Nus e Frágeis
Qualquer coisa que você não consiga controlar
está lhe ensinando a soltar. Jackson Kiddard
Cansam e aborrecem me os grandes parques comerciais com muitas lojas. Um grande centro comercial ainda é pior, pois há muito barulho, confusão e muita gente.
Cansam e aborrecem me os grandes parques comerciais com muitas lojas. Um grande centro comercial ainda é pior, pois há muito barulho, confusão e muita gente.
Um Centro, que visitei em Hong Kong, era razoável pela sua largueza. Decoração. Pela Música
de qualidade que andava no ar, executada por artistas exímios que prendiam e
encantavam.
Hoje, porém
na confusão do costume, um bebé reclamava alto e bom som.
Olhei para o
lado. Vi uma criancinha que mais parecia um recém-nascido. A avó olhando para
tudo , menos para o bebé, empurrava o carrinho.
Iniciei
conversa com ela e disse, sorrindo:
- Ela está a
reclamar do barulho. Do frio e do calor. Depois do conforto e protecção, dentro
do ventre da mãe, de repente vê-se nestas andanças…
Até aos seis
meses, o pediatra americano, Benjamim Spock, meu guia aquando dos meus filhos,
recomendava que o bebé, até aos seis meses, apenas devia deixar a tranquilidade
do lar, para visitar o Pediatra!
Frequentar
ambientes poluídos, agressivos a todos os níveis (temperaturas, barulhos, luzes,
confusão), comprometiam o equilíbrio e saúde da criança!
-Óh! Isso
era noutros tempos. Agora é tudo diferente, dizia a Avó absolutamente inconsciente
e contente. Até sorria, indiferente, concordante como o choro da neta e o
ambiente circundante.
- Talvez
seja por isso que há tantos, desequilíbrios nos jovens, minha amiga, disse-lhe,
com leveza.
Hoje, não lhes dão a atenção que merecem e necessitam, e levam os bebés para as creches, para não terem trabalho em
casa, mesmo mães que não laboram fora do lar.
Depois, quando crescem, esses mesmos seres levam os pais velhinhos, aos lares. Nunca mais lá voltam.
Talvez
inconscientemente seja a vingança e do mesmo abandono…
E lá me despedi, com pena
daquele inocente bebé e fui pensando.
Nós, na matéria, não possuímos absolutamente
nada! Estamos dependentes de tudo e de todos.
Não temos
família. Os pais são apenas companheiros de jornada que desceram para aprender
a partilhar.
Não temos
amigos. Os amigos não se cruzam por acaso. Recebem e dão. Trocam experiências
ao longo da caminhada, mas há muito poucos, pois quem ama é generoso e poucos conhecem a generosidade...
Não temos
filhos.
Não temos ninguém.
Todos somos almas que se cruzam, apenas de passagem.
E…Curta…
Ninguém é de ninguém!
A
fragilidade é tão grande que ninguém tem poder para dar vida a outrem, quando o
tempo se esgota e é chamado para outra dimensão.
Portanto,
cada um de nós não é mesmo de ninguém.
Nem ninguém é nosso.
Nunca! Nunca!
Mas não só
as pessoas, como os objectos, as coisas, as situações. Nada é de ninguém! De
repente tudo se pode perder. Tudo !!
Ora pense
bem.
Ter esta
consciência acaba por ser tão libertador, que necessariamente tem que mudar
tudo, nas nossas vidas.
· Apego. Ganância. Ciúmes. Inveja.
Vaidade….Por quê e para quê?
· Sentido da responsabilidade e gratidão,
claro!
- Jamais :”ele não me faz feliz”...
-Cobranças. Luta pela posse do que quer que seja, é ridículo.
-Orgulho de ser rico. Ganancioso passa a ser infundado.
Mas se assim é, pode - se perguntar:
- Então se nada me pertence, o que são estas coisas, estas pessoas, que
estão à minha volta?
- Tudo isto pertence à vida.
Tu servir te- ás de tudo isso, por bondade.
Cedência. Empréstimo. Generosidade e partilha, enquanto vives. Depois, fica cá
tudo entregue a…Sabe Deus a quem e para quê.
Delicadeza. Encantamento e alegria e sobretudo extrema gratidão, naturalmente
impõem-se por si, pois tudo nos foi concedido.
Doado pela vida.
Pelo Universo.
Pelo Criador!
Então a lição será:
· Um presente para usufruir.
· Aproveitar, com satisfaçais e apreciando ao
mínimo, a beleza e a grandeza da oferta, mesmo que seja só uma flor abrindo,
mas que nossos olhos conseguem ver, fazê-lo com extremo prazer e gozo, como um
poeta sabe sentir e apreciar.
· Partilhar o muito ou o pouco, com
alegria, é outro segredo e postulado da verdade , agora reflectida e aceite. ( Quando você compartilha algo, o que sobra
multiplica-se e cresce. W. Clement Stone)
E tudo isso, por que razão?
Para todos aprendermos a largar.
A desapegar, pois nascemos nus . Frágeis . Sem nada e partimos, na mesma condição, frágeis e
nus!
O intervalo curto, a passagem foi um empréstimo em todos campos,
com a liberdade de bem se viver. De sermos felizes ou desgraçados, colhendo o
que semeamos, em liberdade.
Veja, finalmente, como ao saber que nada possuímos...Que nada nos pertence, leva-nos a mudar de atitude:
Sobretudo, a agradecer sempre.
Por tudo. Em tudo.
E tudo isto aguça o nosso cuidado para não,
perdermos tempo com lamurias. Nem maldades para connosco mesmos.Para com os outros e muito menos, para com TUDO o que nos é oferecido, pelo Criador,
Universo, seja qual for o nome que lhe quiser dar…Começando pelo MILAGRE DA
VIDA!
Usufrua e seja feliz. Grato e livre
de apego. Cobiça e
complicações, mas viva em paz e alegria, contribuindo
ainda para a subida de vibração
deste Planeta Terra tão
pouco respeitado,
devido ao orgulho e posse invejosa e
exagerada e até desonesta, de bens supérfluos, que afinal
pertencem a toda a Humanidade, não é mesmo?
Acordar para quem você
é, requer desapego de quem você imagina ser. Alan Watts
Coimbra, 5 de Janeiro de 2020
Coimbra, 5 de Janeiro de 2020
Lucinda Ferreira