Textos e pretextos
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VIAGEM INTERIOR
Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito
conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem
desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto que as cheias as baixam para a
terra, sua mãe.
Escrever é um acto de amor. Exige silêncio,
Gosto de criar. Comunicar. Partilhar.
Algumas pessoas em sintonia, retribuem-me com a sua opinião
sobre o que lhes ofereço, o que muito agradeço.
Assim como o artista no palco não fala para as paredes, quem
escreve também não. Embora o impulso inicial possa ser o puro prazer de criar.
Vem de longe esta alegria do texto. Tinha dez anos quando
saiu o meu primeiro artigo na Comarca de Arganil.
Com 4 ou 5 anos, lembro me de fazer companhia a uma Tia Avó,
Maria do Espírito Santo, que criou meus Pais.
Foi “entrevada” – como dizia meu tio carinhosamente , sobre
a entrevadinha - durante 14 anos. Sempre na cama!
Eu ia para a cama para junto dela. Ela dava uns ais muito
fundos…Lembro-me.
Deitava-me do lado de dentro, já que a cama estava encostada
à parede.
Descobri um lápis ou inventei um (…) e enquanto fazia risquitos na parede, ia perguntando, vezes incontáveis:
Descobri um lápis ou inventei um (…) e enquanto fazia risquitos na parede, ia perguntando, vezes incontáveis:
- Madrinha, quando é
que eu vou para a Escola?
Um fascínio desconhecido e muito forte que ainda hoje guardo,
crescia cada vez mais dentro de mim.
Aprender todos os
dias algo diferente, dá-me imenso gosto.
Aprendo com tudo e com todos!
Agora com a net estou encantada…
Tenho o mundo num clic mesmo ali à mão.
Tenho o mundo num clic mesmo ali à mão.
O Senhor Frazoa do Liceu Passos Manuel em Lisboa ia passar
férias na Vendinha.
Um dia, achou graça à miúda e teve a ideia de me levar com
ele a sua casa. De mostrar uma cartilha de João de Deus.
Lembro me como se fosse hoje. Meus olhos devem ter brilhado como a estrela da manhã.
Eu morria por ter papel …Livros..Mas não tinha nada!
Tinha contudo, o canto dos pássaros. O ritmo da Primavera
explodindo dentro e fora do meu coração. Da minha alma pura de criança. Da
minha fome de saber, sem porquê.
O Senhor Frazoa começou a ensinar me .
Foi interessante. Numa semana, eu conhecia as letras e...Juntava-as e …
Foi interessante. Numa semana, eu conhecia as letras e...Juntava-as e …
Comecei a ler de repente!
Surpresa para ele. Alegria para mim.
Que descoberta mágica, Deus meu!
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Recordo-me que tudo era fácil. Intuitivo. Parecia que estava
a aprender coisas que já sabia, sem saber que sabia…
Dava-me uma alegria tão grande que só
queria estar a aprender…Aprender!
Para reforço do meu encantamento, o Senhor Frazoa dava-me um
tostão. Dois tostões e até cinco tostões! Uma fortuna.
Quando fui para a Escola era sempre melhor aluna, mas hélas!!!
Isso valia –me muita pancada dos colegas-
E… eu chorava. Não sabia o motivo por que me batiam, na minha ingenuidade de criança. Não era capaz de me defender. Algumas e alguns eram tão grandes…
E… eu chorava. Não sabia o motivo por que me batiam, na minha ingenuidade de criança. Não era capaz de me defender. Algumas e alguns eram tão grandes…
Ninguém ligava. Eram coisas (…) de miúdos.
Lembro-me que tinha muito medo daquela violência…
Para bem e para mal, a professora fazia- me ler os meus textos em voz alta. Enquanto os outros apanhavam reguadas com um sarrafo vermelho, eu levava um beijo.
Para bem e para mal, a professora fazia- me ler os meus textos em voz alta. Enquanto os outros apanhavam reguadas com um sarrafo vermelho, eu levava um beijo.
Isso era motivo de
muito ódio. Raiva contra mim.
Na catequese, o Senhor Padre Francisco da Mata Mourisca , hoje
Bispo em Angola, dizia:
-O Lucindita, és formidável!
E dava me um santinho. Eu escolhia sempre Nossa Senhora da
Conceição com os Anjinhos. Ainda hoje me acompanha…
Eu não queria que ele dissesse aquilo. Até muito tarde não
sabia a razão.
Ao longo da minha vida, que nada tinha a ver com competição com
os outros, mas comigo mesma. Com aquele desafio que me fazia viver aventuras
sempre novas . Conhecimento. Novidades. Vivia nas nuvens de felicidade.…Era um
impulso impossível de conter que me vinha da alma. Saber coisas novas sobre os astros. As pedras. A
composição da água. Fazer coisas lindas.
Mas…isso incomodava quem me rodeava no trabalho.
Na família mais tarde (…) e até noutros locais…
Na família mais tarde (…) e até noutros locais…
Levei muita pancada. Alguma real. Outra sob a forma de
calúnia. Violência. Traição. Ciúme. Inveja feroz. Falsos testemunhos. Tudo!
Nessa altura, lembrei-me da minha infância …
Do quanto sofri sem saber a razão. Dos motivos das reações
das pessoas. Da crueldade de algumas crianças .E alguns adultos , na vida adulta. Não me matavam ,
porque...
Mas há muita forma de matar o outro…
Entendi também de como amor e dor só cada um de nós pode
viver em sua alma.
Percebi bem como se fica desprotegido quando se é frágil,
perante certas criaturas…Circunstâncias.
Ligada à Fonte, vai-se fazendo luz. Compreende-se. Sente-se…Tudo
como se estivéssemos naquele tempo atrás ou mesmo hoje.
Mas…Não vale a pena, Amigos.
Todos têm seus dons.
Todos têm seus dons.
Gratidão. Solidão.
Perdão…
São palavras que rimam e são a verdade - chave da minha vida
que amo e agradeço todos os dias ao Criador.
11 Outubro 2014-Lucinda ferreira
Gostei muito de ler o seu texto, as suas lembranças..
ResponderEliminarBom domingo.
Bela Martins
ResponderEliminar11/10 (há 2 dias)
para mim
Minha querida Lucinda
Seus textos sempe lindos, obrigada pela sua partilha.
Tenha um santo domingo Deus consigo
Bj
Quão belas lembranças, minha querida! É como você disse: "Ligada à Fonte, vai-se fazendo luz. Compreende-se. Sente-se…Tudo como se estivéssemos naquele tempo atrás ou mesmo hoje." E tudo aflora com muita emoção... Uma maravilha poder vivenciar tudo isso novamente!
ResponderEliminarMuitos beijos