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sábado, 6 de abril de 2013

A minha Flor


COLECCAO :    TEXTOs E PRETEXTOs

 

                                     A MINHA FLOR

 

Aquela flor caída da árvore, acolhi-a com fervor.

Enfeitava o chão.

 Abandonada. Pisada. A morrer.

 Ninguém lhe ligava.

 Ninguém dela  queria saber…

 

Agora é a minha flor!

Enche de cheiro a minha mão.

 

E como é bela!

Olho-a. Torno a olhar sem nunca me cansar.

A simetria. O feitio. O perfume. A cor.

Um rubro tão intenso. Parece o meu coração.

Será assim também o Amor ?

 

As suas irmãs viçosas. Formosas.

Continuam lá no alto. Será que alguém as olha, quando caídas no chão?

 As vê?

Elas não se importam. Perfumam. Embelezam. Nada pedem.

Sem porquê, é como elas são.

 

Olhais antes para as coisas construídas do que para aquelas que vos são oferecidas?

Mas elas lá estão lá. Para mim. Para Ti.

São o símbolo daquela suprema beleza escondida

de que é feita a própria vida!

 

 

BH , Janeiro  de 2013
lucinda ferreira

sábado, 9 de março de 2013

O SEGREDO DO SABIÁ


                O SEGREDO DO SABiÁ

 

Todos os dias o meu amigo  Noriak vai á chitaca para a sua horta ver.

Aconchegar as plantas. Vê-las crescer.

Quando abre uma flor, a sua alegria também cresce. Rejuvenesce…

Sabe que dentro de dias, se tornará fruto e…depois a flor morre. Fenece.

Leva comida para o cãozinho abandonado que todos os dias o vai esperar.

Conversam um com o outro. E naquele namoro que só eles entendem, os dois aprendem a amar.

A cão fiel aguarda com carinho, todos os dias, até o amigo chegar.

O amigo não prescinde de o ir ver. De com ele, em silêncio dialogar.

Segredos que alimentam seu viver…

São assim os dias sempre diferentes para quem ama. Pequeninas coisas…

A verdadeira simplicidade. Ou melhor, uma cumplicidade interior a dois que vai crescendo aos poucos. Depois…tornam-se únicos. Imprescindíveis. Insubstituíveis.

Os motivos de festa crescem neste espaço por magia.

Cria-se mais um laço em cada dia.

Agora é a vez do Sabiá.

Na alta árvore, a mangueira, o meu amigo vê um ninho!

Não é brincadeira. Tem mais um vizinho.

Começa então a descobrir na barroca, uma gorda minhoca.

E para quem será? Para a mamã Sabiá.

Depressa a linda ave percebe que não está só na sua tarefa.

Mal o seu amigo chega, ela corre depressa.

È mais uma bicada para os seus meninos .

Piam. Piam. Piam…Biquito aberto, os pequeninos.

E consolado, bem acompanhado com o cãozito correndo atrás a cauda a dançar, o meu amigo feliz, enquanto as plantas crescem, as flores desabrocham, os frutos amadurecem, vai cuidadoso dar o pequeno almoço ao Sabiá…

 

 
 
O amor é tanto àquele pedaço de terra que quer ir morar lá!

E para vos dizer a verdade, qualquer dia eu  fujo e vou dar papinha ao Sabiá.

Só tenho pena de não ser já!

         Para Marisa e Noriak com amor…….9.março 13

 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

No Cemiterio


Colecção : Textos e pretextos

                  No Cemitério                                      

Há gente que vai ao cemitério em busca de refrigério.

Pura ilusão.

Aquele ser querido que ali depositámos. Já lá não está.

Habita outra região.

Sim . O corpo é pó. Desfaz-se. Desaparece.

A alma. O espírito, esse não.

Vendo uma senhora chorar desesperada. Sentidamente.

Aproximei-me.
Perguntei : - por que chora tanto, minha amiga? Fale-me. Diga.

- Morreu meu marido…

 - E ele era bom? Era seu amigo?

-Muito! Era amigo de toda a gente.

- Que bom. Não pode ficar indiferente.

Mas antes de tudo, agradeça..

 Tem que tirar isso da cabeça.

Isso é o que mais ajuda uma viúva, irmã.

-Acredita em Deus?

-Muito!

-Querida, aprendemos que a dor é  normal. É mais fácil aceitar, senão a nossa fé é vã.

Falar com ele. Orar… Vai ajudar.

-É verdade, mas quando venho ao cemitério fico pior.

-Se ele era seu amigo não a quer triste. Não vir será melhor.

Tudo que nasce morre. A senhora e eu também…

- Minha amiga, tem razão. Vivemos todos em ilusão.

- Há uma certeza: o espírito não acaba. Encontrar-nos-emos no Além!

Cremos na Ressurreição.

Um dia a saudade, tornar-se-á eternidade.

A tristeza deste dia, vestir-se-á de luz. Paz e Alegria!

 E a senhora afastou-se naquela manhã fria.

No seu rosto em lágrimas, agora um raio de esperança brilhava.

 O dia crescia lentamente...

 A vida tímida e escorregadia simplesmente  avançava.
 Não parava.
Indiferente a tudo e a todos, não querendo saber de nada.
 
                                                            23.2.13 ...LUCINDA FERREIRA
 

 

 

 

 

 

 

sábado, 9 de fevereiro de 2013


Colecção :                      Textos e pretextos.

 

                                          O NEGRINHO

O NEGRINHO que mora na Favela desce todos os dias até ao jar-

dim.

Fica longe das pessoas. Olhando. Cantando. Sempre no plano sobranceiro.

É pobre. Envergonhado. Negro e…sem dinheiro.

Traz o cãozinho seu amigo .Brinca com ele . Fala alto.

 Está sempre sózinho….

 

Em baixo, os casais , as amigas, os mais velhos, as mocinhas, as “donas” com os cachorrinhos, caminham apressados na sua marcha matinal. Habitual.

 

E o Negrinho continua a falar sozinho.

A brincar com o cãozinho que o ama sem reservas. De verdade.

 Na sua pureza animal. Isento de maldade...

 

E o pessoal indiferente continua a caminhar.

A conversar…

A ouvir música.

E o Negrinho a cantar.

 

Um mundo em compartimentos.

 

A vida lá por cima a observar.

A sorrir , umas vezes.

Outras, a chorar.

 

De repente, o caminhante pisa em falso. Tropeça. Cai no ca-minho!

Ligeiro desce a escada correndo. Apressado.

Vem o Negrinho.

(A arfar segue-o aflito o seu amigo, o cãozinho.)

 

Levanta de imediato o Senhor com carinho.

 Com todo o cuidado...

 

Não sei se o Senhor o olhou a direito.

Também não sei se agradeceu.

Continuou a caminhar. Devagar. A coxear.

 

Será que ficou magoado ou envergonhado?...

 

Fez-me pensar.

 

                          Praça Juscelino Kubitchek, BH, 12.1.13
lucinda ferreira

 

 

 

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Realidade e sonho...


REALIDADE E SONHO

São mais felizes aqueles que se equilibram nos desequilíbrios. Tropeçam, mas não caem, magoam-se mas não choram, batem-lhes mas não lhes dói. Gostam do que é simples, desvalorizam o negativo, facilitam o complicado, sorriem porque nada é razão para estar triste. Basta estar-se vivo para se ser feliz.

(Maria Vítor Campos, in O Cancro é uma Nova Oportunidade de Vida)

 

 

Chegou tímido e assustado o novo ano de 2013…

Num ou noutro ponto do globo, algo de difícil  foi preciso acolher . Suportar. Vencer com coragem.

Cheias. Secas. Inundações arrastando tudo. Semeando dor. Aflição

A Terra está doente. Triste. Magoada.

 A Casa do homem foi vandalizada. Ela fica zangada? Saturada? Doente?

 Arrasta tudo à sua frente.

E agora? ´

É tempo de incendiar mais florestas? Reflorestar as encostas escorregadias?

Abruptas. Que não mais conseguem segurar a água por falta do arvoredo?

 Semear mais ódio? Incentivar o que o homem tem de pior para remediar o muito que há a construir?

Será o tempo de cada um de nós acarinhar o nosso Planeta magoado? Maltrato?

A nossa “CASA” destroçada?

Para isso, só o alargar da consciência da responsabilidade de cada de um de nós.

 A certeza de que tudo que há a transformar tem que começar com urgência em  nós mesmos.

Aquele que mais acusa o outro é justamente aquele que mais tem a corrigir em si .

As dificuldades dos mais jovens num tempo de finais de guerra em que vivi e certamente muito dos meus leitores tão bem sabem, pelo que muito sofremos em privações e dificuldades sem alternativa tal como hoje, levou-nos (e leva-nos  mais suma vez),  a arrancar do nosso interior, forças que nem sabíamos que tínhamos e… que agora já vão diminuindo

 Dai saíram grandes homens e mulheres de têmpera!

Os nossos filhos nem lhes passa pela cabeça, o quanto lutámos. Nem conseguem imaginar. Nem querem sequer escutar!

Nós demos tudo o que pudemos e não pudemos…

Alguns aproveitaram. São cidadãos responsáveis.  Construtores de um mundo novo! Pais e mães dedicados.

Outros nem por isso…

Exigentes. Revoltados. Carentes de tudo. Tentam arrancar os olhos aos progenitores. Fazem greves. Tratam mal os idosos. Desrespeitam tudo e todos.

 São frágeis. Exigentes. Não assumem a realidade. Não se entregam à vida. Ao esforço. Falta-lhes generosidade, tão habituados foram só a receber.

Por vezes, nota-se até que os filhos que foram mais castigados, são hoje os mais gratos aos seus pais… Isto é importante para meditarmos.

 Os pais hoje quererão dar o que não tiveram materialmente, mas faltar-lhes-á tempo para amar presencialmente?

Hoje muitos jovens refugiam-se no álcool. Na droga. O roubo e sei lá que mais, em caso extremo.

Como semear a gratidão neste terreno tão hostil?

Como fazer nascer nesta geração, o gosto pela iniciativa?

 O prazer pela ajuda ao outro? O respeito pelos progenitores? A compaixão pelos mais carentes? A alegria pela construção em cooperação, abandonando a  competição feroz da Era de Peixes, já passada.

A falta de Deus na vida desta juventude sem ideal, é a causa deste descalabro sem respeito nem valores.

O sofrimento é a última chamada de atenção para a mudança, já que o homem só evolui pelo amor e pelo sofrimento!

A Beleza é ainda  um caminho de evolução para quem tem um pingo de sensibilidade.

Dostoievsky dizia que só a Beleza pode salvar o mundo!

Hoje, por exemplo para repousar um pouco a minha alma magoada, identifiquei, observei atentamente uma vintena de variedades, dos 15.000  HIBISCUS que o Criador nos oferece para regalo dos nossos olhos vermelhos  pela poluição.

Para repouso do nosso coração magoado.

Completando o seu amor sem limite, o nosso Deus Maior de um amor sem limites, pôs à nossa frente, um concerto simples que fez as nossas delícias:

dois coloridos passarinhos teimaram durante imenso tempo,  cantar a mais linda a canção, música das esferas que apaga a dor  e nos eleva até àquele mundo  secreto que nos enche de paz e harmonia!

Obrigada, Grande Arquitecto que deixaste a tua marca em nós, para nosso consolo pela Tua presença constante…

Só em Ti, conseguimos repousar!

linmare7@gmail.com

domingo, 23 de dezembro de 2012

Nua manha de domigo..num qualquer lugar do globo...


 
NUMA MANHÃ DE DOMINGO, NUM QUALQUER PONTO DO GLOBO… 

Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.Florbela Espanca

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.Platão 

O homem perdeu-se da sua parte essencial que deixou pelo caminho, sabe-se se lá por onde…

Trocou o melhor de si mesmo, aquilo que nunca morre, por ilusões. Banalidades. Coisa que os bichos corroem. Que o tempo desgasta e a terra come!

Como de costume passamos pelo jardim onde tudo é novo para mim.

Que vejo eu?

Árvores de porte respeitável. Outras mais franzinas erguem-se para um céu azul, onde  algumas nuvens correm sem descanso, formando figuras sempre novas. Diferentes. Curiosas, diria.

O rol dos sons é vulgar numa manha de domingo em que o culto ao Criador esquecido por tudo que nos  oferece, é substituído pelo culto do corpo, induzido por subtis ofertas, levadas pelo lucro.

Não me parece o mesmo conceito da busca da beleza que os gregos tanto trabalhavam , mas uma certa alucinação, por falta de sentido. Um vazio entediante. Corre-se sem se saber para que. Nem porquê. Será o valor da vida que está em causa?

Quando os jovens no auge do vigor, não sabem para onde vão por falta de ideal ,mal vão as coisas.

A nova marca de bebida talvez alucinante e nada saudável, atraindo  vulneráveis jovens, lança no ar decibéis desengonçados, matando a harmonia da Natureza suave  e doce em que a Musica da passarada tem como fundo o balouço do vento na ramaria, e agora se perde na confusão concertada.

Ás vezes, um dos muitos cãezinhos de lacinho e percing que passeia as donas no jardim, irrita-se e lança  a sua voz de protesto.

As donas mais liberais menos controladores deixam correr alegre o seu bichinho. Outras, como na vida, de rédea curta nem ali se libertam, nem libertam o pobre bichinho.

Uma mota ou um carro mais agressivo rasga o espaço sonoro da já barulheira que paira no ar para excitar a ginástica apressada da rapaziada que não pensa. Não sente. Não é…Apenas existe num corpo.

. Um pouco mais acima, jogam à bola, velhos e novos. Brancos e menos brancos. Calçados. Descalços. A algazarra anda no ar.

Se o inventário dos sons abafa o som do riacho, nascido na montanha que circunda lá no alto tocando o céu e que corre a medo entre hibiscos de cores e formas variadas., também pouco interessa.

 Nas pressas e na confusão, poucas pessoas se apercebem da água humilde que corre e canta sem parar para quem a quiser escutar…

Da cor, há que notar as flores que se escondem e rompem quer nas árvores mais altas, quer nos arbustos , quer nos canteiros ali a nossos pés.

Algumas são exóticas. Belíssimas .Formas e cores tão variadas que só um Artista especialíssimo, o Grande Arquitecto, conseguiria inventar para nos oferecer cheio de amor,  alheio à nossa indiferença. Aguarda sempre o despertar da nossa consciência, para nosso bem.

Nos canteiros crescem flores vulgares, variegado colorido,  que alegram os nosso olhos cansados do cimento. Do alcatrão.

O escasso verde que circunda a casinha dos passaritos, “Bem te vi” que farfalham  escondidos lá pelo meio das plantas , à procura de insectos , serve de tapete para estabelecer o meu equilíbrio electromagnético, com os devidos cuidados com os descuidos das “mãezinhas “ dos canis…

Ali mesmo ao meu lado, um barrigudito apanha banhos de sol , deitado sobre o banco do jardim.33º graus não são para desprezar…

Sentado no cepo, como “exercício” final de caminhada, lá vai uma água coco para refrescar.

E pronto. Deixo uma pequena pista que facilita a descoberta do jardim onde me encontro…

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Entro em casa.

Repouso o meu espírito na Serra do Curral, enquanto faço um colar com as flores  que apanhei sob as árvores odorosas que ladeiam a entrada.

Só colho uma flor se for para fazer alguém feliz. De resto prefiro que ela desabroche. Cresça. Se torne semente no seu tronco.

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Não acredite nada no que lhe disse.

 Foi apenas uma viagem à volta do meu quarto…

Repare bem que não é “AUTOUR DE MA CHAMBRE”…

                 23.12.12