Mistérios e segredos de Portugal
Eu sabia que ela era linda…
Há muitos anos que a visitei.
Já tinha saudades dela.
Mas muitas vezes , temos que viver apenas de saudade.
E hoje , falar dela , é tê-la tão presente, que parece que passeamos de braço dado.
Foram tantos os dias os meses que nos separaram , que quase já não a reconhecia.
Quando nos cruzámos, fiquei surpreendida por a ver tão crescida!
Confesso, que apenas nos olhámos de longe, porque estava imensa.
Ainda demos uma voltinha, à vol de oiseau, pela parte nova.
Reparámos que aí , ela estava bem sintonizada com a mudança. Com as necessidades de uma comunidade que preza o comércio, a cultura e os serviços em geral.
Fartas, cheirosas, coloridas e largas bancas de fruta, dão o tom .Falam da abundância e da oferta variada.
Há uma nota de progresso e novidade, trazida pelos muitos emigrantes , regressados que amam a sua Terra, e lhe dão agora o seu melhor em tudo, conforme aprenderam com gentes diferentes, quiçá, mais evoluídas…
Houve quem adiantasse, que ela não pára de crescer.
Ao longe, vista do ponto mais alto, reduzia-se a pontos brancos , luminosos, escondidos na verdura, alternando com manchas homogéneas de grandes complexos ligados á indústria de calçado, chocolates, cerâmica, fogo de artifício, linho, malas, luvas, motorizadas, máquinas industriais, olaria, papel, perfumes , sabão, refrigerantes, tecelagem, têxteis e televisores. .
Abrigando toda esta vida fervilhante, todo o progresso em movimento, amplos, solidários, escuros , fiéis e imutáveis , em cadeia, estendiam-se os montes graníticos, pesados e longínquos , mas sempre atentos.
Pouco tempo tive para escutar o pulsar do ritmo, em todas as suas diferentes partes, repleto de beleza e de mistérios
Deu apenas para entrar no seu coração. Talvez na sua cabeça, por ser o ponto mais alto, capaz de nos dar a síntese e a nota presente e imutável, na sua alma antiga e primeira.
Ainda assim, este Outono, morno, quente mesmo, cheio de luz e de convites para ficar mais tempo, deixou em nós, uma certa nostalgia, pela falta de disponibilidade para escutar e descobrir mais segredos.
Baixinho, lá no alto, entrei no Santuário.
Em silêncio…
Olhámos longamente nos olhos do tempo e da interioridade.
A nossa despedida desfez-se num sorriso, com promessa de voltar.
Estava linda vestida de verde. Já com uns salpicos de vermelho no seu vestido comprido, cobrindo parte do seu ser.
Sentinelas, gastas e cobertas daquele moreno que só o tempo sabe pintar, continuam firmes a falar da fé e do passado seguro, de muitas gerações sem dúvidas, nem guerras.
O velho elevedor, coberto de ferrugem, desfazia-se em lágrimas que escorriam do seu ventre e deslizavam dia e noite pela rampa quase a pic, que tantas vezes subira e descera. Agora é apenas a lembrança que nos oferece.
Quieto. Mudo. Abandonado.
Os jardins não são exuberantes. De longe em longe, aparece uma rosa ou uma outra flor, indiferente a tudo, que desabrocha e dá uma nota de beleza singular.
No ar, não anda um cheiro a incenso…
Apenas um homem sentado, olhava o sacrário.
Noutros, dos muitos templos que outrora foram ponte de encontro e alimento de uma fé singela e verdadeira de um Povo simples, ruidoso, bom e fiel, apenas, uma ou outra pessoa em oração e muitos visitantes.
À entrada do grande santuário, guardado por dois Anjos, reparámos com pena, que alguém se sentiu incomodado por este testemunho dos tempos e teve que o destruir.
De qualquer modo, as duas grandes colunas ao cimo das escadas, na sua imponência, essas são tão altas que ninguém ainda ousou beliscá-las.
O espaço, o silêncio, a luminosidade, foram um presente maravilhoso para a nossa alma cansada, no ponto mais alto da nossa visita.
No fim, ficou-nos aquele sabor doce-amargo, de quem visita de relance, uma local convidativo a vivências, que confortam e são âncora, muito para além das palavras.
Enfim, foi um encontro de almas, na sua parte mais altaneira.
Sim !
Todas as cidades têm uma alma.
Esta senhora-cidade, rica, já de alguma idade, continua morena, elegante, mas acompanhando a grandeza da sua situação…
Embora nos fiquemos mais pelos afectos, referimos ainda que no seu ventre, se escondem muitas riquezas…Caulino. Volfrâmio. Quartzo. Feldspato. Estanho. Glucínio. Grafite. Arsénio , acrescentando ainda águas mineromedicinais.
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Mas tivemos que partir. Trouxemos escondido muito do que ela nos ofereceu e que cada um colheu, conforme a sua medida particular.
Para nós, foi um encontro profundo e atento ao seu coração.
Registámos com admiração pelos seus 124.8000 habitantes (1981…),o seu crescimento, espalhado pelas pelas faldas das montanhas circundantes, abertas e generosas…
Surpreendeu-me ver, como tinha crescido a arquidiocese e capital de distrito, desta província do Minho…
A sua antiguidade romana e sueva, a destacada Bracara, capital da província da Galécia, no tempo do imperador Caracala , ano 216, palco de sucessivas invasões e mudanças, lá está continuando rumo ao futuro, cada vez mais promissor.
Foi agradável sentir , como a modernidade, se aconchega à sombra da sua parte mais alta, que marca o espírito desta cidade do Norte de Portugal - BRAGA!
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