Sombras (COVÕES)
m foto Coimbra |
“A paixão de dominar é a mais terrível de todas
as doenças do espírito humano.”VOLTAIRE
huc |
Pairam sombras negras á nossa volta, em muitas áreas, que desgastam
profundamente os cidadãos.
Situações que nos conduzem ao caos.
Algumas imparáveis, pelo contexto geral. Outras, talvez
evitáveis.
Só sei que a dor. A revolta. A surpresa. A decadência e até, infelizmente,
algumas vezes, a arrogância, desleixo e outras posturas que se observam, fazem
sofrer os que sem voz, impotentes, tudo têm que suportar!
Que nunca se chegue à conclusão, de Agostinho da Silva:
“A política tem sido a arte de obter a paz por meio da injustiça.”
………………………………………………………………
Em 1964, fui trabalhar na secretaria dos Hospitais da Universidade
de Coimbra e continuar os meus estudos na Universidade.
Nos HUC, éramos uma grande Família, amigos e solidários.
Num espírito fraterno. Esforçados. Unidos, para servir o
melhor possível.
Posso testemunhar e todos que aí prestaram serviço, que assim
era!
O tempo foi avançando.
Segui por outros caminhos, mas a Saúde é necessária a todos.
A minha Mãe, aí foi seguida, por clínicos dedicados.
Recordo me que o Sr. Dr Rui Martins, nessa altura um jovem,
era o seu cardiologista, que sempre a acolheu, com saber. Atenção e carinho.
Meu Pai era seguido nos Covões, por um clínico cardiologista,
indiano,Sr Dr Taganini, ( se nao estou em erro) que lhe prestava todas as atenções e cuidados, transmitindo segurança,
num acolhimento dedicado. Respeitoso.
Por essa razão, aí também, um excelente médico em saber e
valor humano, o Sr. Dr Ubach Ferrão me ajudou, em cardiologia.
Aí também conheci, um jovem clínico, atento, de trato
delicado e suave, carinhoso, o Sr.Dr António
Queimadela Baptista. Marcava todos os que dele recebiam serviços e por isso lhe
estarei sempre grata.
E como estes médicos, a Srª Dr.ª Gabriela Figo, o Sr. Dr Moutinho, o Sr. Dr Eduardo Castro, a extremosa, atenta e
sabedora cardiologista, a Dr.ª Maria do Carmo Cachulo que me tem valido nas
aflições – urgências e consultas, e me devolve segurança, bem-estar,
compreensão, numa atmosfera calma de grande atenção e carinho, coisa que não
tem acontecido, quando tenho necessitado de ajuda noutros lados.
E por que razão então, eu e muitas outras pessoas, escolhem
ser atendidas no Hospital dos Covões?
È que não é o edifício ou outras aparências, que fazem um bom
hospital de qualidade, a favor dos doentes.
È muito mais subtil e profundo.
O espírito de serviço. O saber. O ambiente amistoso. A
qualidade humana contagiante entre todos os servidores, o acolhimento na
aflição, é que fazem toda a diferença!
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Um dia, foi construído um grande Hospital.
Os antigos trabalhadores dos Huc foram-se perdendo…
O antigo edifício era exíguo, para o atendimento a uma população
que se alargava.
Construiu-se um grande
Hospital. Mas perdeu se, o essencial: a alma deste antigo HOSPITAL!
Agora, paredes baixas. Corredores anónimos e cheios de dor, onde
só daí se entrar, perdidos, no desconforto íntimo, nos falta o ar.
Ambiente? Já não há!
Solidariedade entre os servidores, pelo que sabemos, também
não há.
Anda no ar, alguma arrogâncias dos saberes.
Do poder da vida
na mão do outro, que por vezes tudo sabe e nem ouve a opinião do paciente, por
isto, ou por aquilo, porque só tem 15 minutos para atender um doente numa
consulta (começa a contar, desde que chama o doente, mesmo que o paciente não
possa andar...) o mesmo para o doente seguinte, nesta corrida enervante.
Compaixão, também não a vi por lá…
Aliás, para ir àquele hospital, é preciso muita coragem e
muita saúde, senão não se resiste.
Filas intermináveis. Salas abafadas, onde não se pode respirar.
Por vezes, sem lugar para sentar. Sem lugar para se estacionar, para quem tem
dificuldade em se deslocar, sozinho, doente, idoso, sem meios para pagar sempre
um táxi…
Já aí me senti mal, mais do que uma vez.
A afluência é grande. As pessoas apressadas. Sentindo se
desprotegidas, perdidos na multidão. No fim de uma manhã inteira de espera
(alguns levantam se de madrugada, vindas de longe ou por dificuldades várias),
a impaciência e arrogância do pessoal. Pressas e indiferença, por vezes, doem
demais.
Não queremos lá voltar, com medos de tanta agressão e até
ralhos.
Isso aconteceu me … Caí. Tive que fazer um exame. Fiquei deitada
na maca. Estava aflita. Pedi ajuda que tardava e berros não faltaram…
Não queremos lá ir!
Um dia na urgência, esperei toda a noite!
Outra vez, na triagem, a senhora que me atendeu, mais parecia
um guarda da Gestapo.
Eu ia com taquicardia, etc.
Tive tanto medo dela que desisti
da consulta.
Vi-me embora. Morrer por morrer, mais valia morrer em paz, sem uma
tal agressividade e indiferença ao meu sofrimento.
Assim sendo, fui ao Hospital dos Covões!
Ai, desde o porteiro, pessoal de secretaria, auxiliares e médicos,
todo o pessoal dos serviços de exames complementares, me atenderam com
delicadeza, saber, atenção e carinho, o que na aflição, qualquer ser humano necessita.
Grata, não posso calar !
Por mais que uma vez, acabei por ir aquele Hospital dos
Covões, onde me senti acolhida e cuidada, com toda a atenção, coisa que não
posso dizer, que tenha acontecido antes, nos HUC, onde o medo nos adoece mais
do que os achaques, que aí nos conduzem!
Perante o meu testemunho e de muitos outros utentes, por que
razão teimam, em nos atirar a este sofrimento, ainda em juízo perfeito e mesmo
depois ?
1. Por que fechar um HOSPITAL de qualidade, que todos que dele beneficiam, testemunham
e preferem e têm direito, ao pagarem os seus impostos, sendo-lhes assim devidos
serviços de saúde??????
2. Se nos HUC, se desculpam, por tudo o que são dores e queixas de quem o
procura, dizendo que “aí vai ter tudo” e que fecharam outros hospitais e que não
têm capacidade para tanto?!
3. Por que é que o Hospital do Covões, que preferimos, pelo espírito que aí
se vive...Pela atitude e acolhimento e a qualidade de serviços, faz tanta
sombra?!
4. As despesas serão sempre as mesmas…
·
Como
compreender então, as sombras e ameaças
de extinção do Hospital, onde o Povo se
sente acolhido e bem tratado?
·
Será
que QUEM tem poder de decisão sobre esta matéria, quem foi eleito, em quem
confiamos, foi para SERVIR e ouvir a voz dos utentes e eleitores, ou foi para
quê?
·
Será
que todos nos esforçamos para o maior bem de todos?
·
Ficamos
atónitos! Não se percebe que forças querem silenciar. Fechar. Dominar, gente
amada. Boa. Dedicada, em missão, num espírito de serviço.
·
Será por serem diferentes perante o que se
sente e vive, quando somos obrigados a ir aonde não queremos, a um grande de
hospital, onde o sofrimento se mistura a todos os cansaços e se avoluma, cada
dia que passa?
·
Só
pensar que um dia, ai nos poderão conduzir, contra a nossa vontade, nos tiram o
sono e causa mal -estar!
Não percebemos, quando nos dizem que as estruturas dos HUC, estão
a abarrotar e teimam em querer acabar o com o amado Hospital dos Covões , em Coimbra, ao qual o Sr. Dr. Bissaya Barreto
deu carinho e visão alargada, num local e um tempo, em que a pessoa era tratada,
com respeito e atenção.
Não se percebe, por que não se há - de descongestionar o HUC!
Aproveitar o que de alta qualidade comprovada, serve a população
que prefere e escolhe um lugar onde é bem acolhida e bem tratada?!
Os clínicos que deram toda a sua vida, naquele hospital estão
em agonia, pois sempre serviram com dedicação no seu melhor, e agora vêem-se despejados,
sem saber a razão!
Os pacientes estão morrendo de desgosto, por terem de ser atirados para a confusão sem saber por
quê…
Esmagados, ao ver a sua saúde. Paz e bem-estar ficarem na mão
de quem nos obriga ao que não queremos.
Não haver liberdade de escolha, também espanta!
O que será que está por detrás de tudo isto!
Sacrificar o propósito,
o fim ideal, para que existe um Hospital - criar saúde e bem-estar para quem precisa- em nome de quê?
SOMBRAS?..Nada mais!
Por uma questão de justiça, ressalvo aqui, todos os Clínicos
e restante pessoal, que no meio de dificuldades, ainda conservam o amor, a
bondade, o respeito pelo sofrimento do próximo, esse ideal de bem servir, sem
ganância, nem arrogância, pois nos HUC, isso
também se descobre, de vez em quando!
A todos esses seres humanos de grande qualidade, a nossa gratidão. Consideração e alto apreço!
Pena é que ainda
seja uma minoria…
Lucinda Ferreira
Coimbra ,3 de Agosto de 2020
Hospital dos Covões em coimbra |
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