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domingo, 27 de dezembro de 2009

UMA HISTÓRIA PARA CRIANÇAS


A maçã de ouro

Como era costume todos os sábados, a mãe do Miguel e do André, foi comprar fruta ao supermercado.
Comprou laranjas, bananas, peras e também maçãs.
As maçãs eram vermelhinhas e cheirosas.
Chegou a casa e os meninos até ajudaram a arrumar as compras.
A meio da tarde, o André pediu à mãe uma maçã.
- Mãe, posso comer uma maçã?
- Claro, meu filho.Mas antes, lava-a.Descasca-a.
André tirou uma grande e linda maçã.Tentou descascá-la.
Mas…
- Ó mãe, não consigo meter a faca nesta maçã tão dura…
- Não consegues, meu filho? Já te ajudo.
Entretanto o André fazia cada vez mais força…cada vez mais força com a faca, que quase se entortava.
Quase que cortava um dedo, de tanta força fazer.
- Ó mãe, ela é mesmo dura!Nem parece uma maçã verdadeira.Parece de ferro.
-Ora dá cá, André.
A mãe tentou cortar, mas também não conseguiu.
Insistiu.Insistiu.Insistiu até que pediu ajuda ao marido.
-ò Nuno, anda cá. Vê lá se és capaz de cortar esta maçã. Eu não consigo fazer mais força.Quase já parti a faca!
- Ora essa. Dá cá a maçã que eu parto já isso.
E fez tanta, tanta força que a maçã rolou pelo chão fora. Parecia uma pedra…
- Ora esta.Nunca me aconteceu uma coisa igual. O que é que se passa aqui?
-Também não percebi bem.- disse a mãe.
E os filhos surpreendidos à volta dos pais, até achavam engraçado aquela aventura. Aquela agitação de toda a família.
- Ò pai, vamos pedir ao avô Victor para ele tentar cortar a nossa maçã.
- Pode ser. Ele tem uma serra eléctrica.
E lá foram todos, a casa do avô Victor.
Quando chegaram, contaram o que estava a passar e o avô disse:
- Olha que esta está boa. Por quê tanto problema para cortar uma maçã?
E começou a tentar cortar a maçã, como fazia habitualmente.
Os meninos e os pais olhavam com os olhos colados no avô, que fazia cada vez mais esforço para cortar a maçã e…nada conseguia.
A certa altura, o avô já irritado, foi buscar a serra eléctrica. Mas nem com ela, a conseguia cortar.
Então começaram todos a pensar, como se havia de resolver aquele enigma. Já não sabiam mais o que fazer.
- Vamos a casa do teu irmão Carlos . - disse o avô.
E lá foram todos…o André, o Miguel, o pai, a mãe, o avô…
A maçã era o centro de todas as atenções daquela família , e de toda a gente, intrigada por um fruto tão simples e que ninguém conseguia cortar.
Primeiro, olhavam a maçã e sorriam. Cada um pensava ser mais capaz do que o outro, para conseguir fazer algo que o outro não podia.
Depois experimentavam. Nada conseguiam e esperavam pela solução , sem saber como resolver. Não percebiam o que estava a acontecer.
Então o tio Carlos, lá repetiu tudo.
Fez um esforço de dragão e disse:
- Acho que vou conseguir com um machado que aqui tenho, que tudo parte!
Mas ainda assim, não conseguiu.
Então lá foram todos falar com a autoridade mais próxima, o presidente da junta de freguesia.
O André, o Miguel, o pai, a mãe, o avô, o tio…todos juntos e cada vez mais intrigados com a maçã vermelha, lá foram.
Ao chegarem, encontraram um velho rabujento que tinha tantas situações para solucionar, que achou que aquilo era simples demais. Não devia ser incomodado por semelhante coisa.
- Então, ainda tenho que resolver este problema absurdo de cortar um raio de uma maçã?
- respondeu o presidente da junta de freguesia.
Todo fanfarrão, tentou, mas nada conseguiu.
Desistiu e mandou-os ir ter com os homens de uma pedreira, para tentar cortar a maçã misteriosa.
Lá foram todos, agora também se juntou ao grupo, o presidente da junta de freguesia, cheio de curiosidade.
Quando chegaram, o canteiro começou a raspar…raspar…raspar a maçã e disse:
- Então, ainda não perceberam, que isto é um metal? Esta maçã é de metal! Não é uma maçã vegetal. Normal.
- Metal?!- repetiram todos em coro.
Então o pai disse:
- Vamos a um especialista de metais para saber que metal é este.
- Vamos! – repetiam os miúdos, encantados pela aventura de toda a família, como se fosse um jogo de crianças.
E lá foram todos, cheios de curiosidade, à procura do detector de metais.
Então ao chegarem, o senhor Magalhães abriu muito os olhos e disse espantado:
- Esta maçã é de ouro, meus amigos! Ouro do melhor quilate! Têm aqui uma verdadeira fortuna.
Todos contentes, pagaram ao avaliador de metais, tão boa notícia, e lá foram todos cada um para a sua casa.
Ao chegarem a casa, cansados mas contentes com esta feliz novidade, arrumaram o que tinham a fazer e logo agenderam uma reunião de família, para se resolver o que iam fazer com tanto dinheiro!
Os miúdos “estavam em pulgas” para também darem a sua opinião. Para saberem as novidades…
Ao outro dia ao jantar, o pai anunciou:
-Vamos vender a nossa maçã!
-E depois, pai, ficamos ricos?- perguntou ligeiro, André, o filho mais velho.
- A mãe sorriu, olhou para o pai e também esperou pela resposta…
- Como é que vocês acham que devemos gastar este dinheiro? Quero ouvir a opinião de todos vós.
- E se comprássemos uma casa melhor? Maior?- disse o André.
- Eu gostava de ter uma cama nova, pai! – disse o pequeno Miguel
- Está tudo bem. E talvez também possamos ter um carro melhor, um Audi novinho…
- Estamos muito egoistas, mas eu também tenho um sonho: fazermos uma viagem em família.Vivermos um tempo, numa ilha…- disse a mãe.
- E também temos que fazer uma Casa para os Sem Abrigo.- disse o André
- Muito bem, André. Tens razão. Temos que pensar sempre em quem não tem nada. Nós antes, também tínhamos só o necessário. Hoje temos tanto, meu Deus!
Todos agradeceram. Ficaram todos a pensar na viagem…
E se aqui havia frio, talvez houvesse um lugar , longe onde só brilhasse o sol, a tal ilha…
Arrumaram as suas vidas. Aproveitaram as férias e lá foi toda a família unida.
Chegaram finalmente à ilha das Flores. Alugaram uma linda casa à beira mar, rodeada de verde e de flores coloridas…
O mar ali à volta era verde azulado da cor dos olhos do André…
A temperatura era morna. Quente. Muito agradável. O mar tão mansinho que se podia brincar , quase como num lago manso e suave. Os passarinhos cantavam alegres e sem medos. Vinham comer na mão dos nossos amigos cheios de alegria…
O Miguel não se cansava de repetir a toda a hora:
- Quero ir nadar! Quero ir nadar!Quero ir nadar!
O André pegou na guitarra e muito feliz a olhar para o mar imenso que parecia um lago, começou a tocar.
A certa altura, o André olhou para o mar e viu uma linda menina um pouco estranha como nunca vira antes. Esta menina era metade peixe e outra era uma formosa menina de cabelos muito loiros e olhos muito azuis.
Fez de conta que não viu nada. Ignorou aquela linda “Princesa”. Continuou a tocar, mas agora tocava tão bem, que até ele se admirava.
No dia seguinte, à mesma hora, foi para o jardim tocar na sua guitarra.
Reparou que a linda Sereia lá estava outra vez.
E foi assim durante uma semana…duas semanas…três semanas…um mês.
A certa altura, morto de curiosidade, o André resolveu ir falar com a pequena Sereia.
- Como te chamas, linda Sereia?
- Chamo-me Rita, Menina do Mar.
- Onde é que tu moras?- continua André.
- Moro no Mar.
- Quem são os teus pais?
- São a Rainha do Mar e o Rei do Mar.
- Como é que vieste ter aqui e por que razão?
- Vi os peixes todos a nadar nesta direcção e resolvi segui-los, até que vim parar aqui.
- Eu estou sempre aqui todos os dias, à mesma hora.
- Ensinas-me a tocar esse instrumento em forma de coração?- disse a Sereia.
- Este instrumento não se pode tocar no mar, porque se estraga dentro de água.- disse André.
- Então, ensinas-me a cantar?
- E tu não sabes cantar?- dizia André, enquanto o seu irmão, Miguel, espreitava e ria… ria às gargalhadas.
A Sereiazinha até se assustou.
Então, só aparecia quando o André estava concentrado. Sozinho a tocar guitarra.
Experimentaram e começaram os dois a tocar e a cantar. Era tão belo e harmonioso o que se ouvia, que até os peixinhos paravam todos, com a cabecinha no ar para escutar aquele dueto dos amigos.
Era tudo tão bom, pacífico, belo que sobretudo o André estava tão feliz, que já não queria sair mais da ilha das Flores!
Mas um dia, a família teve que regressar a casa, para continuar a sua vida de trabalho.
Lá longe, quando estava triste, o André pensava na Sereiazinha.
Rita, a menina do Mar, também sentia saudades de André, no seu coraçãozinho de Sereia.
Todos estavam sempre desejosos para voltar para a Ilha Encantada.
Um dia quente de Verão, chegaram finalmente à ilha.
André foi a correr para o jardim, para esse lugar mágico do encontro…
Tocava, tocava guitarra, esmerando-se o mais que podia.
Queria partilhar o seu progresso com a sua amiguinha, mas…a Sereiazinha, passaram um dia, dois dias, três dias…uma semana e ela nunca mais apareceu.
Embora triste, André continuava sempre a tocar na esperança de a ver voltar…
O seu amor pela Música e pela sua guitarra não podia parar.
Agora as canções eram muito mais belas, repassadas de uma doçura triste e uma saudade sem limites.
Aquela imagem da sua Sereiazinha nunca o abandonava.
O som do seu canto, enchia os seus dias de sonhos e mistérios.
- Por que será que ela se foi embora? – perguntava André para si próprio em cada momento…
E voltou para sua casa, triste sempre a pensar que ainda um dia havia de a encontrar.
Por que sem a sua Sereiazinha, para quem é que ele havia de tocar?
Porto, 21 de Dezembro de 2009
Texto: Lucinda ferreira
Ilustração: André Monteiro (8 anos)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal 2009


Não há outro dia como este

é Natal

Não há

Outro dia igual

Entregasmo-Te os velhinhos

Crianças

Os que estão sós

Os nossos Filhos

Os nossos Pais

Os nossos Avós

os que estão em guerra

Os que não têm que comer

Os que estão doentes

Os que não têm casa, nem pão

Os que estão a morrer

Os que vão na estrada

os que não têm família, em solidão

Os que não têm nada

Os que estão a nascer...

Os que partiram

A esses q1ue moram no céu

Recebe-os perto do Pai

Envoltos no véu

de Paz

de amor e de Alegria

Neste Natal, neste dia!

Esconde-nos a tods no teu coração

Asaa brancas

Música de Anjos

O calor da família

O amor em nós

Alegria no coração

Leva-nos a todos e a cada um

Seguros, contigo

Leva-nos a todos

Pela mão.

Porto , Natal 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um poema para Anita

Anita , andorinha
Menina
Ligeira e airosa
Perfume
Rosa…
Anita, fada madrinha
Pura
Formosa
Anita, andorinha
Menina
Rosa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

So uma das minhas fotos


Hoje vai só uma foto com voitos de Festas natalícias muito felizes ! Lucinda

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Simetria do Amor






Simetria do Amor







O amor é simétrico
Milimétrico

Exacto

Imediato
Sem porquê
É porque é
E se assim não é
É porque não é
Milimétrico
Simétrico
Sem porquê


Exacto


Não é.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Estrela da Manhã


ESTRELA DA MANHA

Há palavras que se gastam. Rompem-se. Repetimo-las. Entram por um ouvido e saem por outro.
Inútil para todos , estarmos a perder tempo.
Ao reflectir sobre este facto, surgiu este texto, sobre o tema que adivinhais…
Ressaltou o enquadramento geral, a época, a cultura, as condições do acontecimento, o papel da Mulher na sociedade Judaica e a atitude de alguém que é abordado , com desconhecimento total por algo que se irá desenrolar , em que a própria seria a visada número um, para que o projecto pudesse avançar.
Muito lhe ia ser exigido em sofrimento e amor…
Incompreensão. Difamação e má fé. Solidão. Sacrifício. Humildade. Aceitação.
Também grandes alegrias a esperariam, no meio de tanta surpresa. Novidade.
No entanto , teria que ser muito especial .Ter qualidades para além do comum, sem dúvida.
Paciência. Entrega. Doação. Disponibilidade interior. Confiança. Determinação até ao fim. Fidelidade. Compromisso. Dedicação. Força. Amor. Coragem. Harmonia. Mas…a base contudo, teria que ser uma Fé sem limites. Uma entrega incondicional.
Uma menina honesta, formosa, comprometida, integrada numa sociedade fechada. Que estava onde devia estar. Num meio pequeno. Num tempo de limitações absolutas, recebe a vista de um ser incomum que lhe faz uma proposta ousada, anunciando que justamente ela, a cheia de graça, fora escolhida para colaborar num plano de Deus, sem precedentes.
Para ser a Mãe do Salvador.
- Mas como, se não conheço homem?! - Não te preocupes. O Espírito de Deus descerá sobre ti . Conceberás por obra e graça do Espírito Santo. A Deus nada é impossível.
Imaginamos, como foi preciso confiar e entregar-se toda…
Como a autenticidade prevaleceu sobre a calúnia e o receio de julgamentos eivados de preconceitos maldosos.
(Modelo e coragem para as nossas vidas tantas vezes enxovalhadas injustamente (...). Mal julgados. Caluniados. Injustiçados.)
Maria, a bem amada (significado deste nome, Maria), nunca hesitou.
- Faça-se em mim, segundo a vossa palavra.
E a ponte entre o humano e o divino estabeleceu-se de imediato.…………………………………………….
Nunca visto nem pensado, embora já anunciado, muitos séculos antes, pelo Profeta Isaías, o acontecimento desta noite maravilhosa, em Belém!
“O boi e o burro estarão junto do berço do Senhor.”
Hoje sabemos tudo, mas Maria nada sabia naquele momento do anúncio do Anjo Gabriel.
NADA! Só os olhos da Fé a orientavam.
Mas a menina, estrela da manhã, não vacilou.
Grande era a sua alma!
Além de irmã, tornou-se assim, mãe de toda a humanidade.
“Montanha inacessível ao pensamento humano.
Estrela que anuncia o Sol que vai nascer.
Oceano impenetrável ao próprio olhar dos Anjos.
(…) nela, todas as criaturas são recriadas.
Enxugas finalmente as lágrimas de Eva.
És tu quem levanta Adão da sua queda.
(...) em ti , o Criador se tornou Criança.”
Sem ela, nada seria possível.
Foi o seu sim sem reservas que nos trouxe, o grande Presente, que depois de 2009 anos, continua o Presente eterno da bondade de Deus Amor para com cada um de nós.
Tornou-nos Filhos de Deus . Herdeiros dos Céus!
É justa uma referência ao Homem, que estando Noivo, tem a surpresa de saber que a sua prometida está grávida, sem nunca lhe ter tocado…
Só pondo-nos no seu lugar, sentiremos a sua profunda dor. Homem bom, tudo esconde. Tenta contudo, abandonar a noiva em segredo.
- “José , não abandones Maria, porque Aquele que nela é gerado, é fruto do Altíssimo” .- segreda-lhe o Anjo em sonhos…
Também aqui, a Fé e a disponibilidade interior, se apresentam evidentes e excepcionais, em José .
E o plano de Deus avança.
O Salvador nasce numa manjedoura, despojado de tudo.
São os homens bons, simples e humildes que pastoreiam ali à volta, que são convidados por um Anjo vindo das sombras, a saudar o Menino-Deus , numa noite fria, sem quaisquer condições, num estábulo.
E lá está a Mulher, a Mãe, Maria a cheia de graça, no seu melhor, dando-se na totalidade do seu coração, sem qualquer reserva de todo o seu ser.
Mãe é o ser mais disponível do universo.
Sem ela, o plano de Deus, de humanização, não avançaria.
Deus em tudo igual a nós , menos no pecado, como seria possível ?
…………………………………………………………..
Parto numa gruta. Logo de seguida, a aflição de lhe matarem o Menino. Foge a Família por montes e vales. O burrinho colabora.
Inicia-se a perseguição ao Amor, feito carne…até ao fim!
Imagina-se a dor . Aflição. Impotência da Mãe, perante o sofrimento de seu Filho, que ela ama. Mãe não tem limites para o seu amor.
Sentimos e vemos, como para haver Natal, tudo assenta no sim de uma Mulher, amor sem limite, a tal Estrela da Manhã.
O seu brilho atraiu o coração de Deus.
Encheu-a de graça .
Fê-la mãe do Salvador. Mãe da transmutação, da alquimia da dor…
Silêncio . Amorosa cumplicidade no plano de salvação, para a eternidade.
………………………………………………………
Obrigada, Maria, mãe e mulher de excepcional grandeza, distinguida para Mãe de seu Filho muito amado, no qual Deus-Pai põe toda a sua complacência.
Ainda, Natal dos Reis Magos, vindos da Arábia e da Pérsia.
Homens de grande Ciência que conheciam os sinais dos astros, os velhos Livros dos segredos maiores. Gaspar , Melchior e Baltazar, guiados pela brilhante Estrela, até à Gruta da Judeia, perto de Jerusalém, trazem Ouro (presente para a realeza). Incenso (devido à divindade), Mirra (para inumação dos corpos, falando da humanização de Jesus).
...e no final de tudo, um coro de vozes harmoniosas, de uma doçura indizível, ecoa nos ares, naquela noite misteriosa e transformadora…
“Glória a Deus nas alturas
E paz na Terra aos homens de boa vontade”
Tantos sinais para agradecer…
Quem não encontrou ainda em sua vida, a ESTRELA DA MANHA, aquela que enxuga as nossas lágrimas?
Ei-la!
Feliz Natal, amigos!
linmare@edicomail.net



domingo, 6 de dezembro de 2009

Sintonia


Há pessoas que vemos uma vez,mas como um clarão iluminam o nosso caminho com tal luz, que nunca mais lhe perdemos o rasto .


Foi assim com a Mimi.

Separadas no espaço ,mas próximas por dentro.


Penso que nos conhecemos desde toda a eternidade ,porque vibramos numa onda muito semelhante .

Quando nos encontrámos, foi a alegria , pq já estávamos próximas sem o sabermos.


Nota:

Este comentário dedico-o às Mimis da minha vida, que podem ser homens ou mulheres, pobres ou ricos, crianças ou idosos ...vivos ou desencarnados...


São todos os que venho cruzando na minha vida que um dia entraram e nunca mais vão sair!

Amo-vos muito e estou grata por existirem na minha vida

Comentário da linda MIMI de Beja


Nota:


A Mimi é das pessoas mais lindas por dentro e por fora, que conheço e por isso dá-me mt alegria transcrever o seu comentário, que não conseguiu escrever no blog.


Muito obrigada, querida Mimi!


Só vê a beleza dos outros, aquele que a possui em abundância em si próprio.


Vemos o mundo com aquilo que somos...não há dúvida

A Estética da Recepção diz isso e muito mais ...



"Sublime é a beleza da tua alma...obrigada !
Beijos
Mimi
"

Sei que ele vai voltar


Primavera


Diz que vai voltar,
O Príncipe
Não sei quando será
Mas sei que virá
Tenho a certeza
Que ele
Não partiu
Apenas se escondeu
No mais secreto de mim
Jardim selado
Silencioso
Mistério
Segredos
Na sua ausência ninguém o vê
Só nós sabemos porquê
Sublime espera
Sei que voltará
Vestido de luz
Nada será como era
Agora para nós
É sempre Primavera


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mecanismos do Amor




Para variar , vai mais um flash pequeno e sonhador...



O que vale é que o "poeta" é um fingidor, mas enquanto sonha ..."o mundo pula e avança"...







Mecanismos do Amor





Entrou.
Tudo se iluminou!

A sua presença

O seu jeito
Suave
De mansinho se fez luz

Vestiu-se de beleza
A natureza
O Céu
Abriu em flor

Magia?
- Não!
A força suprema do amor
Fugiu o medo.
A tristeza.
A noite em dia se mudou.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Mecanismos da alegria"




Mecanismo da alegria”




Hoje, o Príncipe
Veio ver-me…
Vinha vestido de luz.
Todo o seu ser
Resplandecia
A sua essência emergia
Pura. Nua .
Sem porquê.
Oferecia-se-me
Em taça dourada
Simples
Perfumada.
Os olhos brilhavam
Húmidos
Profundos
Como aquele mar
Que trago escondido
No fundo do peito
Aquele amor perfeito
Que não tem princípio nem fim.
Cativo.
Anónimo. Simples.Antigo.
Assim…
3.12.09

Aceitação



"A ACEITAÇÃO

Até ao sistema de perdas eu já expliquei. Pois hoje, quero falar-te da sequência. Do que acontece a partir da perda. Para nós, cá em cima, a perda é sinónimo de fragilidade. O ser perde para se fragilizar. E fragilizar para quê? Para obrigar a ir lá dentro, ao centro do sentimento, aceitar, aceitar que as coisas acontecem, e vivenciar o que tiver de vivenciar nesse momento.
Se a pessoa não se fragiliza, se não se conecta com a sua emoção, nesse caso, as perdas vão sendo cada vez maiores, para que se dê o ponto de contacto. O ponto de contacto é o momento preciso em que a resistência baixa para zero, e o ser se conecta com ele próprio, com o que verdadeiramente sente, e é iniciado o processo de aceitação.
O processo de aceitação é quando a pessoa interioriza que não é nada perante o Universo na sua totalidade. Quando percebe que se as perdas lhe aconteceram foi porque as atraiu, nesta ou noutra encarnação. Quando interioriza que tudo se vai transformar na sua vida ao mudar de atitude, passará a agir de forma muito mais autêntica e universalista.
Ao aceitar, o ser começa a abrir-se para o infinito, para as novas dimensões. E é lá que vai buscar inspiração e luz para iniciar o próximo processo pós-perda. O processo de ascensão."
JC

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Reencontro - conto




Conto: O REENCONTRO





Zélia acabara de ler o seu nome na lista dos professores escolhidos para estagiar um ano na Alemanha.
O sonho disparou dentro de si.
Viajar e conhecer novos horizontes era algo que alimentava a sua alegria de viver!
Antes era o entusiasmo da preparação.
Durante, a emoção da descoberta. O usufruir do mundo circundante, diferente e sempre novo, acolhido como o “presente” do momento que logo se esvai.
Após, quando se descodifica. Interpreta. Se vive de tudo o que o coração arquivou por o ter tocado. A língua francesa lá o expressa: “savoir par coeur”.
………………………………………………………………………………..
Vencidas as dificuldades da viagem e de toda a adaptação, chegava-se a Dusseldorf.
A Universidade era ponto de encontro de gentes variadas, vindas de todos os recantos.
Zélia, como sempre, mantinha-se atenta aos sabores, às cores, às mensagens emitidas à sua volta, à cidade, aos costumes, aos sons, enriquecendo assim o propósito primeiro da discussão das matérias a aprofundar.
Nos encontros e desencontros humanos, observa com todo o interesse, as culturas em todas as suas expressões, gestos e comportamentos diversos. Inesperados.
Zélia era simpática. Sorridente e calorosa sem ter que fingir nada. Era naturalmente assim. Sem ser aquela beleza clássica, era contudo vistosa, interessante e não passava despercebida.
………………………………………………………………………………..
Nesta cidade alemã de muitas misturas, tudo podia acontecer.
O quarto ao lado do seu, de um senegalês alto, de pele bem negra e brilhante, recebia no mínimo, cinco a seis loiras por noite, com algumas variações que ninguém escondia.
Os sons…os barulhos…o reboliço até altas horas, eram demais para quem tivesse hábitos pacatos. Mas tudo fazia parte de tudo.
No corredor, ao cruzar com outro africano não menos confiante do que o vizinho de quarto, fora abordada sempre com a mesma naturalidade de quem vive em família, para responder a uma pergunta disparada à queima-roupa:
- Gostas mais da sombra ou da luz?

Zélia não se apercebeu logo do alcance daquela questão. Respondeu contudo, em língua alemã, fio condutor e elo de ligação de todos os estagiários, como uma mulher assumida do sul, do País da claridade.

-Gosto de luz. Vivo em Portugal, no país do Sol.

O jovem negro interpretou o simbolismo da resposta, tal como formulara a questão, cheio de segundas intenções.
Sempre que se cruzavam, não deixava de a olhar de soslaio, sem contudo forçar a situação.
No grande campo universitário de extensas e amplas relvas bem cuidadas, se estendiam os jovens lendo, ouvindo música, conversando ou…amando.
Naquele mar de raças diversas, gentes vindas de todos os cantos, um dia, Zélia deu de frente com uns olhos azuis, azuis da cor das hortênsias que deixara no seu jardim.

- Será que estou a ver bem? Um pedaço de céu azul do meu Portugal, em dias limpos e serenos, que teima em não me sair do pensamento…Que coisa estranha. Nunca me tinha acontecido isto. Parece até que o coração bate mais forte quando tenho a sorte de os cruzar. Estranhamente, sinto-me enfeitiçada. Coisas do coração...e ”o coração tem razões que a razão desconhece”-

Recordava, tentando controlar-se, ser objectiva e sempre retomando o fio do pensamento, que lhe fugia como um cavalo à solta, necessitando como quem respira, de correr e de viver!

- Parece que nunca mais tive sossego. Preciso concentrar-me. Foge-me o pensamento.

Depois, como por milagre e como diz o Povo, “quem bem se quer sempre se encontra”, o inevitável aconteceu. Cruzou-se o castanho quente e louro de uns olhos cheios de sol e o azul, azul de mar das terras nórdicas.

-Talvez seja hoje, na fila do restaurante - pensava Zélia para si mesma.

Assim foi. Mesmo em cheio, os olhares consentidos, curiosos ambos, atraídos pela complementaridade da cor, da serenidade ou da inquietação que carregam, cruzaram-se bem fundo!
- Faz favor – disse o colega.

Zélia passou à frente e sentou-se numa mesa vazia. O colega seguindo-a, pediu licença. Ficaram sentados lado a lado. Encetou-se então uma larga e agradável conversa. Biorn, era assim o nome do eleito, também era professor de inglês e alemão. Temas para analisar e discutir não faltavam. Falou-se das impressões do lugar e das circunstâncias, de metodologias…culturas…história e política dos países de cada um. Este foi só o início. Depois todos os outros dias lá estavam os nossos dois amigos juntos. Sempre com assunto e encantamento mútuo. Crescente.
Ambos livres de qualquer compromisso e com tantas afinidades, o amor aconteceu! Diz-se que a maior parte das amizades entre um homem e uma mulher redundam em amor. Foi o caso: únicos um para o outro.
Caminhando na mesma direcção, eram tecidas de luz as descobertas que ambos partilhavam com uma alegria cada vez mais intensa e renovada.
Era profundo e verdadeiro o ser que se gerava entre ambos.
Lentamente, como as grande árvores que crescem devagar, um amor cheio de delicadeza, respeito, dedicação e fidelidade aumentava todos os dias um bocadinho mais.
A certa altura o enlevo era tal, que para Zélia bastava fixar Biorn: o sangue fervia nas veias; o coração saltava no peito…

-Meu Deus! Que choque me percorre todas as fibras do meu corpo, sempre que de mansinho, Biorn engalfinha os seus nos meus dedos…ou até apenas quando o seu doce olhar de veludo me envolve.
Como vou controlar este sentimento que me escapa tão veloz e escorregadio? A alma fugindo sorrateira, morando toda no seu mar. Nada já me resta?!

De facto, uma paixão intensa queimava-lhe a alma e até o corpo…
Já com alguma intimidade, Biorn sorria satisfeito, saboreando todo o néctar daquele amor do sul dedicado e cigano, roçando ao de leve...os lábios frios …no ouvido da sua querida, segredando-lhe, sussurando baixinho :
-Com esta mulher que é lume, quem é que se pode aguentar?...
Tudo o que restava da minha natureza céltica me fugiu sem dar por ela.
Arrebatas-me para regiões desconhecidas.
Zélia és uma feiticeira que me conduzes a viagens mágicas.
Caminhos nunca antes andados… e não sou de todo um adolescente.
Tenho exactamente como tu, trinta anos bem vividos.

Quando serenos conversavam, após o banho relaxante depois do encontro fogoso de corpos, almas e tudo o que dois amantes trocam no momento de suprema ascensão, riam e brincavam. Ele contava histórias fantásticas de barcos, veleiros, vickings com sabor a mar em que ambos eram protagonistas.
Príncipes e Princesas sonhando mundos e conquistas em que eram as personagens centrais.
Depois era de novo a realidade vivida com a coragem e o entusiasmo de quem se sente compreendido e bem amado.
Era o trabalho e o convívio alegre entre todos e os seus olhares enlaçados como um íman na multidão.
O amor e o fogo quem os pode deter?
Onde e como escondê-los?
Aquele romance inesquecível para ambos, que parecia para a vida inteira durou um ano. O tempo do estágio.
Depois regressaram aos seus países: Biorn voltou para a Suécia.
Zélia regressou a Portugal.
O compromisso inequívoco ficou no ar. Mas se longe dos olhos, perto do coração para alguns, para outros nem sempre assim é. A vida complicara-se .
De comum acordo e salvaguardando uma boa amizade, rompeu-se todo o resto. Dilui-se. Diluíram-se os sonhos mais lindos de Zélia não sem mágoa…Uma certa nostalgia envolveu-a durante bastante tempo.
Biorn também não esqueceu a sua amada do Sul. Não pôde ir tão longe quanto o seu coração. Ficou-se pela Suécia. Constituiu família com uma burguesa fria, prática e de modos pouco femininos que lhe saltou à frente, teceu uma teia, acabou por o comprometer e envolver em definitivo.
Biorn dizia para si mesmo:
-Isto não tem nada a ver com a doçura e a delicada sensibilidade da minha Zélia que não me sai do pensamento… mesmo quando estou com minha mulher..A verdade é que não consigo controlar.
Esta marca ficou gravada no mais íntimo do meu ser. Como libertar-me? Não sei. A raça, a entrega, a certeza e a verdade sem porquê daquele amor que Zélia me ofereceu, nunca mais o viverei…
Como me arrependo. Só culpa minha, bem o sei. Tenho momentos que me indigno da minha frouxidão.
Talvez por osmose ou por contágio, ficou-me a saudade, o sentimento comum que mora habitualmente no coração português, sei agora quanto pesa.
Esta nostalgia, este tédio e alheamento, como hei-de resolvê-lo? – perguntava--se algumas vezes.
Após a leitura de algumas páginas de um livro que fala de Portugal, fico absorto. Fixo o olhar perdido no além longínquo e sem fim…
Recordo Zélia, a mulher que me deu momentos jamais repetidos em minha vida. Como apagá-la da minha vida? Não sei.

Por sua vez, Zélia vivia ancorada àquele sabor, àquele perfume e aquele amor , sem nunca mais encontrar quem o suplantasse. Repetia, quando a interpelavam acerca da sua solidão:
- Mais vale estar só do que mal acompanhada.
-Mas por que não arranjas um companheiro? Tens tudo o que um homem deseja encontrar numa mulher - repetiam aqueles que a estimavam e a viam mal, sozinha.
- Porque ainda não o encontrei. Ninguém mexe comigo…Florbela Espanca dizia: “Um homem, quando eu busco o amor de um Deus”! Por vezes debato-me com tanta dúvida…
Na verdade, gosto de estar acompanhada, mas…com quem?
Será que busco um ser possível ou isso será uma desculpa para continuar fiel a Biorn, meu amor primeiro e único, que ninguém ainda conseguiu suplantar?
É que mal me aparece alguém, um pretendente, inconscientemente comparo logo, pela fasquia mais alta no que de melhor descobri em Biorn. Fico desanimada. Não consigo avançar, embora reconheça qualidades na pessoa.
Acho que integrei tudo dele. Aceitei tudo! Até o que não era o melhor, valorizei como positivo. Distanciando-me um pouco, tenho disso consciência.
Será sempre assim no amor? Para a vida inteira?!
Nem o tempo nem a distância conseguem apagar esta estranha força tão forte, sempre presente. Parece que cada vez estou pior.
O tempo não perdoa, eu sei. A alma sente mais intensamente. O corpo está menos flexível. Quando me vejo ao espelho, espreito...e descubro rugas e cabelos brancos que me vão pesando...
Bem afirmava o nosso querido João de Deus : A vida é sonho que voa.
Quando nos distraímos um pouco e nos descuidamos, a vida já passou.

Zélia nos seus longos monólogos e reflexão, continuava repetindo para si mesma:
- Às vezes esquecemo-nos de viver. Paramos no tempo amarrados a um passado que teimamos em não deixar ir. Só quando se apanha um susto, um desaire ou uma doença grave de que se escapa, uma tempestade que nos acorda, abana todo o ser, tomamos consciência de que ainda estamos ali. Só nessa altura queremos aproveitar o dia a dia. Vivos! É preciso viver. Agradecer à vida! Aproveitar as mil coisas lindas e simples à nossa volta, tais como uma flor abrindo.
O cheiro à terra molhada depois de um sol que queima a alma.
A imensidão do mar sereno ou revolto desfazendo-se num rendilhado
mesmo ali a nossos pés.
Sentir o frio e o calor…
Um pôr de sol ou uma flor entrando pela janela do quarto…
Tanta coisa bela afinal que tenho perdido nos meus dias plenos de obsessão. De um passado que não pode voltar!
Tenho que sair disto!

A partir desta tomada de consciência, Zélia começou a inventar estratégias para se manter alegre. Ocupada.
Descobriu que o melhor remédio para quem estar triste é dedicar-se aos outros. A quem precisa. A alegria só é grande quando partilhada.
Ela bem sabia que todo o estado de espírito da mente se reflecte em saúde ou doença conforme a qualidade desses pensamentos. Não podia continuar só no meio da multidão. Virada para dentro no seu egoísmo.
- Saber e não fazer, é como não saber. – repetia agora algumas vezes para si própria, Zélia que tentava mudar de atitude.
- Vou vencer este meu perfeccionismo que me dá cabo da vida.
Exímia em tudo que faço, para quê se isso não me faz feliz?
Inteligente, objectivou a sua dificuldade e tal como a ostra que do seu sofrimento faz nascer a mais bela pérola, Zélia aproveitou para crescer.
Entre muitos dos seus passatempos, havia um que ela adorava: viajar!
Sempre que estava livre da suas tarefas, viajar todos os anos, era obrigatório.
- Vou é até Londres. Lá, sinto-me no meu lugar por excelência. Tenho paz. Sinto-me bem. O geométrico, o arrumado, o contido e o aprumo dos saxões agradavam-me. Percebo agora que as impressões do meu colégio inglês me marcaram para sempre.
Vendo bem, o que me atrai em Agosto, em Londres, também é o clima ameno bem diferente das temperaturas extremas nesta nossa ponta da Europa, que segundo consta, estão aumentando um grau e meio em média, anualmente.
Neste sul do país que adoro, como vou suportar 40, 43 graus, na canícula, por mais que me meta na minha “toca” preferida? Custa-me mesmo aguentar este calor…
Grã- Bretanha está mesmo a calhar. Aproveito e revejo os amigos que ainda são o melhor da vida. Já tenho saudades …

Telma, Lúcia, Jacob adoravam a companhia de Zélia, feita de charme e simplicidade.
- Assim que chegar, é só dizer que vou, haverá um interessante roteiro organizado com festas, espectáculos de qualidade, passeios... surpresas. Sei bem o que me espera. Depois ainda tenho as minhas descobertas para fazer sozinha…Meto-me num transporte e lá vou sem rumo, com sabor a aventura. Aventura simples, emocionante e diferente de tudo que é organizado na minha vida rotineira a que me sinto obrigada. É tudo o que preciso, neste momento, um pouco cansada. Nada de rígidos horários. Aí vou eu toda contente.

Numa das suas deambulações sem saber onde iria parar, Zélia foi parar a Oxford.
- Fico sempre contente quando chego aqui. Nem eu sei bem porquê…
Gosto deste ambiente pacato dos grandes colégios, dos verdes e da cidade em si mesma. Sempre que revejo o filme “O clube dos poetas mortos,” revivo Oxford.
Depois, constatou:
- Desde que me separei de Biorn, num dia triste e chuvoso que nunca poderei esquecer, que me acontece algo estranho: inconscientemente procuro o meu amor por onde passo. Que tolice a minha!
Parece que o vejo de repente, com aquela expressão única que um dia me prendeu para sempre. Logo de seguida naturalmente, noto que me enganei.
Quando reparo num cavalheiro de olhos azuis, embora discretamente, tenho que confirmar que não é mesmo Biorn. Este meu coração é um eterno sonhador. Sem eu querer, até bate mais depressa.

Aflorava-lhe aos lábios um sorriso triste de desilusão, saudade e desencanto, desenhado no rosto expressivo e meigo.
Repetia para si própria:
- Zélia, és uma eterna criança. Ainda assim, nada de desânimos. Força. Um dia a vida ainda vai sorrir-te. O diabo não há-de estar sempre atrás da porta, como se diz por lá.

Tentava assim reconfortar-se para levar a bom termo o seu projecto de ressurreição interior. Desta vez, chegou a Oxford bem cedo.
- Vou dar uma volta pela cidade, em ar de saudação. Há sempre algo de novo a descobrir, mesmo quando se passa todos os dias no mesmo local, quanto mais aqui em que tudo muda constantemente. É engraçado que há sempre novidades. É como se fosse a primeira vez que visito esta cidade mágica!

Ao fim da manhã, sentiu-se cansada. Sentou-se um pouco e tomou uma bebida fresca e gostosa. Tranquila, pensamento vadio, absorta , fixava o vazio, recordando o seu Portugal, a sua vida. O olhar passeando perdido sem limites nem pretensões. Na mesa ao lado, escapara-lhe alguém de ar distinto, seguindo atentamente todos os seus gestos e distracção. Quando Zélia deu por isso, ficou embaraçada. Mais ainda, quando de repente, escutou:
- Desculpe, mas diga-me por favor, qual é a sua nacionalidade. - disparou quase nervosamente aquela voz ali ao lado, falando em língua alemã.
-Sou Portuguesa.
-É professora de inglês e alemão, aposto pelo seu sotaque?
- Sim. - respondeu Zélia intrigada.
- Quase arriscaria que esteve em Dusseldorf, no ano de 1967…
- Sim. – disse , já um pouco intrigada com este diálogo.
- Afinal, por que razão me faz essas perguntas? Quem é o Senhor?
- Não me conhece? – uma grande tristeza invadiu o seu coração.
Ela já esquecera tudo - repetia para dentro de si, como um eco de sabor a traição.
- Vive em Inglaterra? – insistia o desconhecido.
- Impossível responder a mais questões, sem saber com quem falo. – retorquiu Zélia intrigada .Sem poder acreditar. Sem querer admitir uma realidade tão fantástica.
- Por favor, Zélia! Como pudeste esquecer o timbre da minha voz.?! -disse, agora em língua inglesa, impaciente, quase desesperado.
-Todas as noites, me afastava de tudo e de todos, para escutar no mais fundo de mim mesmo, a música da tua voz. Recordar mais intensamente, o teu sorriso lindo que me têm acompanhado sempre …

Um calafrio percorreu Zélia. Quase desmaiou. Sem conseguir articular palavra, levantou-se. As lágrimas inundaram-lhe completamente os olhos. Correu para aquele homem ali à sua frente, tentando adivinhar o rosto de que se separara, 35 anos antes. Abraçou-o intensamente sem cerimónia, à boa maneira latina. Não eram necessárias palavras, fonte de tantos equívocos.
- És mesmo tu, Biorn? Meu amor! Não estaremos a sonhar? Que estás a fazer aqui? Estás só?
- Sim. Sou eu, querida Zélia. Minha mulher faleceu de doença prolongada. Meus filhos têm a sua vida. Ninguém precisa de mim. Como me sinto infeliz na minha solidão, sabe-o o meu diário fiel onde descarrego o que não posso dizer a ninguém, resolvi viajar. Sofremos todos muito com a doença de Melanie. Resolvi para espairecer um pouco, vir até Inglaterra onde um dia viemos nós dois. Era uma espécie de retorno confortável a alguém que eu nunca consegui esquecer. Mesmo que fosse só em pensamento ao rever os locais onde fomos felizes. Longe de mim, pensar que te poderia encontrar. Lembras-te quando viemos os dois, aqui?. Tentava virar mais uma página da minha vida. Recordar e encher o meu coração daquelas antigas imagens que foram os momentos mais lindos e verdadeiros dos meus dias.
E tu, que fazes aqui também, querida Zélia? Nunca me disseste nada de Ti por mais que te procurasse e insistisse. Não podias fazer isso comigo. Eu sempre fui sincero contigo. Tu recusaste ir viver para o meu país, sabes bem. Eu não podia sair de lá por motivos que te expliquei na altura.

Já num local discreto, longe da esplanada do grande encontro, Zélia tapou-lhe a boca. Beijou-lhe os olhos, onde ainda reluzia um pedaço do mesmo azul que guardara dentro de si.
- Não digas nada, Biorn. Ainda sinto um nó na garganta. Agora, não consigo articular palavra. A alegria também mata. Eu quero viver só para te olhar. Para te amar! Pega na minha mão, como sempre fazias há tantos anos. Ainda sentes como ela vibra? Diz-me que é verdade que não estamos enganados…Belisca-me! Vamos sair daqui, por favor.
- Sim. Vamos, mas podes estar tranquila que agora nunca mais te vou perder! Zélia. Quero morrer perto de Ti, querida!
- Tão depressa passou a vida, meu Amor. E ao mesmo tempo, senti que foi uma eternidade. Agora, estamos…velhotes, querido…
-Velhos???!! Nada disso! Querida, vamos viver o momento intensamente. Enquanto estamos vivos temos capacidade de amar. O amor não está só no físico. Tem que nascer antes de tudo, na alma. No mais secreto de nós mesmos.
O mais misterioso é que por vezes, nem sabemos a razão do clic.
Só somos velhos quando paramos de amar. A vida recomeça sempre que temos um sonho. Tu és única na minha vida. Sabe-lo muito bem.
Sinto hoje que nunca deixei de te amar. De pensar em TI.
Quantas vezes, na intimidade com minha mulher, eras tu a quem eu segurava nos meus braços…
- Não me digas essas coisas, Biorm… Quanto sofri pela nossa separação, nem te digo para não estragar a magia e o milagre deste encontro. Agradeço ao Céu que sempre me acompanhou. Nunca deixei extinguir a luzinha da fé e da certeza que ainda um dia, antes de partir, nos encontraríamos neste plano.
- Zélia, meu amor, que vamos fazer agora da nossa vida?
- Temos tanto que dizer...fazer…construir … que não consigo transmitir tudo o que me vai na alma. Para já, convido-te a vires comigo para Londres. Meus amigos vão ficar surpreendidos. Quase todos te conhecem por já lhes ter falado de ti. Vai ser muito bom.
Biorn não sabia bem o que dizer, mas poder reorganizar a sua vida afectiva com planos a dois, com um amor delicioso como este, fazia-o viver quase num mundo irreal. Sentia-se forte. Jovem, como há muitos anos atrás. O amor tem destas coisas.
- Se é isso que queres, querida, está bem. Nunca mais vou deixar de confiar na tua intuição. A inteligência do amor é para considerar sempre.
O resto, depois veremos. O mais importante é estarmos juntos novamente. Parece que no mais profundo do meu ser, sabia que este encontro seria inevitável por causa deste sentimento mútuo demasiado forte e verdadeiro, Zélia, tinha que produzir um efeito!

Naquele dia, o mais longo e o mais curto da vida de Zélia e de Biorn, um encantamento e uma alegria sem medida enchiam o coração daqueles dois seres em deslumbramento. Nada nem ninguém mais existia no universo. A emoção ocupava-lhes todos os espaços! Nada mais, para além deles, contava. Era um presente mesclado de saudades e de projectos. O silêncio entrecortava as palavras de quando em onde. Os olhos húmidos entrelaçavam-se, em beijos de luz e de um amor intenso.
É cruel devassar a intimidade dos amantes que se querem de verdade. Não acha, querido leitor? Agora só podemos adivinhar um pouco do futuro destes dois enamorados. Imaginar alguns dos seus dias.
Ainda assim, escutemos de longe o que pensa Biorn:
- Portugal é o melhor país do mundo para se viver. E pergunto-me: qual a razão por que tantos estrangeiros decidem viver a ponta final das suas vidas neste canto de paz banhado de sol e simpatia? Escondem-se nos mais recônditos cantos da terra portuguesa. Semeadas nas serras, as casas emergem tranquilas e solitárias. Se for no sul, é certo que albergam um casal holandês, alemão ou inglês. Eles lá sabem bem a razão e eu, como nórdico sem sol, também já o experimentei.
A Biorn, neste momento da sua vida, não lhe interessa questionar politiquices, economia, organização social, saúde ou educação...
Também não seremos nós a falar dos piores defeitos do Povo Luso: bisbilhotices e invejas próprias de um meio estreito e exíguo.
Jorge Dias, no seu estudo interessante sobre o carácter do Povo Português, apresenta matéria fidedigna para quem se quiser deleitar e aprofundar esta temática. No entanto, estamos certos que muitas dificuldades são esbatidas por este clima do sul, pela abertura simples e o acolhimento generoso tão português. Só espero, é nunca mais poder ouvir comentários como o de um cidadão vindo da Holanda que dizia:
“Coitados dos Portugueses. São básicos e palermas, pois que sendo tão pobres, oferecem tudo o que têm e ainda ficam felizes”
Para Biorn de facto, Portugal era uma espécie de paraíso onde estava decidido viver o resto da sua vida.
- Quero morrer em Portugal.Uma mulher, como nunca encontrei outra, roubou o meu coração, há muito tempo.– dizia agora muitas vezes.
Acho mesmo, que apesar de ter passado parte da minha vida num outro espaço, o meu pensamento e sentimentos, sempre me fugiram para esta terra Portuguesa onde o eu espírito sempre morou.

Zélia calma e doce, revia-se nas palavras de Biorn. Não sabia ela como inventar maneiras diferentes e únicas para o amar, para o fazer o homem mais feliz do mundo. Às vezes, conversava com o seu marido:
- Amores trocados, vidas truncadas é o que há mais. A vida é curta neste plano. As pessoas encontram-se para crescer com alegria, não te parece querido? Ora como só se aprende com quem se ama, é difícil evoluir na maioria dos casos em que se vive de uma lembrança. Certamente valerá a pena lutar para ser feliz, não achas Biorn?
- Sim. Sim. Nada compensa esta paz do encontro certo. Não andará por aí aos pontapés a realização pessoal de cada um. Facilitar resolverá o essencial?
Os frutos mais docinhos são os do cimo da árvore. Apanham mais sol. São os mais difíceis de colher. Aos outros toda a gente chega.

Para Zélia e Biorn terá sido bom nunca terem perdido a esperança. Acreditarem firmes no reencontro, acreditem. A sintonia compensa.
Passei há tempos, com um grupo de colegas professoras, pelo Alentejo numa jornada de lazer, para ver as amendoeiras em flor e recordar a lenda da Princesa nórdica que tinha saudades da neve. Eis senão quando... nos deu nas vistas, uma casa muito especial, lá num monte...Exposta ao sol e à luz , uma casinha comprida colada ao chão, rodeada de flores, animais, deixando no ar, uma música de Mozart, exactamente árias da Flauta Mágica. Um lago artificial dava a sensação de um oásis.
Um fontanário público, ali mesmo pertinho à beira do caminho, com gente enchendo garrafões de água fresca, num Alentejo seco e árido por vezes mesmo neste começo de Primavera, fez-nos parar também a nós que íamos sem pressas e precisávamos fazer uma pausa. Foi então que uma das colegas deixou sair um comentário acerca da casa ali mesmo próxima.
-Olhem que casa tão simpática, aquela ali rodeada de flores?

Uma das senhoras que enchia o garrafão, como as gentes portuguesas comunicam facilmente, ao ouvir falar da vizinha, disse com sotaque alentejano:
- As senhoras gostam esta casinha? É da Dr.ª Zélia, uma professora de inglês aqui muito conhecida e estimada.Casou há ainda poucos anos com um senhor lá da estranja. Parece que é da Suiça ou da Suécia. Ouvi estar a dizer há dias, que eles recolhem animais abandonados e os tratam com todos os cuidados.
Têm lá para trás um grande terreno onde cuidam dos burrinhos que o pessoal abandonava na serra, atados a uma árvore para assim morrerem. Então eles vão lá buscar os bichinhos que aqui são tratados com todos os cuidados até ao fim dos seus dias. E ainda empregam lá na “Quinta da Esperança” algumas pessoas aqui da terra.
- Maria, mas a minha filha também foi aluna da Professora Zélia. Um dia destes falou nela lá em casa e disse que o marido escrevia lindos livros!
É gente muito boa para toda a vizinhança.
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Quem é feliz não tem dificuldade em amar toda a gente e ser boa para todos.
Zélia e Biorn são o exemplo de que ainda existe uma réstia de luz, uma esperança de encontro para quem procura o seu amor.
Vale a pena insistir e ter e a certeza de que mesmo quando difícil, é sempre motivo para crescer, quando cruzamos com alguém. Ninguém se encontra por acaso.
Já encontrou o seu verdadeiro amor? De que é que está à espera?
Ele também anda à sua procura.
Celebre o encontro!

Lucinda Ferreira
7 feverero 2007