NUMA MANHÃ
DE DOMINGO, NUM QUALQUER PONTO DO GLOBO…
Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a
real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.Platão
O homem perdeu-se da sua parte essencial que deixou pelo caminho,
sabe-se se lá por onde…
Trocou o melhor de si mesmo, aquilo que nunca morre, por ilusões.
Banalidades. Coisa que os bichos corroem. Que o tempo desgasta e a terra come!
Como de costume passamos pelo jardim onde tudo é novo para
mim.
Que vejo eu?
Árvores de porte respeitável. Outras mais franzinas erguem-se
para um céu azul, onde algumas nuvens
correm sem descanso, formando figuras sempre novas. Diferentes. Curiosas,
diria.
O rol dos sons é vulgar numa manha de domingo em que o culto
ao Criador esquecido por tudo que nos oferece, é substituído pelo culto do corpo,
induzido por subtis ofertas, levadas pelo lucro.
Não me parece o mesmo conceito da busca da beleza que os
gregos tanto trabalhavam , mas uma certa alucinação, por falta de sentido. Um
vazio entediante. Corre-se sem se saber para que. Nem porquê. Será o valor da
vida que está em causa?
Quando os jovens no auge do vigor, não sabem para onde vão
por falta de ideal ,mal vão as coisas.
A nova marca de bebida talvez alucinante e nada saudável, atraindo
vulneráveis jovens, lança no ar decibéis
desengonçados, matando a harmonia da Natureza suave e doce em que a Musica da passarada tem como
fundo o balouço do vento na ramaria, e agora se perde na confusão concertada.
Ás vezes, um dos muitos cãezinhos de lacinho e percing que
passeia as donas no jardim, irrita-se e lança
a sua voz de protesto.
As donas mais liberais menos controladores deixam correr
alegre o seu bichinho. Outras, como na vida, de rédea curta nem ali se libertam,
nem libertam o pobre bichinho.
Uma mota ou um carro mais agressivo rasga o espaço sonoro da
já barulheira que paira no ar para excitar a ginástica apressada da rapaziada
que não pensa. Não sente. Não é…Apenas existe num corpo.
. Um pouco mais acima, jogam à bola, velhos e novos. Brancos
e menos brancos. Calçados. Descalços. A algazarra anda no ar.
Se o inventário dos sons abafa o som do riacho, nascido na montanha
que circunda lá no alto tocando o céu e que corre a medo entre hibiscos de cores
e formas variadas., também pouco interessa.
Nas pressas e na
confusão, poucas pessoas se apercebem da água humilde que corre e canta sem
parar para quem a quiser escutar…
Da cor, há que notar as flores que se escondem e rompem quer
nas árvores mais altas, quer nos arbustos , quer nos canteiros ali a nossos
pés.
Algumas são exóticas. Belíssimas .Formas e cores tão variadas
que só um Artista especialíssimo, o Grande Arquitecto, conseguiria inventar
para nos oferecer cheio de amor, alheio
à nossa indiferença. Aguarda sempre o despertar da nossa consciência, para
nosso bem.
Nos canteiros crescem flores vulgares, variegado colorido, que alegram os nosso olhos cansados do
cimento. Do alcatrão.
O escasso verde que circunda a casinha dos passaritos, “Bem
te vi” que farfalham escondidos lá pelo
meio das plantas , à procura de insectos , serve de tapete para estabelecer o
meu equilíbrio electromagnético, com os devidos cuidados com os descuidos das “mãezinhas
“ dos canis…
Ali mesmo ao meu lado, um barrigudito apanha banhos de sol ,
deitado sobre o banco do jardim.33º graus não são para desprezar…
Sentado no cepo, como “exercício” final de caminhada, lá vai
uma água coco para refrescar.
E pronto. Deixo uma pequena pista que facilita a descoberta
do jardim onde me encontro…
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Entro em casa.
Repouso o meu espírito na Serra do Curral, enquanto faço um
colar com as flores que apanhei sob as árvores
odorosas que ladeiam a entrada.
Só colho uma flor se for para fazer alguém feliz. De resto
prefiro que ela desabroche. Cresça. Se torne semente no seu tronco.
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Não acredite
nada no que lhe disse.
Foi apenas uma viagem à volta do meu quarto…
Repare bem
que não é “AUTOUR DE MA CHAMBRE”…
23.12.12
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