ARA, a eleita (2)
"Trago em mim o germe, o início, a possibilidade para todas
as capacidades e confirmações do mundo."
Os Buddenbrooks
Mann , Thomas
Ara ,
a jovem menina que nasceu entre os pássaros, embalada pela brisa fresca e morna
da ramaria das árvores verdes. Protetoras. Amigas.
Ara,
que cresceu bebendo água na fonte pura que se lhe oferecia cantando...
Ara
que correu, livre ao vento, brincando às escondidas, com o sol brilhante
sorrindo nas clareiras, aprendeu a agradecer.
A ser sem mácula entre os seus iguais.
A não
esconder a mágoa porque nunca a sentira.
A não
conhecer inveja, porque não nem sabia o que isso era.
Pensar
mal? Mas o que era o mal para Ara?
Ara
aprendeu a sorrir naturalmente, sem porquê.
Aprendeu
a agradecer, porque sentia que tudo eram dádivas.
Aprendeu
a orar. Louvar. À bendizer o Grande Espírito.
Era o gesto que todos os dias a rodeava na paz
do amanhecer.
Do
anoitecer e até em outras ocasiões ao longo do dia.
Todos
agradeciam tudo ao Grande Espírito.
Carregava
ao colo e aos ombros, os mais pequeninos, como também os outros já o tinham
feito a ela mesma. Não sentia o peso. Amava-os.
Entoava
canções inventadas que se perdiam na floresta sem fim.
Seu
irmão, Zeu, era o companheiro das aventuras mais arriscadas.
Subiam
as árvores altas para colher os frutos para os mais novos ou para os mais
velhos.
Curavam
os animais doentes que encontravam gemendo na floresta.
Imitavam
os sons da Natureza. Dançavam alegremente. Aprenderam as tarefas do dia-a-dia que
eram repartidas por todos.
Ara
era esbelta. As suas formas de mulher arredondavam-se. Crescia graciosa. A sua
pele morena. Brilhante. Cabelos soltos. Compridos. Ondulando ao vento. Saudável.
Apetecível. Sem um pingo de gordura a mais no seu corpo virgem.
Nunca comeu
senão o necessário. Nunca soube o que era comer por compulsão. Por se sentir rejeitada.
Infeliz. Nunca provou sequer um alimento processado.
Meu Deus,
o que seria isso?
Falta
de exercício, por estar anestesiada com televisões ou máquinas cheias de
violência, nunca acontecera.
Um
dia, a vida do grupo fora alterada por um acontecimento marcante…
A
tribo vizinha viera com presentes e uma embaixada para escolher noiva para o
jovem chefe da Tribo que atingira a idade de substituir o velho chefe. Cansado.
Agora apenas com funções de cuidar da saúde de todos com seus sábios conselhos
e largos e acumulados saberes.
Ara foi por maioria, a eleita para tal missão.
Ocorre-me algo que dissera Fernando Pessoa.
“ Há um tempo em que é
preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos
fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Ora com Ara foi o que aconteceu.
O tempo não pára.
Ara crescera. Algo de
novo a esperava.
A ela caberá na nova família, gerir tudo o que diz respeito ao
mundo feminino local.
O pedido
foi feito. A promessa selada com um alegre banquete que demorou uma semana. Festas.
Danças. Troca de prendas. Muita alegria.
Ara está agora ainda mais linda com grinalda
de flores no cabelo. Vestida de eras. Fora a eleita.
É a partir de agora, a prometida.
Zeu,
o seu irmão entra na promessa, como o guardião. O símbolo da palavra dada.
Entretanto
Ara vai ser iniciada em mil afazeres diferentes. Tarefas novas. Responsabilidades.
No
dia da “entrega”, Ara irá com novos saberes. Habilidades. Possibilidade de
ajuda para outras mulheres mais jovens.
Ara
ao cruzar pela primeira vez o seu olhar doce. Puro. Ingénuo, com o do seu
Príncipe, fica alegre. Encantada.
Lau é
forte. Sorridente. Gentil. Seguro. Atento. Cortês.
Ara
sabia que um dia, aquela vida despreocupada com seu irmão ZEU, na floresta em
longas e ingénuas brincadeiras, ia acabar.
Mas também sabia, daquele saber intuitivo que não engana, que a fase
seguinte ainda seria melhor. Sempre melhor e melhor!
Mudanças. Projectos
causam espanto no coração de Ara.
Em cada coisa nova que aprende,
coloca um pouco do seu coração.
Lau, o jovem que a acompanhará até um deles partir, é elegante. Afável, prometendo dias cheios de
beleza e encantos desconhecidos. Descobertas a dois que jamais esquecerão.
Lau
também se orgulha da graciosidade e beleza da sua companheira eleita…
Não
duvida das suas possibilidades. Confia na escolha feita pelo Perfeito e Grande
Espirito que evocara e que se servirá da
escolha experiente feita pelos mais velhos.
Ara
sonha agora com novas aventuras.
Ser
mãe. Segurar nos braços um bocadinho de si mesma. Ensinar lhe tudo. Fazer dele
um Homem ou uma Mulher capaz de grandes feitos. Capazes de continuar a espalhar
alegria. Bondade no local onde estiver cada um deles.
Passar
o testemunho que lhe fora passado a ela,com a delicadeza e a naturalidade de
quem ama, como a Natureza que nada pede em troca.
Ama
porque ama. Não sabe. Nem pode fazer outra coisa.
Ara sabe de um saber inscrito na memória das suas
células ,que o Grande Espirito habita em nós.
Assim tudo está sempre no lugar onde deve estar.
Tudo se passa como tem de acontecer.
Os
frutos são a Paz . A Alegria e o Amor crescendo em nós e no mundo que nos
rodeia.
Tudo
em Todos!
Todos
em Tudo!
Ara e
Lau esperam com serenidade, mas também com uma pontinha de curiosidade anseiam
esse grande dia diferente de todos os outros que já viveram.
O “grande
encontro” quando será?
O
Chefe anunciará com fogueiras e sons diferentes, que Ara está pronta para o grande
dia!
Entretanto
no acompanhamento de Lau, tudo são preparativos. Novidades.
Aguarda-se a decisão dos maiores da Prometida…
Querida
ResponderEliminarTanto no primeiro texto contando a história de Ara, quanto nesse 2º, vê-se a leveza e os sentimentos puros de personagens que conservam tanto em seu habitat quanto em seu interior a beleza que tanto desejamos encontrar - o amor e o respeito a tudo e todos. Sentimentos esses que não gostaria de ver maculados, embora saiba que a continuidade da história pertence à autora e aos caminhos que ela imaginar.
Belíssimo texto! E bela iniciativa de ir dando continuidade...
Beijos
Estela
"A Alegria e o Amor crescendo em nós..". Que bom! A sua história é bonita. Agora é esperar pela continuação. Bom domingo!
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