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terça-feira, 24 de abril de 2012

Entre amigos... (versão corrigida )


Entre amigos …

A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor.

 Dom José, Conde do Olival, observa tudo o que passa ao seu redor.
Fora agredido no seu valor mais profundo. A sua virilidade!
Da sua nostalgia e desconfiança, nasceu e despertou nele, de um modo particular, uma atenção subtil. Uma acutilância a todo o ruido ou qualquer movimento diferente da sua rotina habitual. Aguçou nele reflexos ancestrais de cuidado e vigilância permanentes. Ouve e vê tudo o que nós nem pressentimos.
Nos seus domínios de que raramente se afasta, consegue abandonar-se completamente em segurança e conforto. Relaxado. Descontraído, sonha talvez com mundos desconhecidos…
 Por vezes o seu olhar é distante.
Altivo. Fugidio. Cauteloso. Reservado. Esquivo. Independente.
Bem atento, é o Senhor dos seus impérios que defende com unhas e dentes. Ai de quem se atreva penetrar neles!
A população fica toda em alvoroço.
 A coisa tem que se resolver rápido. Poucos ousam entrar no seu território. Até porque as suas mulheres com quem coabita, mas a quem não dá a mínima atenção, também não o permitiriam. Aguerridamente talvez até fossem mais ferozes do que o próprio do Dom José, Conde do Olival, se alguém ousasse penetrar no seu espaço.
Procura os seus lugares preferidos e não abre mão dos poisos mais confortáveis.
È um relógio perfeito no que refere ao cumprimento das rotinas que respeita ao milionésimo.
Conhece o alcance dos ritos que segue rigorosamente. È um cavalheiro de rituais.
Quando falha um segundo no serviço de refeições da noite, principalmente, fica de mau humor. Intratável. Faz o impossível para chamar a atenção. Tem que se deixar tudo, para servir  Dom José imediatamente, senão fica insuportável.
Acho que não troca o conforto pela liberdade.
Talvez se pareça um pouco com o gato de que fala Miguel Torga. Aquele que não trocava o conforto e os braços roliços da sua dona, por qualquer tipo de liberdade por mais atraente e prometedora que fosse.
 Parece que hoje, este tipo de animal prolifera entre os humanos. Talvez devido à crise… Para certos temperamentos acomodados e pouco aguerridos, mais vale um pássaro na mão do que dois a voar…
Mas Dom José , Conde  do Olival, dá pouca confiança à vizinhança. Não se relaciona com ninguém, dando a ideia que todo o seu mundo se movimenta dentro de si mesmo.
 O que aliás talvez até seja mesmo a melhor garantia.
È dentro de nós que estão todos os segredos.
 A alegria, por exemplo, não está no mundo que nos rodeia, mas no modo como percecionamos e sentimos o mundo.
Dom José quase sempre, assume uma postura invejável. Majestoso. Atento. Reservado. De difícil acesso.
 Sente-se que está tão feliz no seu interior, que deixar de o observar, é impossível, tanto se aprende com ele mesmo em silêncio.
È muito expressivo no seu olhar. Ternurento por vezes, chama a atenção de quem o apanha distraído.
È capaz de aceitar uma carícia gentil. Rápida. Sincera, que ele pressente e lhe agrada pela distinção, porque não a aceita de qualquer um.
Ao mínimo ruido, fica atento. Movimenta-se de mansinho. Observador. Com passinhos de lã.
È calmo, mas de vez em quando, parece que uma tempestade perpassa em seu íntimo. Então corre. Forte. Ligeiro. Corre mesmo com toda a gente.
 Nesses momentos, Dom José, Conde do Olival é agressivo, como se lutasse com fantasmas perigosos. Desencadeia então uma guerra violenta entre as suas companheiras do sítio, exigindo intervenção imediata.
Quem sabe até se ele vê monstros que o perseguem?
São enigmas que ainda estão por desvendar.
Mantém uma relação particular coma sua secretária, a Palmirinha. 
 A Palmirinha , que apenas tem uma vista a funcionar e tem também os seus hábitos.
 A sua maneira de ser muito particular. È calma. Humilde. Reservada. Tem um apetite moderado. È sempre a última a comer. Por vezes, parece um pouco falta de confiança em si mesma. Mas...também é capaz de tomar a iniciativa de agredir as suas rivais, quando estas lhe querem roubar os afectos de que é muito ciosa.
Foi uma revelação interessante, quando se percebeu que era a preferida do Senhor Dom José, Conde do Olival.
Dormem coladinhos um ao outro. Trocam entre si carícias sem fim. Enroscados, como se assim ambos se sentissem protegidos. Completamente evadidos deste plano, sonham com mundos desconhecidos , quem sabe? Gestos especiais de uma estima particular.
Não sei se terá sido Dom José que se aproximou da Palmirinha, sua secretária, ou se terá sido ela que o terá conquistado. Seduzido pela sua pacatez diferente de todas as companheiras do sítio.
Talvez até a discrição da Palmeirinha conviesse à insegurança dissimulada de Dom José. À timidez camuflada de macho castrado…
Mas tudo é um pouco complexo. Nisto dos afectos , quando se oferece tudo de mão beijada, parece que o desinteresse nasce. A luta aguça o desejo de conquista.
Ninguém corre para um carro depois de o ter apanhado…
 O que sei é que passam tardes e tardes de lazer e encantamento em lambidelas abundantes que consola ver. Ambos enrolados, como se fora um só corpo.
Lânguidos. Tranquilos. Consolados, dá gosto ver uma ligação tão espontânea. Tão genuína. Verdadeira.
Entretanto a bailarina Babette repousa noutro aposento, ela também embarcada em sonhos de tranquilidade. Num mar morno, por vezes quente demais para suportar tal temperatura…
Babbette, elegante. Simpática. Dedicada. Ativa. Versátil. Veloz. Predadora. Curiosa. Atenta a qualquer ruido de folha que se solte. Tem um olhar profundo de princesa. Autêntico. Difícil de descrever. Só quem o sente direcionado para si mesmo, ou teve oportunidade de o observar, pode perceber o que lhes digo. Impressiona mesmo. Parece que vem do fundo dos tempos, carregado de mistérios!
È a mais fiel e a mais ladina. Quando se trata de saborear a liberdade, alheia a qualquer perigo que ignora na sua pureza natural de nunca pensar mal seja para quem for humano, esgueira- se disfarçadamente ou foge de raspão. Corre perigos que nem lhe passam pelo espírito inocente. Puro. À mercê da maldade que cresce no Coração humano e que ela não adivinha sequer.
Quando sai é a primeira a regressar aos seus aposentos. Ao seu local de segurança.
Prefere as carícias a qualquer manjar especial. È a última a chegar ao local de refeição.
Já  Dona Amélia, a rainha, a mais velha do castelo, é uma espécie de madre superiora, que não admite abusos. Logo se rebela e dá educação à plebe, mal alguém se excede. No entanto às escondidas, tem atitudes infantis que compensam o seu ar importante e glutão.
Adora brincar às escondidas.
Escolhe sempre os lugares mais altos para vigiar tudo à sua volta.
È disfarçada. Comilona. Gorda e anafada. Desobediente. Simulada e teimosa. Tem no entanto algo de muito particular: quando alguém está triste, ela é solidária. Fiel. Companheira e nunca mais te abandona.
Até o Dom José do Conde do Olival respeita a Dona Amélia.
 Ela enfrenta – o destemidamente. Impõe regras. Não lhe dá confiança. Sabe muito bem o que quer e não há discussões.
Se for preciso ela passa a factos e dá a sua patada. Ralha e assusta o pessoal.
 Dom José respeita - a e tem medo dela.
È interessante reparar que nenhum destes amigos alberga vinganças no seu íntimo. Se alguém os agride, logo esquecem os males que lhe fizeram.
No entanto, desde do início dos tempos que não perdoam, destroçando até à morte, alguns seres que lhes atiçam os seus instintos mais antigos.
Aí não há nada a fazer… Assim como admitir outros habitantes na comunidade. Território é coisa sagrada.
São ciosas do seu espaço que não partilham facilmente.
Gostam de tudo o que é lindo. Fofo.
Recebem quem as visita, no entanto são sensíveis às energias de quem chega.
Se a energia for compatível como seu reino, são gentis e próximas. Senão, fogem. Abandonam de imediato o local para se esconderem.
São deste modo, o indicador seguro de quem temos na nossa presença. Do cuidado a ter com algo desconhecido. Perigoso.
Ao mínimo ruido no portão longínquo da casa, perfilam-se. Escutam atentamente. Rosnam. Ficam de alerta. Dão sinal do perigo que se avizinha.
Quando pressentem que estou a fazer malas, andam de roda de mim , tristes e inquisidoras. Babete, essa então não me larga mais.
Quando  no final se consuma a partida, ao contrário do costume , mal a porta se abre esgueiram-se sem apelo, neste caso, perfilam-se na escada e ficam uma em cada degrau, sentadas , olhando triste a minha saída. Vêm despedir-se com carinho, daquela que sabem bem, as ama. Respeita. Cuida.  Vêm dizer adeus e dizer-me: Volta depressa. Não te demores. Ficamos à tua espera.
Já sabem quando volto, trago-lhes sempre um lambeta gostosa. Vão logo cheirar a minha carteira ou qualquer saquito que me acompanhe. E lá têm algo para compensar a ausência .
São melómanas como eu.
Tem preferência por Música calma. Doce.
 Violino é o seu instrumento preferido. Acalma-as.  Dormem tranquilamente.
Leonor, a minha neta com oito anitos, adora Babete, em especial.
Se pudesse clonaria Babete, segundo me confessou.
Toca violino para elas. Ficam anestesiadas.
As senhoras correm para Leonor, como se de um íman se tratasse.
O Senhor Dom José fica de longe, observando.
Penso muitas vezes se lhes faltasse, como gostaria que as estimassem com merecem.
Deixarei meios para isso, conforme já combinei com a minha funcionária, ela também dentro desta energia de amor por Babete bailarina. Dona Amélia, a rainha, Palmirinha, a secretária e Dom José, o Conde do Olival.
Conforme já perceberam esta é a história da minha Família felina , com quem partilho os meus dias.
 Com quem converso. Com quem aprendo mil coisas.
A quem agradeço a companhia e carinho que me dispensam.
 A quem respeito e estimo. A quem muito quero.
Condicionam muito na minha vida, mas é o preço dos laços.
Salvei- Eles, aflitos, pediram me ajuda.
 Não podia abandoná-los. Uma espécie de” Lista de Schimdler”…

Ajuda para não morrerem barbaramente injetadas letalmente pelos benditos serviços de proteção aos animais sofredores da rua.
São estes erviços que sustento com os meus impostos.…
Em vez de protegerem colónias de animais, mantendo o equilíbrio ecológico, com os Animais castrados em liberdade. Qualquer dia, talvez tenham tantos ratos que depois só com raticida envenenando as águas e as pessoas (…) se resolva !...
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São os animais que nos escolhem.
Dizem que eles não gostam dos donos, mas da casa. Posso dizer que não é assim.
Quando se dedicam, até o nosso cheiro conhecem. Procuram para matar saudades.
Quando me afasto deixo lhes roupa ou chinelos e isso conforta-os.
Também quando me afasto sinto a sua falta. Tenho saudades deles.
Afinal a amizade mais pura é possível  entre um animal e o ser humano. Há quem possa afirmar o contrário?
 Só é pena que os humanos tratem tão cruelmente os nossos irmãos menores, à mercê de quem é mais feroz do que um inofensivo animal q sofre tudo o que a frustração e a maldade humana cobardemente descarrega em quem não se pode defender.
Muito cuidado, porque isto tem retorno! Cuidado porque a Terra não é só do Homem, mas dos Animais e das Plantas e acaba mal se não se muda.
O nível de um Povo e das pessoas em particular, mede se pelo respeito que dedica aos Animais, seres indefesos.
   

Comentário de Dra Maria Manuel Pimentel


  O texto está muito bem escrito.
 Uma verdadeira renda literária.
 Ao mesmo tempo acho-o com uma pitada de cómico o que o torna mais saboroso.
Não se descansa enquanto não se chega ao fim.
Bem podia fazer uma colectânea dos textos já escritos.
 Seria , penso, uma mais valia .
beijo
M. Manuel


  Muito bonito este poema.
 Envio-lhe os meus parabéns e os votos para sempre de muita inspiração mesmo nos momentos de tristeza
.bjnho
No dia 19 de Abril de 2012 14:25 
Irene Calado

Querida Luci

Parabéns pelo dom da escrita que há em si.

A forma como exterioriza essa alegria é contagiante.

E gratificante, a alegria que vive, quem ama o seu Senhor Jesus Cristo.

Beijinhos

Neusa