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sábado, 11 de outubro de 2014

Textos e Pretextos - VIAGEM INTERIOR..

Textos e pretextos



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VIAGEM INTERIOR

Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.




Escrever é um acto de  amor. Exige silêncio,
Gosto de criar. Comunicar. Partilhar.

Algumas pessoas em sintonia, retribuem-me com a sua opinião sobre o que lhes ofereço, o que muito agradeço.

Assim como o artista no palco não fala para as paredes, quem escreve também não. Embora o impulso inicial possa ser o puro prazer de criar.

Vem de longe esta alegria do texto. Tinha dez anos quando saiu o meu primeiro artigo na Comarca de Arganil.

Com 4 ou 5 anos, lembro me de fazer companhia a uma Tia Avó, Maria do Espírito Santo, que criou meus Pais.

Foi “entrevada” – como dizia meu tio carinhosamente , sobre a entrevadinha  - durante 14  anos. Sempre na cama!

Eu ia para a cama para junto dela. Ela dava uns ais muito fundos…Lembro-me.

Deitava-me do lado de dentro, já que a cama estava encostada à parede.
 Descobri um lápis  ou inventei um (…) e enquanto fazia risquitos na parede, ia perguntando, vezes incontáveis:
 - Madrinha, quando é que eu vou para a Escola?

Um fascínio desconhecido e muito forte que ainda hoje guardo, crescia cada vez mais dentro de mim.
 Aprender todos os dias algo diferente, dá-me imenso gosto.
Aprendo com tudo e com todos!
Agora com a net estou encantada…
Tenho o mundo num clic mesmo ali à mão.

O Senhor Frazoa do Liceu Passos Manuel em Lisboa ia passar férias na Vendinha.

Um dia, achou graça à miúda e teve a ideia de me levar com ele a sua casa. De mostrar uma cartilha de João de Deus.

Lembro me como se fosse hoje. Meus olhos devem ter  brilhado como a estrela da manhã.
Eu morria por ter papel …Livros..Mas não tinha nada!
Tinha contudo, o canto dos pássaros. O ritmo da Primavera explodindo dentro e fora do meu coração. Da minha alma pura de criança. Da minha fome de saber, sem porquê.

O  Senhor  Frazoa começou a ensinar me .
Foi interessante. Numa semana, eu conhecia as letras e...Juntava-as e …
Comecei a ler de repente!

Surpresa para ele. Alegria para mim.
Que descoberta mágica, Deus meu!
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Recordo-me que tudo era fácil. Intuitivo. Parecia que estava a aprender coisas que já sabia, sem saber que sabia…
Dava-me uma alegria tão grande  que  só queria estar a aprender…Aprender!

Para reforço do meu encantamento, o Senhor Frazoa dava-me um tostão. Dois tostões e até cinco tostões! Uma fortuna.

Quando fui para a Escola era sempre melhor aluna, mas hélas!!! Isso valia –me muita pancada dos colegas-
 E… eu chorava. Não sabia o motivo por que me batiam, na minha ingenuidade de criança. Não era capaz de me defender. Algumas e alguns eram tão grandes…
Ninguém ligava. Eram coisas (…) de miúdos.
Lembro-me que tinha muito medo daquela violência…

Para bem e para mal, a professora fazia- me ler os meus textos em voz alta. Enquanto os  outros apanhavam reguadas com um sarrafo vermelho, eu levava um beijo.
 Isso era motivo de muito ódio. Raiva  contra mim.

Na catequese, o Senhor Padre Francisco da Mata Mourisca , hoje Bispo em Angola, dizia:
-O Lucindita, és formidável!
E dava me um santinho. Eu escolhia sempre Nossa Senhora da Conceição com os Anjinhos. Ainda hoje me acompanha…

Eu não queria que ele dissesse aquilo. Até muito tarde não sabia  a razão.

Ao longo da minha vida, que nada tinha a ver com competição com os outros, mas comigo mesma. Com aquele desafio que me fazia viver aventuras sempre novas . Conhecimento. Novidades. Vivia nas nuvens de felicidade.…Era um impulso impossível de conter que me vinha da alma. Saber  coisas novas sobre os astros. As pedras. A composição da água.  Fazer coisas lindas.

Mas…isso incomodava quem me rodeava no trabalho.
 Na família mais tarde (…) e até noutros locais…

Levei muita pancada. Alguma real. Outra sob a forma de calúnia. Violência. Traição. Ciúme. Inveja feroz. Falsos testemunhos. Tudo!

Nessa altura, lembrei-me da minha infância …

Do quanto sofri sem saber a razão. Dos motivos das reações das pessoas. Da crueldade de algumas crianças .E alguns  adultos , na vida adulta. Não me matavam , porque...
Mas há muita forma de matar o outro…

Entendi também de como amor e dor só cada um de nós pode viver em sua alma.

Percebi bem como se fica desprotegido quando se é frágil, perante certas criaturas…Circunstâncias.

Ligada à Fonte, vai-se fazendo luz. Compreende-se. Sente-se…Tudo como se estivéssemos naquele tempo atrás ou mesmo hoje.

Mas…Não vale a pena, Amigos. 
Todos têm seus dons.

Gratidão. Solidão. Perdão…
São palavras que rimam e são a verdade - chave da minha vida que amo e agradeço todos os dias ao Criador.

11 Outubro 2014-Lucinda ferreira