagem, será o que se espera das escolas, dos governos, das igrejas, das orientações filosóficas diversas.
Se o Criador é libertador e nos ama e quer feliz, há que conhecer, cada um de nós, a nossa essência e propósito, e agir de acordo.
O discurso revolucionário de Tuiavii, aponta para a autenticidade, sempre em uníssono com o Grande Espírito, a quem respeita, obedece e a Quem está grato!
E nós?
Acertar agulhas para não ser mais papista do que o Papa, não é mesmo o que teremos que fazer, caro leitor?

linmare@clix.pt