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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ora ca estou eu de novo para abrir a minha alma...



VAI UMA CEREJA?

“Acima de tudo, isto: sê verdadeiro em relação ao teu próprio eu.
E, tão certo como a noite seguir o dia, nunca poderás ser falso com ninguém.
William Shakespeare


Em 1982, trabalhava eu no Ministério da Educação, como professora destacada.
Éramos uma equipa que dinamizava um Projecto de Formação Contínua para professores, a nível da zona Centro, em articulação com as autarquias e outras estruturas locais.
Entre muitas outras orientações, tínhamos também um programa “Masculino-Feminino”, que preocupava entre outras ajudas, com a mudança de atitude perante a Mulher, a partir da organização dos Manuais Escolares.
E estava certo. Era bem urgente tal trabalho. Uma mudança leva anos e anos a tomar forma, a ser realidade na prática, na vida real.
E “como de pequenino é que torce o pepino”, a escola, depois da família, tem um papel fundamental na educação dos cidadãos.
(Até há Estados que fingem que dão muita importância à educação, mas ela é vazia de conteúdo e valores –“ ultrapassados” – dizem ????!!!!!!!!!- afirmam na sua modernidade, palavrosa e balofa .
“Patetas alegres” convencidos que são muito cultos , porque têm muitos diplomas, vazios dos tais valores, até são mais fáceis de manobrar…ou melhor, estão todos no mesmo barco…)
Mas voltando ao modo como a Mulher é tratada e vista entre nós, não nos podemos esquecer , dos resquícios da Cultura Árabe, desde o século VIII , por estes lados…
E são muitos os aspectos em que isso se verifica (…). Aliás foram muitos anos de presença Árabe em Portugal e a proximidade com o mundo Árabe, também é um facto.
È certo que todas as culturas são específicas e particulares e contém todas elas, coisas positivas e outras menos positivas.
Ora a Mulher árabe tem um longo caminho a percorrer na sua afirmação, na defesa dos seus direitos. E não sei se alguma vez o vai conseguir, na medida em que isso joga e se intrinca com outros realidades tão sérias e antigas, na sua civilização, que fica duro sair do fundo do poço!
Ora entre nós, o caminho tem sido árduo também. Muito há ainda a percorrer.
Lembro-me , quando dava aulas, de um rapazinho que não tinha livro para seguir os trabalhos.
Chamei-o. Convidei-o a sentar-se junto de uma menina.
Foi buscar o seu grande malote.
Chegou à carteira da colega e sem maneiras, bruscamente, atirou com a saca para cima da mesa, e com voz alta, grossa e autoritária, disse, ali mesmo à minha frente:
- “Chê pra lá!”
Ao ouvir aquilo, disse-lhe com voz delicada e firme:
- X, por favor, volta para o teu lugar.
Depois, vens. Pousas as tuas coisinhas com jeito e perguntas à tua colega que não se esqueceu de trazer o livro, e te faz o favor de te deixar seguir por ele também:
- W, dás-me licença que me sente e veja pelo teu livro?
A menina coitada, também nem estava habituada a ser bem tratada… Talvez os seus modelos familiares fossem semelhantes aos daquele menino. Até se sentiu constrangida e pouco à vontade, com a delicadeza proposta.
O rapazinho, cujos modelos de convívio, incluindo os familiares me pareciam bruscos, grosseiros e semelhantes, olhou-me de boca aberta, como se o que estava a ouvir, da minha boca, lhe parecesse uma heresia ou uma coisa do outro mundo, ousada e nova…Quem sabe até , exactamente o contrário daquilo que o seu progenitor lhe recomendaria para o tornar temido e um grande homem do amanhã…Isto, quer por palavras , quer pelo exemplo.
Mas na Escola, assim aos poucos, com jeitinho, os costumes e as maneiras se iam adoçando.
A verdade é que a Família é que é a verdadeira escola com uma força imensa. Incalculável.
Não é só o que se diz aos filhos. É o que eles vêem quando estamos distraídos que os vai influenciar. Tudo muito subliminar mesmo.
Por isso a educação de um filho, começa 20 anos antes, pela educação dos seus progenitores…
Mas voltemos mais uma vez à Mulher…
Escolhi vir à Figueira da Foz de comboio, apesar dos receios dos trans- portes públicos, pelos “ vírus” que andam no ar...segundo estão sempre a assustar-nos.
Apreciei o nosso Povo.
Eufórico. Barulhento. Falando bem alto em Português “vernáculo”, asneirento mesmo.
Jovens que quase se comiam vivos, entrelaçados até aos ossos , sem cerimónia , no meio do pessoal…
Mas o mais interessante, foi a descoberta de um cartaz, com um busto bem escuro, representação da figura antiga da República, com a seguinte inscrição:
As mulheres fazem a democracia melhor. A diferença faz a igualdade.”

Achei interessante esta conversa.
Pena era que o cartaz estava quase escondido, a medo, ao lado da cabine do maquinista, onde poucas pessoas passavam (…)
De qualquer modo estava lá e tal como eu o li, algumas outras pessoas o poderão ter lido.
Não precisa a Mulher de andar com cartazes para exigir os seus direitos.
Afinal os seus deveres são tantos, que ela está sempre presente!
Também não é na competição que reside a sua luta, a sua força, mas na complementaridade, sem dúvida.
O respeito, a ajuda, o carinho que merece da parte do homem, só o dignificam a ele!
Se Homem e Mulher se puderem entender, complementar, fazer uma caminhada de uma vida lado a lado, encantados da vida. Maravilhoso. Quem é que não deseja isso mesmo?
Quando isso não dá, não é preciso passar o resto da vida, como objectivo central, obsessivo, a tentar destruir o outro. A difamá-lo!
É uma fixação doentia, mafiosa, com golpes baixos, numa guerra fria permanente, que o parceiro nem sequer imagina. Apenas quando o eco lhes chega , se apercebe.
È certo que o ódio é a face oculta, o oposto do amor. Mas neste caso, leva a semente venenosa da destruição maldosa e da guerra.
Triste realidade.
A vida é tão curta , para quê regredir em vez de se aproveitar o tempo de passagem, para CONSTRUIR?
A Mulher é um ser divino. Só ela pode dar a vida a um Homem!
A Mulher está sempre presente na vida de todos nós.
E vá lá , Mulherzinhas, não sejam tão más -inveja, má língua, queixinhas , dizem as brasileiras, que a Mulher Portuguesa é mesmo assim.
Seremos ?
Façamos mais um esforço à altura da nossa missão: Amar!
O Amor tem muitos rostos.
E agora termino, como quando era miúda, nas redacções da Escola.
Depois de um vida de lutas, canseiras, amores e desamores, esforço, muito trabalho, ainda afirmo convicta:
EU GOSTO MUITO DE SER MUlHER!
Tenho a certeza que Deus vive no meu coração de Mãe!
E sei , tal como disse Eleanor Roosevelt :
Ninguém me poderá fazer sentir inferior , sem o meu consentimento.”


linmare@edicomail.com




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