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sábado, 9 de fevereiro de 2013


Colecção :                      Textos e pretextos.

 

                                          O NEGRINHO

O NEGRINHO que mora na Favela desce todos os dias até ao jar-

dim.

Fica longe das pessoas. Olhando. Cantando. Sempre no plano sobranceiro.

É pobre. Envergonhado. Negro e…sem dinheiro.

Traz o cãozinho seu amigo .Brinca com ele . Fala alto.

 Está sempre sózinho….

 

Em baixo, os casais , as amigas, os mais velhos, as mocinhas, as “donas” com os cachorrinhos, caminham apressados na sua marcha matinal. Habitual.

 

E o Negrinho continua a falar sozinho.

A brincar com o cãozinho que o ama sem reservas. De verdade.

 Na sua pureza animal. Isento de maldade...

 

E o pessoal indiferente continua a caminhar.

A conversar…

A ouvir música.

E o Negrinho a cantar.

 

Um mundo em compartimentos.

 

A vida lá por cima a observar.

A sorrir , umas vezes.

Outras, a chorar.

 

De repente, o caminhante pisa em falso. Tropeça. Cai no ca-minho!

Ligeiro desce a escada correndo. Apressado.

Vem o Negrinho.

(A arfar segue-o aflito o seu amigo, o cãozinho.)

 

Levanta de imediato o Senhor com carinho.

 Com todo o cuidado...

 

Não sei se o Senhor o olhou a direito.

Também não sei se agradeceu.

Continuou a caminhar. Devagar. A coxear.

 

Será que ficou magoado ou envergonhado?...

 

Fez-me pensar.

 

                          Praça Juscelino Kubitchek, BH, 12.1.13
lucinda ferreira