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sábado, 12 de julho de 2014

O NEGRINHO

Colecção :  TEXTOS e PRETEXTOS.

                                          O NEGRINHO

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                                      O NEGRINHO que mora na Favela desce todos os dias até ao jardim.

Fica longe das pessoas. Olhando. Cantando. Sempre no plano sobranceiro.
É pobre. Envergonhado. Negro e…sem dinheiro.
Traz o cãozinho seu amigo.Brinca com ele. Fala alto.
Está sempre sózinho….

Em baixo, os casais , as amigas, os mais velhos, as mocinhas, as “donas” com os cachorrinhos, caminham apressados na sua marcha matinal. Habitual.

E o Negrinho continua a falar sozinho.
A brincar com o cãozinho que o ama sem reservas. De verdade.
 Na sua pureza animal. Isento de maldade...

E o pessoal indiferente continua a caminhar.
A conversar…
A ouvir música.
E o Negrinho a cantar.

Um mundo em compartimentos.

A vida lá por cima a observar.
A sorrir , umas vezes.
Outras, a chorar.

De repente, o caminhante pisa em falso. Tropeça. Cai no caminho!
Ligeiro desce a escada correndo. Apressado.
Vem o Negrinho.
(A arfar segue-o aflito o seu amigo, o cãozinho.)

Levanta de imediato o Senhor com carinho.
Com todo o cuidado...

Não sei se o Senhor o olhou a direito.
Também não sei se agradeceu.
Continuou a caminhar. Devagar. A coxear.

Será que ficou magoado ou envergonhado?...

Fez-me pensar.

                          Praça Juscelino Kubitchek, BH, 12.1.13
                                                                 Lucinda Ferrreira



 NOTA - 
CHAMO A ESTA COLECÇAO DE TEXTOS CURTINHOS : TEXTOS E PRETEXTOS.
ESCREVO COMO QUEM RESPIRA...E PARTILHO...TEXTOS...PRETEXTOS...SÓ iSSO...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Procuro-te...

Procuro –te...


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Procuro-te…  

Pálido anoitecer

Pássaro do bosque

Sinfonia nos canaviais

Atrevido. Sedutor, Lírio roxo

Trepadeiras beijam a janela

Rumor dos pinhais

Tudo é azul.

Procuro-te …

No veludo do pêssego

Cheiro rosa das amendoeiras

Sabor de uva doirada.

Ternura do olhar de gata

Alegria do cão ao ver-me chegar.

Candura de criança

Suave lembrança ao acordar

Sombra. Árvore.Música. Mesa.Cadeira.Viagem.Livro!

Ler. Pintar. Criar.

Procuro-te...

Carícia da terra.






Como viver sem bem-querer?

 E tudo Amar?!

Beijo-te os pés, Amor Maior

Diluido no cravo.Dália. Jasmim

Alfa. Omega.

Mãos de mãe urdidas de cetim.

10.7.14
Lucinda ferreira


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Chicago

Chicago 
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Provocas-me demais!

Arrasta- me a Chicago...Nova Orleans. 
Brooklyn

Ritmo frenético.Desengonçado.

Improvisado.

Ora negligé

 Ora arrebatado

Aplausos pelo meio

Sem regra.Grito interior.

Consonância.

Teclas de piano soam fortes

O sax ouro. Metálico.

Dá gritinhos agudos.

A voz rouca de um outro Amstrong

Toca as fibras mais íntimas

Ossos estremecem

Rostos negros brilham
Na noite

Tudo vibra em uníssono

As paredes tremem.Pulsam. Transpiram

Palmas cortam a festa que avança

O saxofone agora é suave

Dilui-se por dentro

A mínima distracção

Nuvens de requebro ao máximo

A música avança

Adolphe Sax no ápice

Da Construção. Recordação.

Êxtase inominável

Quando voltam embriagados

O Sax morre nos últimos acordes

Medida do sentir exacto

De cada um de nós.

Tão alto e tão longe

Jazz, eu te amo!
9.Julho 14
Lucinda Ferreira

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Aquele pássaro de fogo fugiu.me do peito!


 VIAGEM 
imgs net 


Aquele pássaro de fogo fugiu-me do peito

Voou até às sinapses NEURONAIS

Sintonia da alma

Bondinho do Pão de Açúcar

Sobrevoando Hong Kong

Park em Nova Iorque

Interior da Amazónia húmida

Verde. Escura. Labiríntica.

Fundo do mar em Barbados

Jardim. Cabelos despenteados de algas

Àrvores e montes…

Penumbra.Mundos submersos

Lentamente furando

Cardumes de mil cores.Formas.

Organização perfeita.Gratidão e espanto.

Aqui, a dança da baleia.Repucho azul.

Ali, o Golfinho assobia e clica.Segue-nos…

Na arca sagrada do andado. Sentido

Quantas lembranças restam…

Na manhã que morria, enquanto varria

Paganini tocou na corda sem nome

Que dói de prazer.

Etérea. Eterna. Fluida. Orgasmo. Fantasia.

Ser tudo e nada.

Alquimia sacra.Mistério.


Sangue corre em minhas veias

Coração bate

 Acordo!

Viagens. Outros espaços. Ideias.

Carnaval em Trinitá

Disfarces vários. Exotismo.

Cavalaria policial.

Negros nus enlameados.

Antigos escravos.

Alcool. Barulho infernal

Europeus embriagados.

Garrafas partidas.Confusão.

Miséria.

E… muitas coisas feias…

Feitas lixo espalhadas pelo chão.
7.7.14
Lucinda Ferreira


 


sábado, 5 de julho de 2014

Túmulo dourado

 Túmulo dourado

Imgs da net 


 Se te disser: não te amo, minto.

Se te disser: estou sempre apaixonada por ti

Não diria a verdade

Ou talvez sim

No mais recôndito de meu ser.

Há momentos em que emigro de mim 
mesma.

Deixo de ser grata

Tanto que já me deste

E continuas a dar…

Quando já não estiver aqui

As rosas perfumarão ainda

O espaço em que nos amámos

As beijei, comovida.

As nuvens continuarão a passar

Histórias mil

Amei decifrar

O Sol. As Estrelas. O mar. Os campos.

 Os rios a correr…

Só a brisa não cobrirá meu rosto de ternura

Meus olhos

Deixarão de sorrir. De brilhar

Dissolvida no tempo

Um túmulo dourado de silêncio

Vai - me acolher.

5 Julho 14… Lucinda Ferreira





quinta-feira, 26 de junho de 2014

Princess Danae

Princess Danae

Imagem  net

                            Pélago imenso

Lençol de silêncio e gaivotas dormindo

Noite fugidia.Embuçada

O Princess Danae

Prenhe de aventuras

Rasga a noite desventrada

Pássaro azul

Mãos cintilantes. Taciturnas.

Sob o amplo céu

Avançava…

 Abre círculos de espuma

Lábios que se beijam

 Manto de estrelas cintilantes

No alto do Navio

Wisque. Vodka. Tripulantes.

A brisa afeita.Doce. Curiosa.

No convés superior

Carícia

Escuta sorrindo

Os amantes…

E as suas juras de amor.
Lucinda Ferreira… 26.6.14
  


 Este é mesmo o Navio Princess Danae...

SAUDADE

SAUDADE
img net - Deusa da Morte...



Partiste!

     Beijo as flores

                                 Rasto do teu sabor                                                             
Sorvo o nectar da beleza

Gota a gota

Furtivo. Gume da vida

Secreta ternura aflora

Em teus lábios de cera desfeitos

Voo de aroma em aroma

Seiva. Sangue.Suor

Espuma diáfana

Folha a folha

Busco o teu rosto

Sombra. Luz e penumbra

Lilás saudade

Feita cinza e luar

Pedaços espalhados

Pelas ruas da cidade

Amada.Percorrida

Sol, jamais podes brilhar!

Lucinda Ferreira
26.6.14
(A Alguém que partiu em 9 Maio 1989)

"Morrer não é acabar, é a suprema manhã."Hugo , Victor