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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Crónicas "Agridoce"....... Raridades

Crónicas "Agridoce" 

Raridades

        

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Os verdadeiros amigos são como as estrelas no céu. Eles são mais claros nos tempos de escuridão. Ana Carolina

 

 

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A palavra tem uma vida, como um ser vivo.

Nasce. Vive. Morre, por esvaziamento do seu conteúdo.


Estaremos na era dos terapeutas e psicólogas, sobrecarregadas com trabalho, sobretudo por já não haver amigos/as? ...

O tempo perdido (?!) a ajudar alguém mais só, em dificuldade, já não se usa. Agora, ganha-se dinheirinho, fazendo companhia.

Ouvindo um desabafo. Até “não se trabalha muito”, acrescentam.


O pior é quando não há meios, para pagar!

Tem que se enlouquecer. Morrer sozinho/a.


O espírito de voluntariado. Interajuda e solidariedade estão em extinção.


Tudo o que se faz é por dinheiro.


Espalha-se uma espiritualidade estranha. Vazia, cuja consciência da mesma, traz vaidade e excesso de segurança. Será que os mentores, ávidos de rendimentos palpáveis, desconstroem valores, ideais, consciente ou inconscientemente, de acordo com os tempos que se vivem ? Amizade?! Nem sabem sequer, o que é. Como hão de pratica-la?!


Dizem:”ajudar alguém é não o deixar crescer”… Mas se lhe pagarem, armam-se em curandeiros, “rezadeiras”, terapeutas feitos à pressa. Isso já é aceite. Esfregam as mãos de contentes. Cheira a dinheirinho.


Deparei-me com estas coisas novas para mim, em 1992, em Paris, quando aí representei Portugal, destacada, ao serviço do meu Ministério. Fiquei chocada, confesso, quando para ouvir falar de Energia Universal, era preciso pagar caro. Se passasses depois esses conceitos, também terias direito a cobrar (…).


Esta atitude começou a alastrar.


Quando se procura um sacerdote que escasseia, que antigamente era disponível para dar uma palavra. Um conselho. Um consolo, também já não pode. Tem sobrecarga de afazeres, tal como os cristãos apressados. Individualistas. Distraídos, raramente e com algumas excepções, olham uns para os outros, sequer. Aliás, agora também já não podem  olhar,  pq ninguém sai de casa…


O espírito de doação. Entrega, está em vias de extinção. É mais fácil alistar-se numa causa de morte. Desgraça. Autodestruição, do que ter um ideal de amor incondicional.


Mas…Quem é q exemplifica aos jovens, o que é generosidade? Os progenitores? A sociedade cruel e sofrida? A escola desengonçada? Desarticulada? Os meios de comunicação sensacionalistas, só falando de crimes . Desgraças? (…)


As crianças só assimilam o que observam. Não o que lhes impingem.


Quanto ao Amor, no casamento, é interessante.

Um par casa-se “com muito amor” (e interesses vários (…) que se esgotam rapidamente. Desiludem-se. Desentendem-se. Separam-se. Divorciam-se.

Passados uns dias apenas, já tem outro parceiro/a, que nem conheciam antes.


E por que razão?


Por todas as que cada um de vós quiser imaginar, mas uma é certa: o amor onde se esconde?


As mães e os pais (…) matam os filhos indefesos.

Os filhos começaram de mansinho e com desculpas várias, a meter os pais nos lares, para se descartarem das velharias, que nem sempre cheiram muito bem.


(Será que ouviram falar do filho, que levou o pai velhinho à montanha, para ele lá

morrer à míngua? Inútil, já estava a dar trabalho... Deixou-o apenas levar a capa velha. Na sua generosidade e sabedoria, o pai deu metade da capa ao filho, para depois o filho se servir dela também. Será que alguns teriam pensado duas vezes e trouxeram o pai de volta?)


Alguns filhos matam. Roubam os pais indefesos, por acções, por palavras e gestos.


A amizade que se salva, infelizmente até por aqueles que os comem. Matam e tratam mal, é a amizade do animal pelo dono!


Que inversão de valores, Santo Deus!


E ainda se indignam, que haja pessoas que amam tanto os animais!

Será, que essas pessoas desiludidas serão  também os mal amados? Os que já não têm uma pinga de amor por nada, nem por ninguém? Nem mesmo por eles próprios, que é o pior?


Nunca se entregaram ao trabalho pessoal. Silencioso. Permanente de alargamento do autoconhecimento. Auto-consciência, condição para se evoluir. Encontrar o sentido da vida, razão por que estão neste plano!


Talvez precisem de um esclarecimento. Uma pequena ajuda. Uma orientação. Uma palavra de incitamento, por amor e não sempre por dinheiro, se assim decidirem que querem isso mesmo.


Já me chamaram “trouxa” por perder tempo num Blog. Fazer vídeos e escrever em jornais. Escrever livros. Gastar meu tempo em voluntariado, sempre sem ganhar nada! Mas o Sol e o Amor não se podem esconder sob o alqueire e essa maneira de ser e estar fazem parte da nossa natureza.

Como uma árvore cortada. Carbonizada. Vandalizada, na Primavera rebenta ainda mais forte, somos assim. . ……………………………………………………

Voltando à nova espiritualidade, a vaidade da maioria dos ”new age” de se considerarem muito espirituais, embora não transpirem um pingo de amor, para o mundo à sua volta, surpreende. Magoa os que ainda são capazes de se doar aos outros.


Será que “Vaidade das vaidades tudo é vaidade, dizia S. João Crisóstomo, já no século V, ainda será assim? (…)

 E consideram os outros, atrasados. Desactualizados. “Que se ponham ao nível, se quiserem”, quer possam ou não pagar aos mentores que só passam os conhecimentos, por amor, mas amor ao dinheirinho!


Estávamos “mal” habituados, num registo de doação, não era?


Será que, quem tinha um ideal de amor, passava a mensagem, testemunhando esse mesmo amor, conquistando assim mais adeptos e isso lhes bastava?

  

Indiferença, ao sofrimento alheio, choca-me um pouco.


Se estais em sofrimento, procurem a tal psicóloga ou a terapeuta, pois “os amigos” não estão para ninguém. Têm as suas vidinhas, sem tempo a perder!

Tal como a atitude e postura do filósofo que andava com uma candeia, à procura de um Homem”, repete-se hoje.


Será isso então?


Cada um que morra e se dane.

 “O problema é do próprio. Não se deve, ajudar ninguém, pois isso impede a evolução do outro”- dizem, emancipados e “evoluídos” para se descartarem, e ficam muito felizes, com esta tirada do pensamento moderno.

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Será que a palavra amigo/a vai ser extinta, no futuro, caríssimos leitores?!


Se o Petit Prince de Saint Exupéry , aqui estivesse agora, morria como o E.T. Extra Terrestre de  Steven Spielberg, apenas querido e compreendido pelas crianças, que o amavam, às escondidas.


Tal como ele, Le Petit Prince  para não morrer,  emigraria para outro planeta mais amistoso.


“Estás mal? Tens que procurar uma/a terapeuta. Uma/o psicóloga “, dir-te-ão. Não percas tempo com vitimização. Se estiveres para morrer, dir-te-ão:”Todos temos que morrer"!

Palavras de consolo, para que quê?


A profissão de ajudar a bem morrer, já não se usa mais. Perder tempo para quê?

Bem se ouviu, nalgum dirigente do Brasil e Japão, que esta “limpeza” dos “velhos” que morrem com covid, até é boa para evitar despesas".

Os amigos/as estão em extinção galopante, assim como as pessoas compassivas!


Se ainda conserva algum, trate-o com muito amor e gratidão!

 Expresse-lhe os seus sentimentos de alegria por ainda possuir esse tesouro e retribua lhe com verdade! 

Essa raridade é muito confortante.


Normalmente são aquelas pessoas que o leitor mais amou e ajudou, que hoje  o negam, mas nunca se arrependa do que fez. O que se fez está escrito no Livro da Vida e o coração enriquece pelo que dá, não pelo que recebe.


Ame com mais afinco e ao maior número de pessoas que puder, para não deixar perder a riqueza de amor incondicional!


É com tristeza e amargura, que escrevo este artigo. Talvez para apelar e tentarmos continuar a amar sem por quê.

Ter mais alegria em dar do que em receber. Se alguém precisar de uma palavra nossa, não lhe vire a cara. Dê um sorriso. E tudo mais que possa partilhar, nunca o negue a ninguém.

E dirão agora, os dessa nova postura espiritual do “venha a nós”, da nova espiritualidade”: “isso tudo é para alienar. Concentra-te em ti e deixa lá os outros. Isso é uma fuga de ti mesmo (…). Palerma! “.”

Faz me lembrar um comentário irónico, de gozo, de um holandês, a propósito da riqueza que é (ou era…) a hospitalidade em Portugal: “ Coitados dos Portugueses! São tão pobres e tão simplórios: oferecem tudo o que têm e ainda ficam tão felizes…”.

“E esta, hein!”, Senhor falecido locutor , Fernando Pessa?

Continuarei a preferir Le Petit Prince a outros heróis deslavados. Agressivos. Corruptos, modernistas da “espiritualidade”, que levada ao extremo, não pode convencer gente de bem.

E ao terminar, recordo-me de como o filme “A Laranja Mecânica”veio preparando de longe, este espírito de crueldade actual, que nem deixa dar de comer, nem cobertores aos pobres sem abrigo, na noite fria, em Lisboa.

Investiguem as trevas. Escolham a Luz!

Uma amizade verdadeira é de grande consolo para a alma, quando o mundo parece estar a desabar à nossa volta.

Nunca desanime!

Ame!
Coimbra, 17 Novembro de 2020

Lucinda Ferreira