Colecção : Textos e pretextos.
O NEGRINHO
O NEGRINHO que mora na Favela desce
todos os dias até ao jar-
dim.
Fica longe das pessoas. Olhando.
Cantando. Sempre no plano sobranceiro.
É pobre. Envergonhado. Negro e…sem
dinheiro.
Traz o cãozinho seu amigo .Brinca com
ele . Fala alto.
Está sempre sózinho….
Em baixo, os casais , as amigas, os
mais velhos, as mocinhas, as “donas” com os cachorrinhos,
caminham apressados na sua marcha matinal. Habitual.
E o Negrinho
continua a falar sozinho.
A
brincar com o cãozinho que o ama sem reservas. De verdade.
Na sua pureza animal. Isento de maldade...
E o
pessoal indiferente continua a caminhar.
A
conversar…
A
ouvir música.
E o Negrinho
a cantar.
Um mundo
em compartimentos.
A
vida lá por cima a observar.
A
sorrir , umas vezes.
Outras,
a chorar.
De
repente, o caminhante pisa em falso. Tropeça. Cai no ca-minho!
Ligeiro
desce a escada correndo. Apressado.
Vem
o Negrinho.
(A
arfar segue-o aflito o seu amigo, o cãozinho.)
Levanta
de imediato o Senhor com carinho.
Com todo o cuidado...
Não
sei se o Senhor o olhou a direito.
Também
não sei se agradeceu.
Continuou
a caminhar. Devagar. A coxear.
Será
que ficou magoado ou envergonhado?...
Fez-me
pensar.
Praça Juscelino
Kubitchek, BH, 12.1.13
Muito bonito e tocante a história deste Negrinho.
ResponderEliminarBom domingo