A
Palavra fala da abundância do coração!
Não
fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a
verdade….Jean Paul Sartre
A
Natureza espreguiça-se.
Prepara para um longo sono outonal e chuvoso, enquanto
o Sol vai passar férias a outras paragens, enchendo de luz e calor outros longínquos
irmãos.
Ainda
assim o meu Sol interior está vivo!
Hoje
é o dia da alegria. Estou viva. Posso respirar. Ver e sentir. Tenho Deus no meu
coração. Sou grata por tudo e por todos.
Parti
costelas há quase um mês. As dores são tão amigas que nunca me abandonam…
Estou
feliz e agradeço ao Criador. Sei que a minha vida Lhe foi entregue. Por isso tudo
o que me acontece traz em si um bem maior. E de facto assim é.
Cessaram
as correrias. A minha conversa com Ele é mais íntima e contínua em tudo que
faço e sinto.
Estou
muito só fisicamente, mas tenho paz. Posso pensar.
Não tenho podido sentar-me. Hoje
pude fazê-lo.
Saúdo
a todos que me lêem.
Aproveito
ainda para felicitar a directora deste Jornal, a Dra Zilda Monteiro, sempre
atarefada e aplicada a tudo que faz com entusiasmo e responsabilidade.
Tive
o grato prazer de a conhecer um dia quando veio a minha casa, entrevistar-me. De
resto era sempre pelo telefone que falávamos a correr.
Aquando
do encontro no Café de Santa Cruz que muito gostei, percebi mais uma vez como era
generosa e como a sua dedicação a levava a ir buscar os mais velhos para que o
encontro fosse perfeito. Atenta a tudo que promova e enriqueça as suas tarefas,
não se poupa a esforços.
O
que aconteceu naquele encontro foi lindo. É pena que não ocorram outras iniciativas
semelhantes. Reunirmos todos cujo elo “Despertar” nos diz alguma coisa é
gratificante.
Quem sabe isso poderia enriquecer o jornal e a quem a ele se entrega
apenas pelo prazer de comunicar, se houvesse mais diálogo entre todos?
É que estou de acordo com Alfred Montapert
quando diz: “Somos totalmente responsáveis pela qualidade da nossa vida e pelo
efeito exercido sobre os outros, construtivo ou destrutivo, quer pelo exemplo
quer pela influência directa das nossas palavras”.
Não
temos o direito, aberta a possibilidade de nos expressarmos, de semearmos desânimo.
Negatividade, tenha ela o “formato” que tiver.
…………………………………
Hoje
calmamente li o jornal. Um leque variado de assuntos para todos os gostos.
Cinco
longos artigos da autoria da Drª Zilda Monteiro enriquecem o semanário, levando-nos
a viajar pelas particularidades regionais. Pelas novidades. Acontecimentos e
figuras marcantes da cidade.
Visitei
ainda o Dr. Manuel Bontempo que prezo e admiro como pessoa e pela sua
fidelidade. Atenção ao mundo, numa produção fértil e diversa.
Li
com particular interesse as memórias carinhosas para com a sua terra e gentes,
do jornalista Sansão Coelho.
A repetida
nostalgia saudosa da professora. Pintora e amiga Alda Belo, condizente com a época
outonal, desencadeou em mim este desejo de gritar que nada nem ninguém nos pode
entristecer, quando o Sol Maior que nos ilumina é de dentro para fora!
Ninguém
se pode sentir, ao mesmo tempo, responsável e desprezado., dizia Antoine de Saint-Exupéry
e isso é verdade, minha amiga.
Nós
a apreciamos e lhe queremos todo o bem!
A
figura do amigo Aníbal Duarte de Almeida que nos deixou em 17 p.p., não se
apaga em nós! A sua marca particular em dedicação a esta cidade e as causas tão
válidas como as que abraçou, só morrerão em nós quando partirmos. Ainda assim o
seu perfume ficará no ar nas ruas e no coração dos que com ele privaram.
Quem
não conhece pessoas que ao verem alguém necessitado, mas com bens, se não faz de
imediato insubstituível, afastando quem lhe possa fazer sombra?
Claro, não por
amor ao outro, mas por interesse vergonhoso e oportunista no que aquele possui.
A
prova é que alguém pode está a morrer de abandono, mas se não tiver nada mais
vantajoso para deixar do que o serviço que se presta, nem que seja um simples copo
de água, surgem mil desculpas de imediato de indisponibilidade de ajuda.
Doenças pessoais. Afazeres urgentes. Dificuldades de toda a ordem e sei lá
que mais. Nem sequer há tempo para ouvir a queixa…
Egoísmo.
Ganância. Pura marca de soberba. Domínio. Posse, só isso empurra para a acção
tais pessoas.
No
fundo, digo como Fiodor Dostoievski
Todos
somos responsáveis de tudo, perante todos.
…………………………………
Ora
Aníbal Duarte de Almeida defendeu a causa dos que não tinham NADA!
Para
não deixar dúvidas a maldizentes, não foi só uma vez. Foi durante muitos anos.
Lembro-me de fazer animação na Casa dos Pobres do Pátio da Inquisição, há muitos
anos, e ele já por lá andava. Era muito cioso do que fazia e do seu papel…
Portanto
à sua memória, toda a nossa gratidão. Apreço e respeito.
“
Vinde benditos de meu Pai, pois tive fome e deste-me de comer. Tive frio e
deste-me de vestir…”
…
E hoje podíamos ainda dizer:
Era
velho. Abandonado. Doente. Sem Família. Sem abrigo…E tu amigo Aníbal, lutaste
por cada um deles fosse teu irmão e de cada um de nós.
Obrigada
a todos os “Anibeis” que semeiam a paz. O amor. A alegria. A solidariedade. A
palavra confortante. A gratidão. Que se esforçam na adversidade e na alegria, por
descobrir a beleza dos nenúfares que desabrocham no pântano, sem se fixarem no
lixo, tentando lavar o que outros sujam. Que se fixam apenas nas coisas boas
que a vida dá a todos e a cada um sem excepção e que só alguns aproveitam, ao pôr
de parte a vitimização. A choradeira. A maledicência sem nada construírem de
positivo. O hábito de serem o centro das atenções e do mundo.
Obrigada
a todos os que semeiam a esperança em tempos difíceis, construindo alternativas
solidárias, sem perder tempo na auto e hetero - destruição do meio ambiente em
que se movimentam.
Quem sabe se temos o direito de fazer isso, quando ainda
temos tanto, perante tantos que tudo sofrem em silêncio? (Não têm, nem nunca tiveram
(...) que comer. Casa. Saúde. Família. Nem amor de ninguém... E nunca se
queixam).
Quem
sou eu para julgar quem quer que seja?
A
verdade é que sou livre de analisar o que me apresentam.
Temos
todo o dever e a responsabilidade de não poluir o Planeta nem física. Nem
mental. Nem espiritualmente, sobretudo temos que trabalhar o nosso
aperfeiçoamento interior e a elevação da consciência, enquanto ainda temos
capacidade para isso!
Não será
que somos responsáveis por aquilo que fazemos, pelo que não
fazemos, e por aquilo que impedimos outros de fazerem com o nosso pessimismo e
má língua?
30.10.15
ResponderEliminarManuela Santos
Manuela Santos Sim, minha querida. Li o texto todo com muita atenção, quase de um fôlego. Tu escreves com imensa paixão. Sente-se a tua calma,a tua doçura, a tua beleza em cada palavra.
Tens toda a razão, minha querida. Estou de acordo com tudo o que dizes neste magnifico texto que adorei ler. Desejo que o sol continue a aquecer-te em todos os dias da tua vida por muitos anos, para que possas continuar a "despertar" a humanidade para um mundo melhor.
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