Textos e pretextos
GIGI, onde
te escondes?
"Quando a saudade é demais,
não cabe no peito: escorre pelos olhos.”(‘)
A casa da saudade
chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração. Coelho Neto
Devia ter os meus quinze anos, quando estudei a obra do
escritor francês, Alphonse Daudet. Ainda hoje a recordo com ternura e gratidão.
Les Lettres de Mon Moulin era um livrinho de contos que me enterneceu. Jamais irei esquecê-lo.Algumas
lições ajudaram-me na vida.
Um desses contos, La Chèvre de Monsieur Séguin, focava
o problema dos perigos da liberdade inconsequente.
M. Séguin tinha uma Cabrinha branca, Blanchette, que ele estimava
demais e de que muito gostava.
Um dia, Blanchette cansou-se
de ser mimada.Queria conhecer mundo!
Comunicou ao seu amigo que pretendia saltar. Ser livre na montanha ampla.Estava cansada daquela monotonia De tanta segurança…
Queria experimentar o sabor da liberdade.
M.Séguin vendo o perigo que corria a sua amada Blanchette, temendo
pela sua sorte, ficou triste.
Explicou-lhe que na montanha o lobo mau, se a avistasse, não
lhe perdoaria e …Iria comê-la.
A Cabrinha não quis ouvir tais conselhos.
Atraída pela larguesa dessa autonomia, inconsequente e louca,
insistiu na sua ideia.
Um dia, por entre lágrimas, M. Séguin viu afastar-se no
infinito, a sua tão querida Cabrinha branca.
E assim foi. Lá no alto da montanha verde, a Cabrinha branca
saltou.Pulou. Correu. Comeu ervinha
fresca.Beijou as flores que cresciam a medo na verdura.
À noite adormeceu cansada junto ao tronco de uma árvore.
E tudo corria bem…
Na terceira noite
porém, totalmente exposta. Desprotegida, Blanchette começou a ouvir o som
sinistro. A voz do Lobo Mau aproximava-se cada vez mais perto…
Morta de medo, recordou com gratidão as lágrimas de saudade
de M.Séguin, impotente perante a sua teimosia de partir.
Sentiu algum arrependimento. Teve desejo de regressar, mas
agora era tarde demais!
O Lobo foi-se aproximando. Já esfregava as mãos de contente.
- Bela ceia que hoje vou ter…HI..Hi..Hi..Hi..
E sem apelo deflagrou-lhe um duro.Golpe mortal no pescoço.Daí
para a frente, saciou a sua gula…
De Blanchette ficaram apenas, misturados no verde da relva, farrapinhos
brancos da sua alva pele ensanguentada. Rasgada pelo chão…
Era habitual, de longe, M. Séguin ir espreitar a “sua” Blanchette…
Naquele dia já não a avistou. Cheio de coragem, temendo o
pior, subiu mais alto na montanha, até que…Deparou com os restos da sua querida
cabrinha.
Chorou. Voltou para casa, recordando o quanto fora feliz ao
vê-la crescer…Ao usufruir da sua presença que agora era só uma recordação.
Estaria tudo bem, como a saudade de uma leitura que me
marcara, se não fosse o que hoje me aconteceu na realidade.
GIGI, o meu querido Gigi, o canário que um dia entrara na
minha varanda e que aprendi a amar, abandonou-me!
Não sabia eu, o que mais havia de lhe fazer.
Comprava-lhe barrinhas para ele ir picando. Tinha brinquedos para
ele conversar.
Tínhamos um diálogo
diário. Punha-lhe a banheirinha que tirava à noite.
Todos os dias à noite o cobria, porque sabia que gostava de
ficar escondido.
Mudava-lhe a água todos os dias.Limpava lhe a casinha. Mudava-o
para os sitios de que ele gostava e sobretudo conversávamos muito…
Hoje a sua casinha fora lavada. Ficara desligada a parte de
cima. Nem dei por ela. Ao mudá-lo, a porta aberta…
Gigi voou para o escuro da noite fria… Sem sequer se despedir.
Uma lágrima caiu do meu coração triste.
Mas há que trabalhar o desapego…
Nada nos pertence. Nem a vida. Nem os Filhos. Nem a família. Nem
a saúde. Nem os bens... NADA!
Tudo nos é emprestado. Por tudo temos que agradecer a todo o
momento.
Lembrei-me da lição da
Gratidão como uma forma de amor e…
Agradeci a Gigi toda a beleza. Sonho. Companhia.Magia que
semeou na minha vida, depois que um dia de sol, entrou pela minha janela…
Foi muito lindo tudo o que me ofereceu. Muito lhe agradeço.
Temo é que algum Lobo mau em forma de gatinho, o possa matar…
As
suas asas velozes e fortes, para onde o terão levado?
Ainda fui de novo à
varanda e com a mesma voz maviosa de sempre, ia dizendo e chorando:
- Gigi... Gigi...Gigi…
Mas o silêncio foi a única resposta.
Será que vai sobreviver agora ao frio e sem comida?
Quem me dera que voltasses, Gigi!
Como temos saudades tuas...
As nossas cumplicidades, Gigi...
As Gatas faziam te companhia ao teu lado, espreitando a réstea de sol de inverno, na tua janela...
O cão, Didu, ia a correr chamar-me quando te sentia em perigo...
Até parece mentira , a próxima manhã não me acordares com teu canto tão especial a que me habituaras nesta nossa relação amorosa...
Quem me dera que voltasses, Gigi!
Como tenho saudades tuas…
1 de Dezembro de 2012
Muito linda sua história Luci!!!! Q bom q Gigi voltou!!!!! Bjs
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