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sábado, 16 de julho de 2011

Quando cai a noite...



Quando cai a noite

Amamos a vida não porque nos habituamos com a vida, mas porque nos habituamos a amar. F. Nietzche
Aprendemos a voar como pássaros, e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos. Martin Luher King


Aquele que transforma em beleza todas as emoções, sejam de melancolia, de tristeza, prazer ou dor, vive na perpétua alegria. Graça Aranha


As piores coisas sempre são feitas com as melhores intenções. Oscar Wilde


"Se quiser aprender a amar, comece pelos animais; eles são mais sensíveis." (George Gurdjieff)

Na minha Rua dos Perfumes, existe uma fonte invisível de surpresas.

Um verdadeiro tesouro que só a alma consegue descobrir.

É que, quando não tenho tudo que amo, amo tudo o que tenho.

Assim, na minha varanda poente, debruço-me todos os fins de tarde, para espreitar o mundo.

È a lua redondinha. Cheia. Ora brilhante, ora minguante…

Formas variadas das nuvens conversam comigo.

Contam me de segredos que só eu sei.

Pasto para a imaginação cavalgar. Motivos diversos. Renovados sem nunca parar!

Aves livres. Imensas em bandos de liberdade, fazendo piruetas, brincando no ar, aguçam meu desejo antigo de voar…

Poentes para os lados do mar, ora tingidos do sangue fogo de mais um dia que se despede… Ora rasgados. Pincelados de mil cores em transição.

Sons da noite que cai de mansinho e se avizinha mais silenciosa e calma.

Os ralos e os bichinhos da saudade, como dizia a minha mãe, na minha infância , adoçam as sombras que vão caindo lentamente.

Os cãezitos distantes lançam no ar as suas vozes, ora atiçadas, ora carentes e magoadas.

Às vezes, as aves da noite lançam seus pios aflitos, agoirentos para alguns (…) no cocuruto dos eucaliptos imóveis e escuros.

E os meus gatos ciumentos e dedicados todos pendurados à minha volta, querendo toda a minha atenção…

E a noite cai docemente.

Aproveitando os restos de luz de mais este dia, reparo em frente á minha varanda poente, na casa abandonada com uma janela sempre aberta e um vidro partido na porta do cimo da escada.

Essa janela sem vidros deixa entrar e sair num movimento constante, um passarinho preto de cauda amarela que pia ...pia …sem parar.

Ora entra o pai passarinho, ora entra e sai a mãe .

Neste vai e vem, apercebo-me que aqueles sons que ouvira ao longo de todo o dia, carregam uma mensagem muito especial, seja ela qual for.

Durante todo o dia, esvoaçando pelos telhados vizinhos, lá mesmo nos pontos mais altos, os passarinhos preocupados, zelosos e responsáveis, parecem ter um propósito bem determinado.

A minha colaboradora, também ela atenta a este mundo que preenche a minha alma, já tinha descoberto que ali, na casa abandonada, havia algo muito importante para aqueles dois passarinhos atarefados: havia um ninho!

A primeira tarefa fora acarretar palhinhas e coisas muito fofas para a grande construção. Depois, a comida no bico para os meninos que rompiam os ovos a medo, lançando pios, despertando para a vida. Agradecendo quem sabe, aos pais dedicados, atentos e constantes nos cuidados.

Nunca ali faltava um dos responsáveis. Ora o pai passarinho, ora a mãe.

Assinalavam as suas presenças com aquela linguagem de passarinho que só eles conhecem, mas que de certeza transmitia calor e segurança.

Uma dedicação e cuidado sem limites.

Contrastava este instinto amoroso com uma notícia triste que se espalhava no éter, neste mesmo momento.

Falava do número e percentagem de abortos , praticados nos hospitais portugueses…

Felizmente também se falava na dificuldade em recrutar médicos para tais tarefas, devido á elevada percentagem de médicos objectores de consciência.

De facto ninguém pode escolher ser médico, para ser obrigado a matar!

Dizem que a população portuguesa está muito envelhecida, mas nada se faz para ajudar a nascer bébés com mães em dificuldade.

Será que matar é mais fácil? Fica mais barato? Que pena.

E são justamente as mães, cofres do amor (?!) , que contrariamente aos passarinhos , matam os filhos…

Triste, hein…

Até as aves do céu que vão desaparecendo pelo uso dos pesticidas e outras leviandades humanas agressivas e destruidoras do Planeta Terra, se admirariam e achassem impossíveis tais procedimentos em seres com sentimentos e inteligência.

São afinal, esses irmãos menores que nos dão lições de dedicação, trabalho e canseira, fé e superioridade, através de gestos instintivos. Amorosos.

Os tais que não lavram nem semeiam e todos os dias confiantes, se banqueteiam com toda a variedade de alimentos. Mas têm de os procurar. Trabalhar!

Do mesmo modo que os lírios do campo se vestem de cor, com vestes mais ricas do que as de Salomão.

Talvez a Humanidade tenha que recuperar rápido, esta postura de confiança, depois de ter hábitos de compaixão e respeito pela vida!

Na minha Rua dos Perfumes abundam as surpresas…

Um dia destes, vos contarei mais segredos.

Digo-vos hoje, em ar de desabafo:

Gostava de ser um pássaro!

linmare@edicomail.net