Entre amigos …
A amizade desenvolve a
felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa
dor.
Dom José, Conde do Olival, observa tudo o que
passa ao seu redor.
Fora agredido no seu
valor mais profundo. A sua virilidade!
Da sua nostalgia e
desconfiança, nasceu e despertou nele, de um modo particular, uma atenção
subtil. Uma acutilância a todo o ruido ou qualquer movimento diferente da sua
rotina habitual. Aguçou nele reflexos ancestrais de cuidado e vigilância permanentes.
Ouve e vê tudo o que nós nem pressentimos.
Nos seus domínios de
que raramente se afasta, consegue abandonar-se completamente em segurança e
conforto. Relaxado. Descontraído, sonha talvez com mundos desconhecidos…
Por vezes o seu olhar é distante.
Altivo. Fugidio.
Cauteloso. Reservado. Esquivo. Independente.
Bem atento, é o Senhor
dos seus impérios que defende com unhas e dentes. Ai de quem se atreva penetrar
neles!
A população fica toda
em alvoroço.
A coisa tem que se resolver rápido. Poucos
ousam entrar no seu território. Até porque as suas mulheres com quem coabita,
mas a quem não dá a mínima atenção, também não o permitiriam. Aguerridamente
talvez até fossem mais ferozes do que o próprio do Dom José, Conde do Olival,
se alguém ousasse penetrar no seu espaço.
Procura os seus lugares
preferidos e não abre mão dos poisos mais confortáveis.
È um relógio perfeito
no que refere ao cumprimento das rotinas que respeita ao milionésimo.
Conhece o alcance dos
ritos que segue rigorosamente. È um cavalheiro de rituais.
Quando falha um segundo
no serviço de refeições da noite, principalmente, fica de mau humor.
Intratável. Faz o impossível para chamar a atenção. Tem que se deixar tudo,
para servir Dom José imediatamente,
senão fica insuportável.
Acho que não troca o
conforto pela liberdade.
Talvez se pareça um pouco
com o gato de que fala Miguel Torga. Aquele que não trocava o conforto e os
braços roliços da sua dona, por qualquer tipo de liberdade por mais atraente e
prometedora que fosse.
Parece que hoje, este tipo de animal prolifera
entre os humanos. Talvez devido à crise… Para certos temperamentos acomodados e
pouco aguerridos, mais vale um pássaro na mão do que dois a voar…
Mas Dom José ,
Conde do Olival, dá pouca confiança à
vizinhança. Não se relaciona com ninguém, dando a ideia que todo o seu mundo se
movimenta dentro de si mesmo.
O que aliás talvez até seja mesmo a melhor
garantia.
È dentro de nós que
estão todos os segredos.
A alegria, por exemplo, não está no mundo que
nos rodeia, mas no modo como percecionamos e sentimos o mundo.
Dom José quase sempre,
assume uma postura invejável. Majestoso. Atento. Reservado. De difícil acesso.
Sente-se que está tão feliz no seu interior,
que deixar de o observar, é impossível, tanto se aprende com ele mesmo em
silêncio.
È muito expressivo no
seu olhar. Ternurento por vezes, chama a atenção de quem o apanha distraído.
È capaz de aceitar uma
carícia gentil. Rápida. Sincera, que ele pressente e lhe agrada pela distinção,
porque não a aceita de qualquer um.
Ao mínimo ruido, fica
atento. Movimenta-se de mansinho. Observador. Com passinhos de lã.
È calmo, mas de vez em
quando, parece que uma tempestade perpassa em seu íntimo. Então corre. Forte. Ligeiro.
Corre mesmo com toda a gente.
Nesses momentos, Dom José, Conde do Olival é
agressivo, como se lutasse com fantasmas perigosos. Desencadeia então uma
guerra violenta entre as suas companheiras do sítio, exigindo intervenção
imediata.
Quem sabe até se ele vê
monstros que o perseguem?
São enigmas que ainda
estão por desvendar.
Mantém uma relação
particular coma sua secretária, a Palmirinha.
A Palmirinha , que apenas tem uma vista a
funcionar e tem também os seus hábitos.
A sua maneira de ser muito particular. È
calma. Humilde. Reservada. Tem um apetite moderado. È sempre a última a comer. Por
vezes, parece um pouco falta de confiança em si mesma. Mas...também é capaz de
tomar a iniciativa de agredir as suas rivais, quando estas lhe querem roubar os
afectos de que é muito ciosa.
Foi uma revelação interessante,
quando se percebeu que era a preferida do Senhor Dom José, Conde do Olival.
Dormem coladinhos um ao
outro. Trocam entre si carícias sem fim. Enroscados, como se assim ambos se
sentissem protegidos. Completamente evadidos deste plano, sonham com mundos
desconhecidos , quem sabe? Gestos especiais de uma estima particular.
Não sei se terá sido Dom
José que se aproximou da Palmirinha, sua secretária, ou se terá sido ela que o
terá conquistado. Seduzido pela sua pacatez diferente de todas as companheiras
do sítio.
Talvez até a discrição
da Palmeirinha conviesse à insegurança dissimulada de Dom José. À timidez
camuflada de macho castrado…
Mas tudo é um pouco
complexo. Nisto dos afectos , quando se oferece tudo de mão beijada, parece que
o desinteresse nasce. A luta aguça o desejo de conquista.
Ninguém corre para um
carro depois de o ter apanhado…
O que sei é que passam tardes e tardes de
lazer e encantamento em lambidelas abundantes que consola ver. Ambos enrolados,
como se fora um só corpo.
Lânguidos. Tranquilos. Consolados,
dá gosto ver uma ligação tão espontânea. Tão genuína. Verdadeira.
Entretanto a bailarina
Babette repousa noutro aposento, ela também embarcada em sonhos de
tranquilidade. Num mar morno, por vezes quente demais para suportar tal
temperatura…
Babbette, elegante.
Simpática. Dedicada. Ativa. Versátil. Veloz. Predadora. Curiosa. Atenta a
qualquer ruido de folha que se solte. Tem um olhar profundo de princesa.
Autêntico. Difícil de descrever. Só quem o sente direcionado para si mesmo, ou
teve oportunidade de o observar, pode perceber o que lhes digo. Impressiona
mesmo. Parece que vem do fundo dos tempos, carregado de mistérios!
È a mais fiel e a mais
ladina. Quando se trata de saborear a liberdade, alheia a qualquer perigo que
ignora na sua pureza natural de nunca pensar mal seja para quem for humano, esgueira-
se disfarçadamente ou foge de raspão. Corre perigos que nem lhe passam pelo
espírito inocente. Puro. À mercê da maldade que cresce no Coração humano e que
ela não adivinha sequer.
Quando sai é a primeira
a regressar aos seus aposentos. Ao seu local de segurança.
Prefere as carícias a
qualquer manjar especial. È a última a chegar ao local de refeição.
Já Dona Amélia, a rainha, a mais velha do
castelo, é uma espécie de madre superiora, que não admite abusos. Logo se
rebela e dá educação à plebe, mal alguém se excede. No entanto às escondidas,
tem atitudes infantis que compensam o seu ar importante e glutão.
Adora brincar às escondidas.
Escolhe sempre os
lugares mais altos para vigiar tudo à sua volta.
È disfarçada. Comilona.
Gorda e anafada. Desobediente. Simulada e teimosa. Tem no entanto algo de muito
particular: quando alguém está triste, ela é solidária. Fiel. Companheira e nunca
mais te abandona.
Até o Dom José do Conde
do Olival respeita a Dona Amélia.
Ela enfrenta – o destemidamente. Impõe regras.
Não lhe dá confiança. Sabe muito bem o que quer e não há discussões.
Se for preciso ela
passa a factos e dá a sua patada. Ralha e assusta o pessoal.
Dom José respeita - a e tem medo dela.
È interessante reparar
que nenhum destes amigos alberga vinganças no seu íntimo. Se alguém os agride,
logo esquecem os males que lhe fizeram.
No entanto, desde do
início dos tempos que não perdoam, destroçando até à morte, alguns seres que
lhes atiçam os seus instintos mais antigos.
Aí não há nada a fazer…
Assim como admitir outros habitantes na comunidade. Território é coisa sagrada.
São ciosas do seu
espaço que não partilham facilmente.
Gostam de tudo o que é
lindo. Fofo.
Recebem quem as visita,
no entanto são sensíveis às energias de quem chega.
Se a energia for
compatível como seu reino, são gentis e próximas. Senão, fogem. Abandonam de
imediato o local para se esconderem.
São deste modo, o indicador
seguro de quem temos na nossa presença. Do cuidado a ter com algo desconhecido.
Perigoso.
Ao mínimo ruido no
portão longínquo da casa, perfilam-se. Escutam atentamente. Rosnam. Ficam de alerta.
Dão sinal do perigo que se avizinha.
Quando pressentem que
estou a fazer malas, andam de roda de mim , tristes e inquisidoras. Babete,
essa então não me larga mais.
Quando no final se consuma a partida, ao contrário do
costume , mal a porta se abre esgueiram-se sem apelo, neste caso, perfilam-se
na escada e ficam uma em cada degrau, sentadas , olhando triste a minha saída.
Vêm despedir-se com carinho, daquela que sabem bem, as ama. Respeita. Cuida. Vêm dizer adeus e dizer-me: Volta depressa.
Não te demores. Ficamos à tua espera.
Já sabem quando volto, trago-lhes
sempre um lambeta gostosa. Vão logo cheirar a minha carteira ou qualquer
saquito que me acompanhe. E lá têm algo para compensar a ausência .
São melómanas como eu.
Tem preferência por
Música calma. Doce.
Violino é o seu instrumento preferido. Acalma-as. Dormem tranquilamente.
Leonor, a minha neta
com oito anitos, adora Babete, em especial.
Se pudesse clonaria
Babete, segundo me confessou.
Toca violino para elas.
Ficam anestesiadas.
As senhoras correm para
Leonor, como se de um íman se tratasse.
O Senhor Dom José fica
de longe, observando.
Penso muitas vezes se
lhes faltasse, como gostaria que as estimassem com merecem.
Deixarei meios para
isso, conforme já combinei com a minha funcionária, ela também dentro desta
energia de amor por Babete bailarina. Dona Amélia, a rainha, Palmirinha, a
secretária e Dom José, o Conde do Olival.
Conforme já perceberam
esta é a história da minha Família felina , com quem partilho os meus dias.
Com quem converso. Com quem aprendo mil
coisas.
A quem agradeço a companhia
e carinho que me dispensam.
A quem respeito e estimo. A quem muito quero.
Condicionam muito na
minha vida, mas é o preço dos laços.
Salvei- Eles, aflitos,
pediram me ajuda.
Não podia abandoná-los. Uma espécie de” Lista
de Schimdler”…
Ajuda para não morrerem
barbaramente injetadas letalmente pelos benditos serviços de proteção aos
animais sofredores da rua.
São estes erviços que
sustento com os meus impostos.…
Em vez de protegerem
colónias de animais, mantendo o equilíbrio ecológico, com os Animais castrados
em liberdade. Qualquer dia, talvez tenham tantos ratos que depois só com
raticida envenenando as águas e as pessoas (…) se resolva !...
………………………………………………………………………………………………
São os animais que nos
escolhem.
Dizem que eles não
gostam dos donos, mas da casa. Posso dizer que não é assim.
Quando se dedicam, até
o nosso cheiro conhecem. Procuram para matar saudades.
Quando me afasto deixo lhes
roupa ou chinelos e isso conforta-os.
Também quando me afasto
sinto a sua falta. Tenho saudades deles.
Afinal a amizade mais
pura é possível entre um animal e o ser
humano. Há quem possa afirmar o contrário?
Só é pena que os humanos tratem tão cruelmente
os nossos irmãos menores, à mercê de quem é mais feroz do que um inofensivo
animal q sofre tudo o que a frustração e a maldade humana cobardemente descarrega
em quem não se pode defender.
Muito cuidado, porque
isto tem retorno! Cuidado porque a Terra não é só do Homem, mas dos Animais e
das Plantas e acaba mal se não se muda.
O nível de um Povo e
das pessoas em particular, mede se pelo respeito que dedica aos Animais, seres
indefesos.